Os novos óculos inteligentes do Google, o Google Glass, ainda não chegaram ao mercado, mas a empresa já está se empenhando para evitar que se tornem apenas um produto de nicho, voltado para nerds. Num sinal de que os fabricantes de óculos e o Google vislumbram um mercado mais amplo para a tecnologia, a gigante de buscas na internet está explorando ideias com ao menos uma empresa de óculos para colocar o aparelho em clínicas de optometria, que realizam testes oftalmológicos nos Estados Unidos, e criar designs alternativos.
A VSP Global – uma empresa global de produtos e serviços oftalmológicos que também fabrica armações e lentes – está negociando com o Google a produção de armações mais atraentes para o aparelho, desenvolvendo lentes especiais prescritas por médicos para usar com o Google Glass e treinando optometristas para ajustar os óculos nos clientes, disse o diretor-presidente da VSP, Rob Lynch.
As discussões ainda estão em estágio inicial e, até agora, as duas empresas não firmaram nenhum acordo formal. Mas a VSP, que oferece plano oftalmológico para funcionários do Google, seria um parceiro útil para levar o Google Glass para o público em geral. A VSP conta com uma rede de 30.000 oftalmologistas nos EUA e 60 milhões de pessoas fazem parte de seus planos de atendimento, com planos individuais ou empresariais.
Consumidores acostumados a tecnologias novas
Matt Alpert, um optometrista da Califórnia, que faz parte do conselho da VSP Global e foi um dos primeiros a testar o Google Glass acha que a tecnologia vai “estourar” no futuro. “Assim que forem desenvolvidos aplicativos importantes para o seu mundo, ela vai começar a decolar.” O computador em miniatura é usado como óculos sem lentes e tem uma minúscula tela no canto direito superior do campo de visão do usuário. Ele funciona em grande parte por comandos de voz. Os aficionados que aderem rápido a novas tecnologias já estão se referindo calorosamente ao dispositivo.
Mas para alcançar um mercado mais amplo, o Google precisa superar vários obstáculos, entre eles a imagem de um produto para geeks (pessoas obcecadas por tecnologia) e adaptá-lo para mais de 110 milhões de americanos que hoje já usam óculos para corrigir a visão. O Google já afirmou que está trabalhando no desenvolvimento de armações que permitirão o uso de lentes corretivas. As conversas com a VSP parecem ser mais extensas, porém, envolvendo discussões sobre canais de distribuição e também lentes corretivas especiais, segundo pessoas a par das conversas. O Google Glass não tem lentes, então é teoricamente possível usá-lo com óculos comuns. Mas, segundo as pessoas que receberam modelos iniciais para testes, a experiência não é boa.
Outro obstáculo será criar versões do óculos que sejam confortáveis de usar. Na opinião de Alpert, no seu formato atual, ele será um produto de nicho usado somente por consumidores acostumados a adotar tecnologias novas. Se esses obstáculos puderem ser superados, o Google Glass pode encontrar um mercado maior. Os que participaram dos testes iniciais acreditam em muitos usos para o aparelho.
Obama deixou o aparelho no hotel
Uma dessas pessoas, Max Wood, chefe do departamento de bombeiros voluntários em Gray, na Geórgia, disse que está empolgado com a possibilidade do Google Glass ser usado por comandantes para transmitir informações aos bombeiros durante o combate a um incêndio. Mas isso exigiria uma versão de óculos que coubesse dentro de uma máscara de oxigênio.
Para estimular novos usos, o Google na semana passada liberou o acesso a mais características digitais do aparelho para desenvolvedores de software. Em última análise, alguns dos maiores desafios para a adoção ampla do Google Glass podem ser sociais. Lynch, o diretor-presidente da VSP, estava usando seu aparelho em uma conferência do The Wall Street Journal realizada na semana passada em Washington, atraindo olhares e perguntas de outros executivos.
Mas antes de passar por um cordão de segurança, montado devido à participação do presidente Barack Obama ao evento, ele decidiu deixar o aparelho no hotel onde estava hospedado. “Ainda é muito novo”, ele disse. “Provavelmente é melhor não arriscar.”
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Theo Francis e Rolfe Winkler, do Wall Street Journal