No mundo das redes sociais, parece que já se tentou de tudo para interligar os usuários e estabelecer um negócio ao redor dessas conexões. O critério pode ser profissional (LinkedIn), de amizade (Facebook), de interesses específicos – como o Pip.pe, de culinária, e o Fusne.com, de hobbies – e até de aparência (no Beautifulpeople.com só entra gente bonita). O ponto em comum entre todas elas, a despeito de suas diferenças, é que se tratam de pessoas em busca de outras pessoas com as quais compartilham algum tipo de afinidade. Mas por que não criar laços a partir do que as pessoas pensam, em vez de quem elas são?
Foi isso o que motivou Alexander Asseily a criar o State.com. Asseily foi criado em Beirute, mas deixou o Líbano com a família forçado pela guerra civil, em direção ao Reino Unido. Mais tarde, estudou design de produtos em Stanford, nos Estados Unidos, onde ajudou a fundar a Jawbone, cujos produtos de áudio ganharam uma aura descolada devido a seu desenho inusitado.
Asseily tem uma visão particular da internet. A rede mundial tem sido vista como um meio de livre expressão por excelência – e o início da Primavera Árabe, no Egito, é constantemente citado como um exemplo disso. Mas ao criar um ambiente onde o que importa é ser popular, muitas redes sociais inibem a manifestação da maioria de seus integrantes, criando um sistema de líderes famosos e seguidores anônimos.
Investimento de US$ 14 milhões
“Um pequeno número de pessoas compartilha a maior parte das informações e, por isso, você não escuta o que a maioria tem a dizer”, afirma Asseily. Na prática, embora a web proporcione a possibilidade de uma pessoa manifestar-se sobre um assunto, essa opinião corre o risco de ficar soterrada sob a montanha de dados que se acumula diariamente na internet. Só quando a situação fica crítica é que essas opiniões são levadas a sério, como nas manifestações de rua de junho e julho no Brasil, cita Asseily.
No State.com, o usuário pode dar opiniões sobre o que quiser. São 25 milhões de tópicos cadastrados atualmente e qualquer um pode alongar a lista. Cada tema traz palavras-chave, que funcionam como um termômetro das opiniões sobre o assunto. No caso da Copa do Mundo, as palavras variam can’t wait for (“não vejo a hora”) até corrupt (“corrupto”). Escolhidas as palavras, o usuário faz ou não comentários. O sistema mostra uma lista de pessoas que pensam de maneira semelhante, o que abre a chance de um diálogo sobre o assunto. Mas é a declaração feita sobre o tópico (como prenuncia o nome “state”) que estabelece os vínculos entre seus membros. “A proposta é criar uma topologia de ideias, não de pessoas”, diz Asseily.
Espaços para discussão na internet não são novidade. Outras redes e fóruns da web já funcionam para esse fim. A diferença do State.com é que as opiniões são compiladas e exibidas em blocos que se encaixam como se fossem um quebra-cabeça. Quanto mais uma palavra é usada, maior o espaço ocupado por ela nesse diagrama. Outro indicador é um gráfico que indica o “sentimento” das opiniões em relação ao assunto, se mais positivas ou negativas. Essa capacidade de mostrar graficamente a percepção do público é a base do modelo de negócios do State.com. Asseily cercou-se de cuidados para levar o projeto adiante. Obteve duas rodadas de investimento, no total de US$ 14 milhões, e montou um conselho de administração no qual tem assento Tim Berners-Lee, reconhecido como o inventor da world wide web ou www, o mapa que permite navegar em meio à complexa estrutura da internet.
Os mesmos tópicos, diferentes idiomas
O State.com planeja vender análises sobre marcas, produtos, serviços ou o que o mais entrar no radar da rede social. Companhias de vários setores, principalmente de produtos de consumo, já monitoram redes sociais em busca de tendências ou como canal para resolver problemas com seus clientes. A vantagem do State.com, diz Asseily, é que nos demais sites é preciso garimpar os dados úteis em meio a um palheiro de futilidades. A nova rede foi desenhada com o fim específico de colher esse tipo de informação.
O serviço está em fase de teste e pode ser acessado no endereço www.state.com. O Brasil é um dos mercados centrais para a companhia, devido a uma combinação de fatores, afirma Asseily. Os brasileiros estão entre os que mais usam as redes sociais no mundo e gostam de se comunicar. Além disso, o Brasil é um Estado democrático, com liberdade de expressão, embora a população saiba que ainda há muito o que evoluir. Isso cria um senso de urgência e uma aspiração por mudanças que não são tão agudos em democracias consolidadas.
O desafio em relação ao Brasil é o idioma. O empresário abre um sorriso ao falar do português – “é uma língua tão sensual”, diz – mas reconhece que o idioma não é popular como o inglês ou o espanhol. Isso pode ser um problema para um projeto que visa construir uma comunidade global. Para evitar riscos, a tecnologia do site permite estabelecer ligações entre os mesmos tópicos sob diferentes idiomas, de forma a superar barreiras linguísticas. Independentemente do idioma, diz Asseily, todo mundo tem uma opinião para dar.
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Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa, do Valor Econômico