Pequenos e médios provedores de banda larga vão ganhar uma nova faixa de frequência para oferecer acesso à internet fixa, de acordo com portaria do Ministério das Comunicações. Até o fim do ano, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) destinará a essas empresas a faixa de 2.500 MHz a 2.690 MHz. A medida deve movimentar os negócios do setor, que investe mais de R$ 1 bilhão ao ano.
Antes mesmo da decisão entrar em vigor, empresários de São Paulo, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul estão expandindo o atendimento para outras cidades, montam redes mais velozes, de fibra óptica, e investem no treinamento de equipes técnicas e de vendas. De acordo com o ministério, há cerca de 3,8 mil provedores de pequeno e médio portes, principalmente no interior do país.
Para João Francisco dos Santos, diretor-presidente da Cianet, que fornece tecnologia para o setor, os pequenos provedores podem concorrer com os grandes se oferecerem um atendimento personalizado, mais próximo dos clientes, e mais agilidade na resolução de problemas. “As companhias de menor porte criaram um atendimento face a face e de rápida resposta, em regiões não disputadas pelas empresas maiores”, diz. Segundo Santos, para conseguir assinantes, os empresários precisam aumentar a capilaridade das redes, migrar para tecnologias mais avançadas, como a fibra óptica, e diversificar serviços. “O setor precisa de aportes intensivos. Geralmente, os empreendedores começaram em regiões remotas, onde as operadoras não estavam presentes”, diz. “Hoje, competem com os grandes players.”
Crescimento e velocidade
O provedor Life SCM passou de 6,1 mil clientes em 2011 para dez mil clientes em 2013. Com sede em Marília (SP), atua no interior do Estado, com oferta de telefonia e acesso à internet via fibra óptica e rádio. Faturou R$ 8,1 milhões em 2012 e prevê superar os R$ 10 milhões neste ano. “Estamos expandindo as redes, com cabeamento em novos condomínios da região”, diz o diretor-comercial, Luis Eduardo Diaz. “Há também indústrias com demanda por links dedicados e essa tendência deve continuar em 2014.”
A empresa começou com a oferta de conexão por acesso discado em Pompeia (SP). Depois, implementou serviços via rádio e, em 2003, introduziu a fibra óptica. Fez parcerias com empresas chinesas para o desenvolvimento de soluções de hardware e estendeu o atendimento para outras cidades, como Garça, Quintana, Vera Cruz, Ocauçu e Oriente. “Garça foi considerado o primeiro município brasileiro a contar com uma rede de atendimento 100% de fibra óptica”, lembra. Em Marília, a expectativa é que, até o fim do primeiro semestre de 2014, a cidade também esteja totalmente “cabeada”. Segundo Diaz, 60% da cidade conta com serviços da Life, que tem cem funcionários.
Em 2014 ela deve lançar um serviço de TV por assinatura e um data center de atuação regional, com oferta de cloud computing. Os investimentos saltaram de R$ 1,7 milhão em 2012 para R$ 2,2 milhões em 2013, a maior parte voltada para a expansão da rede. “Os principais desafios são continuar o crescimento para ampliar a área de serviços e entregar uma velocidade de acesso que atenda às expectativas dos clientes.”
Equipes técnicas e de vendas
Dias afirma que os provedores de maior porte têm condições de crédito mais favoráveis, o que dificulta o crescimento orgânico das empresas menores. Para ele, faltam ações públicas mais claras no setor, principalmente quanto às garantias aceitas nos empréstimos. “Precisamos de políticas mais ousadas em um segmento fundamental para o desenvolvimento do país.”
Em Praia Grande, no litoral de São Paulo, o provedor Netion, com 22 funcionários, também começou com a oferta de internet via rádio e, a partir do segundo semestre deste ano iniciou as atividades com fibra. O cadastro de assinantes passou de 800 nomes em 2011, para 3,1 mil clientes em 2013. Segundo o sócio-gerente Diego Ferreira Azevedo, a empresa nasceu da necessidade dos moradores do bairro Parque das Américas que, em 2005, só contavam com internet discada. “Em 2014, vamos investir em serviços de voz (Voip) e TV por assinatura via internet (IPTV)”, afirma. Hoje, todo o investimento da companhia é direcionado para a infraestrutura de fibra óptica e migração de clientes para o novo modelo de transmissão.
“O maior obstáculo para concorrer com os grandes provedores é comprar links de dados com um preço competitivo e oferecer velocidade e valores similares.” Azevedo também está investindo em treinamentos para as equipes técnicas e de vendas, que agora precisam conhecer as novas tecnologias com fibra.
“Estamos próximos”
Em Canela (RS), a GiGA Internet faz investimentos de R$ 2 milhões em 2013, valor quatro vezes maior que o aporte do ano passado. “O foco é internet. Vamos aplicar em novas repetidoras e torres de transmissão, além de um backbone próprio entre Porto Alegre e Canela”, revela o CEO Juliano Primavesi, que tem hotéis, condomínios residenciais e fábricas entre os clientes. A empresa é uma startup da gaúcha KingHost, de hospedagem de sites.
O provedor de 13 funcionários atua na Serra Gaúcha e na região metropolitana de Porto Alegre. Tem 2,2 mil clientes e faturou R$ 1,5 milhão em 2012. Neste ano, a meta é dobrar o faturamento. “Há uma demanda crescente de usuários mal atendidos pelas operadoras.” Uma das estratégias é cobrir regiões rurais, sem o sinal de grandes operadoras. Para isso vai aumentar o número de equipes em campo, de três para seis, que poderão fazer até 20 instalações ao dia.
Para Ary Braga, diretor-técnico da NetAngra, de Angra dos Reis (RJ), os provedores de menor porte podem se diferenciar dos grandes pelo atendimento. “Geralmente, os concorrentes maiores são distantes do cliente. Usam mensagens gravadas e muita burocracia”, diz. “Estamos mais próximos e conhecemos os assinantes.” Com 150 funcionários, a NetAngra oferece TV a cabo, internet, telefonia fixa e recursos para segurança eletrônica. Com 15 mil assinantes, planeja chegar em mais dez cidades da região. “Já estamos com a infraestrutura montada em Mangaratiba e conseguimos licença para atuar em Paraty.”
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Jacilio Saraiva, para o Valor Econômico