Deve ser difícil para um jovem imaginar como era a imagem de Bill Gates na década de 1990. Gates se transformou num grande filantropo, que ataca com seus bilhões grandes problemas do mundo, por meio da fundação que dirige desde que se aposentou da Microsoft. Ele coloca sua fortuna e sua experiência gerencial para combater globalmente doenças e pobreza de uma forma que governos e empresas não se mostram capazes de fazer.
Há pouco mais de 20 anos, Gates era temido e, para usar a palavra certa, odiado por muita gente. Depois de decidir colocar fora do mercado a Netscape, empresa de navegadores responsável pela popularização da internet, a Microsoft foi alvo de um processo antitruste movido pelo governo dos Estados Unidos. O depoimento de Gates durante o processo foi considerado, na época, um símbolo de arrogância e até de falta de humanidade.
Muita coisa mudou. Entre os jovens empreendedores do Vale do Silício, Gates chega a ser uma figura mais admirada até que Steve Jobs, fundador da Apple. Não tem como essa garotada, que combina idealismo e ambição sem limites, deixar de sentir admiração pelo trabalho da Fundação Bill & Melinda Gates.
Nova missão
Recentemente, Gates voltou a liderar a lista dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 76,5 bilhões, segundo a agência Bloomberg. Apesar de se classificar como um “fã devoto” do capitalismo, o fundador da Microsoft escreveu na edição mais recente da revista Wired: “o capitalismo sozinho não consegue atender as necessidades dos muito pobres. Isso significa que a inovação orientada ao mercado pode, na verdade, aumentar o fosso entre ricos e pobres”.
A estratégia de Gates foi buscar áreas de pesquisa que recebiam poucos recursos, e cujos resultados poderiam beneficiar muitas pessoas. Segundo ele, seu primeiro investimento em pesquisa sobre malária quase dobrou os recursos disponíveis na área, “não porque nossa doação tenha sido muito grande, mas porque a pesquisa sobre malária estava muito subfinanciada”.
O fundador do Microsoft chama a forma de atuar da fundação de “filantropia catalisadora”. Ao colocar dinheiro na busca de solução para problemas que não recebem a atenção devida, ele quer incentivar que governos e empresas também se dediquem a esses problemas, fazendo com que a inovação passe a beneficiar também as pessoas pobres.
Quando foi criada, a Microsoft tinha como missão “colocar um computador em cada mesa de trabalho e em cada casa”. Sob o comando de Gates, a empresa teve tanto sucesso que a missão acabou mudando para “permitir que pessoas e empresas ao redor do mundo realizem todo seu potencial”. Vamos ver o que ele consegue com seus esforços para combater miséria e doenças.
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Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo