Menos de um ano depois de lançar o Windows 8, o sistema operacional com que planejava unificar o funcionamento de computadores e tablets – e, de quebra, aproximar esses equipamentos dos smartphones –, a Microsoft está de volta com um novo software, que tenta preservar as vantagens de seu antecessor sem, no entanto, repetir seus erros. Chamado de Windows Blue na fase de desenvolvimento, o novo sistema chega ao mercado, hoje, em todo o mundo, com o nome de Windows 8.1, o que deixa clara a intenção da Microsoft de fazer uma atualização do que já existia, em vez de conceber um produto inteiramente novo.
Chama a atenção a chegada de um Windows reformulado em um espaço de tempo tão curto. Para comparar, o Windows 8 original levou três anos para ficar pronto – o ciclo tradicional do sistema –, o antecessor Windows 7 ficou dois anos na mesa de trabalho e o Windows Vista, de 2007, consumiu cinco anos, um atraso que abalou a divisão de engenharia da Microsoft.
A rapidez de agora é, em parte, uma reação ao novo perfil dos usuários de tecnologia. Com dispositivos conectados o tempo todo à internet, ciclos de atualizações muito longos deixaram de fazer sentido, algo a que a Microsoft quer se adaptar. “Estamos no momento ideal para essa mudança, com um sistema que permite que isso seja feito [o Windows 8] e consumidores que estão acostumados e pedem mudanças mais frequentes”, disse ao Valor Priscila Alves, gerente-geral de Windows no Brasil.
Críticas ao fim do botão “Iniciar”
Não há um cronograma definido para que outras atualizações sejam lançadas. A ideia, segundo a executiva, é fazer algo parecido com o que acontece no mundo dos smartphones, com novidades regulares que não atrapalham o cotidiano do usuário ao ser instaladas. Especialistas já avaliam que a versão 8.2 possa estar disponível em outubro do ano que vem. Adaptar-se ao ritmo mais acelerado do mercado, porém, não é o único objetivo da Microsoft. O Windows, lançado pela primeira vez em 1985, continua o líder no mundo dos PCs, mas vem perdendo espaço entre os consumidores, com o crescente uso de tablets e smartphones equipados com os rivais Android, do Google, e iOS, da Apple. Esse cenário representa um grande risco para a Microsoft. No ano fiscal 2013, encerrado em 30 de junho, a unidade responsável pelo Windows representou um quarto da receita global (US$ 19,24 bilhões) e um terço do lucro (US$ 9,5 bilhões) da companhia. Reinventar um de seus carros-chefe com mais frequência, portanto, é uma necessidade de negócio.
O Windows 8 foi a primeira versão do software a romper com seu design tradicional, baseado em janelas que se abrem umas sobre as outras. Em vez disso, a Microsoft criou uma interface de blocos coloridos com conteúdo dinâmico, que exibem fotos e mensagens de e-mail, por exemplo, sem que o usuário tenha de entrar no programa específico. O desenho foi criado para favorecer o uso de equipamentos com telas sensíveis ao toque, como os tablets. Para não evitar um choque no público, a companhia estabeleceu a coexistência entre as duas áreas de trabalho – a tradicional, com os ícones dos programas, e a renovada, parecida com a do Windows Phone, o sistema da Microsoft para smartphones.
O que parecia uma boa ideia, no entanto, revelou-se uma armadilha. A possibilidade de alternar as áreas de trabalho deixou parte dos usuários confusos – o que deu origem a uma série de reclamações. Uma das maiores críticas foi o fim do botão “Iniciar”. Sem ele, muita gente simplesmente não sabia como fazer o computador funcionar.
A aposentadoria do Windows XP
No novo sistema, o botão está de volta e o usuário poderá escolher se o dispositivo será iniciado com a tela tradicional ou a nova, que até era porta de entrada obrigatória no Windows 8. Para Fábio Gaspar, gerente de Windows na Microsoft, a opção pode ser particularmente interessante para as empresas. Nos escritórios, boa parte dos programas usados ainda não está adaptada à interface para telas sensíveis ao toque, o que torna a interface tradicional mais apropriada. Para o usuário comum, o sistema traz novidades na busca de arquivos, nas configurações de papel de parede e de cor da área de trabalho, entre outros itens. Aplicativos para a edição de fotos e vídeos, que se tornaram populares com os dispositivos móveis, também ganharam atenção no Windows 8.1.
A atualização do sistema será gratuita para quem já usa o Windows 8, a partir de hoje. A expectativa é que PCs e tablets novos com 8.1 cheguem às lojas até o Natal. Quem quiser comprar o sistema para atualizar uma máquina com Windows 7, ou instalar em um disco rígido novo, pagará R$ 410 para a versão considerada padrão e R$ 699 para a chamada de Pro – os mesmos preços do Windows 8.
De acordo com a Microsoft, o Windows 8 é seu sistema operacional com adoção mais rápida até agora. Desde seu lançamento, em 25 de outubro do ano passado, foram vendidas 100 milhões de cópias do sistema. A expectativa da companhia é que no ano que vem a demanda seja acelerada por conta da aposentadoria do Windows XP. O sistema, lançado em 2001, é até hoje um dos mais usados no mundo e detém 31% de participação de mercado, segundo a empresa de pesquisa NetMarketShare. Em abril de 2014, no entanto, a Microsoft encerrará de vez o suporte ao sistema. Com isso, empresas precisarão trocar o XP por uma versão mais nova do Windows para não colocar suas informações em risco.
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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico