Lulu. Tubby. Tinder. Se você acompanha o noticiário de tecnologia, provavelmente está cansado de ouvir a respeito desses aplicativos. Mas apesar de serem meros apps, esses três nomes revelam outra coisa em comum: todos são de relacionamentos. Até aí também nenhuma novidade. Porém, já parou para pensar o quanto eles têm feito parte da sua vida ou de pessoas próximas de você?
Não é de hoje que ouvimos o termo “relacionamentos online”. A expressão marcou presença no final nos anos 90 e começo dos 2000 com as salas de bate-papo em grandes portais, além de comunicadores instantâneos como ICQ e MSN. No entanto, não podemos negar que vivemos neste momento um “boom” dos relacionamentos online, representados agora pelos aplicativos e facilidade de carregá-los para qualquer lugar. E a variedade é enorme. Grindr, WeChat, Hot or Not, Skout e Down são só alguns nomes que completam o time.
“Vivemos a era dos aplicativos. Não só nos relacionamentos. As pessoas acessam o Instagram porque é mais fácil curtir ou postar uma foto do celular. Pedem comida pelo app porque é mais fácil. Chamam táxis pelo celular porque é mais fácil. Você tem a possibilidade de se conectar pelo Facebook, que evita inúmeros cadastros ou ainda usar a geolocalização, para encontrar pessoas e serviços perto de você”, afirma Pollyana Ferrari, Doutora em Comunicação Social pela USP e autora dos livros A força da mídia social e Hipertexto, Hipermídia.
Porém, toda essa facilidade nos coloca na chamada “zona de conforto”, que nos distancia cada vez mais do real e também dá a falsa impressão de que estamos protegidos atrás da tela. “A zona de conforto já está presente há um bom tempo, como por exemplo, ao mandar parabéns por alguém pelo Facebook ao invés do telefone ou mesmo ao vivo. O Facebook te avisa do aniversário, você manda sua mensagem e fica com a sensação de dever cumprido”, explica Ferrari.
Falsa segurança
Quem nunca “fuçou” uma pessoa no Facebook, Instagram, Twitter ou outra rede social antes de conhecer pessoalmente, que dê o primeiro unfollow. É comum achar que se você pesquisar antes sobre a pessoa nas redes sociais, saberá onde está “pisando”. Este é, inclusive, o objetivo do Lulu, que por meio de resenhas de outras usuárias, monta um “perfil” do homem que você está procurando. Doce ilusão. Já parou pra pensar que a experiência de um pode ser diferente da do outro? Ou pior, que alguém falou mal da pessoa para brincar ou por vingança?
Além disso, se no passado, a preocupação era encontrar pessoalmente alguém que você conheceu na internet, hoje, o maior risco acontece ainda dentro de casa, com a exposição de dados. Ao permitir que um aplicativo sincronize com sua conta no Facebook, você está permitindo também que ele tenha acesso a todas suas informações compartilhadas na rede social. Isso pode acontecer ainda sem seu consentimento, como no caso do Lulu e Tubby, já que se você não alterar suas configurações de privacidade, aplicativos que outras pessoas usam poderão visualizar suas informações (saiba como evitar isso).
“O que as pessoas não percebem é que estão muito mais expostas que antigamente. É claro que ainda existem precauções que devem ser tomadas ao se encontrar com alguém ao vivo, como procurar por locais públicos etc. Mas a partir do momento em que você se conecta com o Facebook, por exemplo, o app varre tudo o que você faz por meio do Big Data. Esqueça a ideia de que algo é privado depois de falar nas redes sociais ou nos aplicativos”, conta Pollyana.
Guerra dos sexos
Com o lançamento do Lulu e do Tubby, este último ainda previsto para os próximos dias, estamos vivendo uma verdadeira “guerra dos sexos” virtual. Há quem ache que as mulheres que fazem resenha estão erradas, porque estão sendo “machistas”, há quem ache que os homens estão merecendo a “vingança” e há quem ache que tudo não passe de uma grande brincadeira. Em suma, há opinião para todos os gostos.
Roberto*, de 20 anos, estudante de economia, faz parte do grupo dos homens que se divertiu com a situação. “Não me senti ofendido. Não dá pra levar tudo a sério, muita gente usa [o app] para brincar. Acho até engraçado essas hashtags”, conta. Contudo, Roberto também foi vítima de avaliações que não gostou. “Em uma resenha, usaram uma ou duas hashtags que achei que não tinham a ver comigo. Fiquei um pouco chateado, mesmo porque tudo que é brincadeira você acaba levando um pouco a sério. Mas passou”, completa.
Já Luciana*, de 23 anos, designer, diz que não avaliou ninguém no Lulu. “Baixei o aplicativo por curiosidade, pra ver como era, mas acho errado expor coisas tão íntimas como peculiaridades de uma relação sexual. Em compensação, dei opinião em resenhas que achei que não condiziam. Umas falavam bem de caras que não me dei bem, e outras iam de encontro com o que eu pensava da pessoa”, afirma.
Roberto concorda no que diz respeito à exposição de características de uma relação sexual. “Em hashtags de brincadeira, como ‘ursinho’ e ‘capa de revista’, não vejo problema algum. Contudo, coisas mais íntimas desrespeitam a privacidade da pessoa. E pode ter certeza que os homens vão revidar de maneira muito pior no tal Tubby”, opina.
Para a designer Luciana, o Tubby é uma incógnita da qual tem medo. “Vi no preview do aplicativo umas hashtags pesadas, fiquei com receio. Já combinei com amigos homens de me mandarem screenshots e, caso tenha avaliações negativas, vou sair.” Já Roberto diz que vai entrar na brincadeira, assim como fez no Lulu. “Vou avaliar, sim. Do mesmo jeito que participei do Lulu sem querer, vou fazer resenhas no Tubby, mas sem fazer exposição desnecessária”, promete.
Vantagens
Apesar de parecer uma armadilha à primeira vista, os apps de relacionamento não são um bicho de sete cabeças. Se usados com cautela, eles podem ser uma boa ferramenta para quem deseja encontrar novas pessoas ou até mesmo fazer somente novos amigos.
“Uso a internet para me relacionar desde meus 12 anos. Foi ela, inclusive, que me ajudou a descobrir minha profissão. Começou nas salas de chat, passou por outros sites, MSN, Skype, até que chegou nos aplicativos. Nos últimos tempos, saí com pessoas por meio do Badoo e do Tinder. Porém, não senti atração pelo público do Badoo. Depois de comprar um iPhone, baixei o Tinder e gostei tanto da interface quanto dos usuários. É muito fácil de usar, praticamente um ‘sim’ ou ‘não’. Em ambos os casos, fiquei com pessoas que ainda saio e também fiz novos amigos”, conta Luciana.
Roberto também já usou o Tinder para encontrar pessoas. “Saí com duas garotas pelo Tinder. Com uma delas, nos tornamos tão amigos que conversamos até hoje. Foi ela, inclusive, que mostrou meu perfil no Lulu”, explica. “Gosto de conhecer pessoas – seja para ficar ou fazer amizade – tanto pessoalmente como na internet. Mas sinto que a relação demora menos para evoluir atrás do smartphone ou computador. Quando você não tem o físico, tem que apelar para a personalidade, e se torna algo muito mais íntimo”, opina Luciana.
“Quando você marca de sair com alguém pelo Tinder, você já sabe que vai ficar com aquela pessoa. É implícito. Tudo acontece muito rápido, o que também é bom pra quem quer se relacionar, já que a conquista é mais fácil”, diz Roberto.
Novo cenário ou tendência passageira?
Mas afinal, para onde vão todos esses aplicativos de relacionamento? Eles vieram para ficar ou são uma febre momentânea? Ao que tudo indica, isso tudo vai passar daqui a algum tempo, assim como um meme, de que depois de uma ou duas semanas, poucos se recordam.
“Essas tendências são como ondas. Vão e voltam de tempos em tempos. E isso não é recente. Se você for parar para pensar, a primeira forma de relacionamento tecnológico foi pelo pager, que foi moda nos anos 90. Hoje são os aplicativos. Resta saber qual será a próxima onda”, afirma Pollyana Ferrari.
Enquanto os apps de relacionamento não caem no esquecimento, o jeito é aproveitar, com muita parcimônia. Se você quer conhecer alguém novo, confira a nossa seleção de 4 apps para paquera online.
[* Os nomes reais dos entrevistados foram alterados para garantir sua privacidade.]
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Stephanie Hering, do Canaltech