Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Obsolescência ameaça futuro da Microsoft

Quando era um jovem executivo da Microsoft, Steven A. Ballmer ajudou a derrubar gigantes da tecnologia que eram mais velhas e lentas, como Digital Equipment Corporation, Wang e Novell. Agora é a vez da Microsoft se defender das empresas jovens, enquanto luta para competir em um mundo da computação cada vez mais móvel e baseado em uma “nuvem” de computadores conectados à internet, à qual muitos clientes têm acesso simultaneamente. Tudo faz parte do inevitável ciclo de vida das companhias tecnológicas.

“A interrupção é a característica que define esta indústria”, disse Aaron Levie, executivo-chefe da Box, empresa de armazenamento de dados online. “Você pode até ter um quase monopólio, como a Microsoft teve, mas aí tudo é redefinido.”

Ballmer não terá de levar a Microsoft para o futuro. Em 23 de agosto, ele anunciou que se aposentará dentro de um ano. Mas jovens executivos como Levie não estão desfrutando a saída de Ballmer. Eles sabem que um dia – se tiverem a sorte de ter tanto sucesso quanto Ballmer – poderão enfrentar o mesmo problema. “Isso apenas alimenta meu sentido já saudável de paranoia”, disse Levie. É rara a companhia tecnológica que consegue prosperar de uma geração de tecnologia para a seguinte. Apenas algumas grandes o fizeram, como IBM, Intel e Apple. Ainda não está claro se a Microsoft tem o caminho livre para entrar nessa lista de líderes por várias gerações.

Amigo íntimo de Bill Gates

Ballmer esteve intimamente ligado com a revolução do computador pessoal e, mais tarde, com o software corporativo que rodava em servidores de redes de computadores. Essas inovações trouxeram para a Microsoft dinheiro e talento para se adaptar ao início da internet com o navegador Explorer e para se diversificar nos jogos online. O que Ballmer não conseguiu comprar, diz a geração mais jovem, foi uma clara visão do futuro. Apple e Google lideraram o desenvolvimento dos smartphones e uma longa lista de companhias, como a Amazon.com, lideraram o desenvolvimento da computação em nuvem. Enquanto isso, a Microsoft muitas vezes teve de correr atrás.

“Toda a tecnologia aspira a ser um legado”, disse Scott Dietzen, executivo-chefe da Pure Storage, novata de armazenamento de dados. “É isso ou a obsolescência.” Durante o mandato de Ballmer como executivo-chefe da Microsoft, a empresa teve um crescimento considerável. Ele liderou a criação do sistema operacional Windows Phone, que recebeu boas críticas, mas teve de lutar para conseguir tração no mercado. Também sob sua liderança, a companhia adquiriu o Skype, um serviço de comunicações na internet, por US$ 8,5 bilhões, e pagou US$ 1,2 bilhão pela Yammer, uma rede social para empresas.

Mas os verdadeiros avanços, fossem em pesquisas, smartphones ou softwares, geralmente aconteceram em outros lugares. Ballmer entrou para a Microsoft em 1980. Seu software pioneiro, o Windows 3.0, foi lançado em 1990. Sua ação atingiu o pico em dezembro de 1999, pouco antes de Ballmer substituir Bill Gates, cofundador da Microsoft e seu amigo íntimo, como executivo-chefe. Desde então, as ações da Microsoft caíram cerca de 33%.

A última arquitetura da computação

A Microsoft tem 38 anos, faltando três para a idade em que a Digital Equipment e a Wang desapareceram. A Novell, fundada em 1979, foi adquirida em 2011 pelo grupo de investimentos Attachmate Corporation. “Ele pegou uma companhia com US$ 20 bilhões de receitas e a transformou em uma de US$ 78 bilhões”, disse Levie. “Mas você nunca pode contar com mais de uma década no topo.” Essa sensação de que o sucesso de verdade dura mais ou menos uma década persegue até os mais bem-sucedidos na nova geração de executivos tecnológicos.

Alguns dizem que, embora Ballmer tenha tentado mover a Microsoft além do PC, ele deixou de realmente compreender quão profundas e amplas seriam as mudanças para a nuvem e o celular. “A Microsoft tinha telefones, tinha tablets, mas tentou colocar o Windows neles”, disse Zach Nelson, executivo-chefe da NetSuite, fabricante de software para empresas baseadas na web. “Eles não conseguiram deixar para trás o mundo do PC, apesar de verem que a mudança estava chegando.”

Mas a pergunta é: e agora?

“Você pode imaginar um mundo sem o Windows, mas não sem a rede, portanto, parece que a nuvem não vai desaparecer”, disse Nelson. “Nós estamos no meio de onde o mundo irá.” “Não posso dizer que seja a última arquitetura da computação”, disse ele. “É a minha última. O PC foi a última de Ballmer.”

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Quentin Hardy, doNew York Times