Tanto insistiram que, devido à necessária divulgação do site que mantemos no ar desde 2005, projetamos endereço no Facebook, em que nos surpreende a ligeireza com que a perversidade e, em muitos casos, a mentira se propagam. Gente séria, com blogues e espaços virtuais respeitados, andou apresentando o filho do ex-presidente Lula como proprietário de grande frigorífico e uma fazenda com sede daquelas de deixar qualquer um boquiaberto. Todavia, o moço nada tem a ver com o famoso abatedouro, e o belo palácio é, na realidade, prédio de universidade. O grave da questão é que os disseminadores das inverdades nem pensam em se retratar; muito pelo contrário, continuam a sanha difamatória, enquanto bradam e clamam por mais democracia, que pelo retrospecto de suas ações mais parece uma luta em favor da liberdade confundida com libertinagem, dentro de uma lógica em que a democracia nos é apresentada como regime no qual o dístico “ordem e progresso” se vê substituído pelo preceito anarquista do é proibido proibir.
Não diferente de qualquer outra ferramenta, a internet depende do caráter do usuário. Há quem lance mão do espaço virtual como meio de adquirir mais informação e cultura, ao passo que outros se entregam ao curtir e achar tudo lindo e maravilhoso. Porém, cresce a quantidade de pessoas que, se sentindo protegidas pelo anonimato ou estimuladas pela sensação de que jamais serão alcançadas por alguma punição, semeiam lodo escatológico, que escorre das redes sociais virtuais e contamina a sociedade real.
Invenção humana
A dificuldade de se estabelecerem regras no uso da internet pode ser avaliada numa simples visita ao Facebook, no qual a todo tempo podemos nos deparar com enorme leque de denúncias contra Lula, Dilma, Marina, Eduardo Campos, Aécio Neves, Eduardo Azeredo, José Serra, não escapando nem os ministros do Superior Tribunal Federal, o que bem demonstra o tamanho do imbróglio à frente dos que se propõem engendrar mecanismos de controle para dar formatação legal ao mundo virtual, em que a virtualidade é vista como espaço de prática de vale-tudo no ringue intangível da terra de ninguém.
Os muitos anos vividos no meio jornalístico nos ensinaram quanto a desgraça alheia atrai a atenção, alicerçando a tese de que notícia boa não vende jornal nem leva freguês às bancas de revistas. Infelizmente, o Facebook é prova inconteste dessa assertiva, bastando-nos mera observação dos assuntos e imagens que são “curtidos” e compartilhados. Podemos detectar de tudo um pouco: há impropérios diretos, há rastros de falsidade, velado sentimento de inveja e disposição ferrenha para desancar desafetos ou macular a imagem e atingir a honra de pessoas tidas como inimigas. Contudo, não podíamos esperar resultado diferente, pois a internet é invenção humana e nela só poderia estar, em permanente exposição, a nossa verdadeira face – civilizadamente animal!
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Carlos Lúcio Gontijo é escritor e poeta