O Brasil perdeu a pole position para a Colômbia, mas está vencendo a corrida da quarta geração de serviços móveis entre os países da América Latina e Caribe. Em junho, dos 300 mil assinantes de 4G nesse bloco de países, 175 mil estavam no Brasil, segundo a 4G Americas, organização que representa fornecedores e operadores de serviços móveis da América Latina e Caribe. Mas essa base cresceu rapidamente. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a banda larga móvel no Brasil totalizou 80,99 milhões de acessos em julho, dos quais 257,2 mil são celulares e modens 4G com planos de acesso à internet.
O primeiro país a oferecer 4G na frequência de 2,5 gigahertz, a mesma adotada no Brasil, foi a Colômbia, para uma pequena faixa de frequência, em 2010. Em junho deste ano, a agência reguladora da Colômbia fez outro leilão do restante da faixa e incluiu também 1,7 MHz e 2,1 MHz. Até o fim do ano, a previsão da 4G Americas é que o bloco de países da região tenha 2 milhões de assinantes de 4G e, em 2014, avance para 7 milhões. Ou seja, em pouco mais de um ano, o número de clientes crescerá acima de 23 vezes.
Pode parecer pouco se o número for comparado ao total de assinantes de internet móvel somente no Brasil, com todas as tecnologias, em julho. Mas, o serviço 4G segue o rápido crescimento trilhado pelo 3G. Dos quase 74 milhões de aparelhos 3G registrados no Brasil em julho, 7 milhões eram usados para o acesso em banda larga – modens, na maior parte. Vale destacar que o 3G demorou seis anos para atingir essa base de terminais, disse Erasmo Rojas, diretor da 4G Americas para a região.
Dificuldades técnicas
Em toda a América Latina, no segundo trimestre do ano havia 150 milhões de usuários de 3G, com 25% de penetração do serviço em 96 redes de 42 países. A implantação das redes 4G começou há menos de dois anos. Embora cresça no mesmo ritmo, para que o desenvolvimento seja mais acelerado, os consumidores precisam de aparelhos mais baratos, especialmente os smartphones, o que já começa a ser observado com a desoneração de impostos.
A corrida das operadoras da região segue por faixas de frequência vendidas em leilões pelas agências reguladoras dos respectivos países. As faixas são variáveis e nem sempre estão livres para uso imediato. Emissoras de TV, Forças Armadas e outros órgãos dos governos usam esses blocos de espectro até receber novo espaço e liberar esses já comprometidos para novos serviços. Uma negociação nada fácil em qualquer país, mesmo nos Estados Unidos. Nos leilões recentes, foram criadas 25 redes 4G comerciais em 12 países da América Latina e Caribe, em seis faixas de frequência diferentes. No total, existem oito redes comerciais com a frequência de 2,5 gigahertz: duas no Chile e Colômbia e seis no Brasil, ocupadas pelas quatro grandes operadoras móveis, além de Sky Telecom e On, que lançaram aplicações fixas. Ainda para este fim de ano está previsto edital para a faixa de 700 megahertz no Brasil e leilão por volta de abril de 2014.
Mas o Chile poderá se adiantar ao Brasil e realizar ainda em neste ano ou no começo de 2014 seu leilão para a faixa de 700 MHz. Naquele país, ao contrário do Brasil, a faixa está desocupada, o que pode acelerar mais ainda o processo. Quando os consumidores brigam por celeridade e qualidade na banda larga móvel, e com razão, dificilmente se lembram como era o serviço há menos de uma década. Quando a internet começou a explorar o espaço cibernético no começo dos anos 90, era muito difícil para a maioria das pessoas entenderem o que era a tecnologia, os serviços que poderiam ser oferecidos e como tirar proveito de suas possibilidades. O conceito foi ganhando volume, mas as dificuldades técnicas frustravam os internautas que tentavam navegar pelas redes disponíveis que trafegavam por cabos de cobre, os mesmos que conduzem voz e dados até hoje para a maioria da população.
Serviço ainda passa por amadurecimento
O acesso podia ser até discado, por linha telefônica. Era uma frustração. Lentidão, sites que não abriam, conexões que caíam o tempo todo. Mas, em poucos anos a tecnologia e o serviço evoluíram. É possível acessar a internet em alta velocidade por cabos de cobre, xDSL, de TV por assinatura, ondas de rádio, fibra óptica, satélite e celular. A princípio, os usuários se mostraram um pouco céticos com a internet nas redes móveis. Como toda nova tecnologia, a transmissão era instável e não inspirava segurança. Mas evoluiu. Hoje, quem tem celular quer também conexão, e quanto mais rápida, melhor. Quem usa a internet em casa ou no trabalho, ao sair quer continuar conectado. A tecnologia evoluiu até a 4G, o mais novo padrão celular em uso comercial no mundo. Isso não significa que a qualidade do serviço é aprovada pelos clientes. Os problemas também evoluíram. As queixas continuam se avolumando nos serviços de proteção aos consumidores. As teles resolvem um problema, mas logo outros aparecem.
Agora, o plano das operadoras é migrar cada vez mais os clientes de internet para 4G, dedicada somente a dados, por enquanto, e manter a 3G híbrida para voz e dados, porém com capacidade de transmissão dez vezes mais lenta que sua sucessora, pela limitação tecnológica. Rojas não ousa estimar em quanto tempo ocorrerá uma migração massiva que desafogue a 3G, melhorando a qualidade de seus serviços. As operadoras brasileiras aceitaram as metas impostas pela Anatel e levaram o 4G para as cidades-sede da Copa das Confederações, neste ano. As companhias foram além e anteciparam o prazo, estendendo o serviço para locais importantes, mas que não sediariam o evento, como São Paulo, nessa primeira fase. Todas agora pisam no acelerador para preparar o campo para a Copa do Mundo de 2014.
É verdade que mesmo no ambiente de quarta geração do Brasil as conexões ainda caem e são inúmeras as reclamações, coisa de contrato não muito bem explicado sobre um serviço apoiado em uma tecnologia que ainda passa por amadurecimento. Mas, nessa corrida, mesmo tendo que parar no cockpit para fazer ajustes e acelerar os bits e bytes, ainda vai dar Brasil em primeiro lugar, pois o país historicamente responde por cerca de metade dos assinantes da região, com uma receita média de US$ 11 por usuário.
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Ivone Santana, do Valor Econômico