Faz uma semana que a escritora e filósofa Carol Teixeira, de 33 anos, adquiriu um novo hábito: checar no Lulu as avaliações dos homens com quem já se relacionou. Lançado no Brasil no dia 20 de novembro, o aplicativo se popularizou rapidamente, atingindo seu pico de downloads apenas cinco dias depois. Desde então, tem divido opiniões e já enfrenta até problemas na Justiça.
“A minha primeira reação foi pensar ‘que horror, imagina se fazem um desses para a gente’, mas depois vi que a pessoa não escreve exatamente o que quer. Acaba sendo divertido”, conta Carol. A proposta do Lulu é clara: mulheres avaliam os homens, respondendo a perguntas e atribuindo hashtags como #SempreCheiroso, #SemMedoDeSerFofo e #SobreviveNaSelva a cada um deles. Quem é do sexo masculino tem acesso restrito e não pode interferir nas avaliações. O detalhe é que todos os homens cadastrados no Facebook aparecem automaticamente no Lulu. Em caso de desconforto, a única saída é fazer uma solicitação para que o perfil seja excluído.
Mesmo assim, teve gente que ficou insatisfeita. Foi o caso do estudante de Direito Felippo Scolari, de 28 anos, que, após ter dificuldades para fazer a exclusão de seu perfil, entrou na Justiça pedindo uma indenização de R$ 27 mil por danos morais. “Algumas hashtags, como #MãosMágicas, #CaiDeBoca e #QuerFazerNenem, me causaram um constrangimento diante da minha noiva. Tentei deletar meu perfil inúmeras vezes e todas deram erro”, alega. O advogado de Felippo, Fábio Scolari Vieira, conta que já foi procurado por 20 pessoas inconformadas com o Lulu. “Essas pessoas se sentiram lesadas, pois a Constituição Federal prevê a liberdade de expressão, mas veta o anonimato”, justifica. A equipe do Lulu no Brasil afirma que o aplicativo foi lançado em consonância com as leis do País e que ainda não recebeu nenhum tipo de notificação judicial.
Mas a insatisfação não se resume aos homens. “Achei o aplicativo desinteressante, desrespeitoso e mais do mesmo. Não acho que seja feminista nem que traz poder para as mulheres. Não quero ter os mesmos direitos dos homens em objetivar e assediar dessa forma”, critica a gerente de conteúdo Fabiane Secches, de 33 anos.
Criação
A jamaicana Alexandra Chong, de 32 anos, teve a ideia de criar uma rede social só para mulheres há quase três anos, em fevereiro de 2011, depois de um brunch com amigas. “Voltando para casa, comecei a pensar que não havia nem sequer um homem naquela mesa. E que, se houvesse algum, a conversa não teria sido a mesma, não poderíamos dividir e detalhar com tanta honestidade e sinceridade tudo o que falamos”, contou ela, em um evento em São Paulo na semana passada. O aplicativo foi lançado em fevereiro de 2013 apenas nos EUA e, em sete meses, atingiu um milhão de usuárias.
Segundo a diretora de Marketing do Lulu, Deborah Singer, a escolha do Brasil como segundo mercado para lançar o Lulu foi “simples”. “Vocês são loucos por redes sociais e as mulheres brasileiras são incrivelmente elegantes, lançam modas e gostam de coisas novas. Além disso, vocês têm uma vida noturna e de relacionamentos muito ativa e interessante”, explica. Por causa do grande número de acessos e downloads, o Lulu apresentou muita instabilidade na semana passada e os desenvolvedores ainda não têm números definitivos sobre a quantidade de usuárias, mas garantem já ter contabilizado 5 milhões de visitas e 200 milhões de avaliações.
Com tamanha repercussão, o Lulu, que vinha sendo chamado de “vingança feminina”, pode ganhar em breve seu equivalente para o sexo masculino, justamente o que Carol temia. No final da semana passada, surgiu no Facebook a fan page de um aplicativo chamado Tubby, cujo slogan é: “Sua vez de descobrir se ela é boa de cama”. Os criadores, o publicitário Guilheme S., de 21 anos, o desenvolvedor Rafael F., de 22, e a analista de mídias sociais Lívia G., de 32, que preferem não dar os nomes completos, prometem o lançamento para a próxima quarta. “Os homens foram julgados e avaliados. Agora é a vez de as mulheres terem isso de volta. Tudo não passa de uma vingança descontraída”, garantem.
Em meio a tanta polêmica, a coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, Rosa Farah, minimiza o poder do Lulu. “Tudo o que tem surgido na web é só uma nova versão de comportamentos que já existem no presencial. Acho que, no fim, não será algo de tanto impacto”, pondera. (Colaborou Bruno Capelas)
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Marina Azaredo, do Estado de S.Paulo