Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Para a McAfee, a segurança online vai além dos vírus

Como presidente da empresa de antivírus McAfee, Michael DeCesare dedica grande parte do seu tempo às compras online. Mas ele não está passando a temporada do Natal estocando presentes – está combatendo os crimes cibernéticos. Agora que os consumidores estão cada vez mais comprando presentes online (nos Estados Unidos, cerca de 50% das pessoas dizem usar a internet para as compras), a ameaça são os hackers.

Desde que DeCesare assumiu a liderança da McAfee, no início do ano, dois anos após a Intel comprar a firma por US$ 7,68 bilhões, as ameaças online têm crescido de forma mais sofisticada. Os perigos vão desde itens pessoais (fique atento ao abrir cartões de Natal eletrônicos e nunca abra arquivos desconhecidos) a outros como ataques no Twitter pelo Exército Eletrônico da Síria, grupo de hackers que apoia o presidente sírio Bashar al-Assad. O impacto anual da espionagem e crimes cibernéticos na economia dos EUA é estimado em US$ 100 bilhões, segundo estudo da McAfee e do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, incluindo perdas de propriedade intelectual e de informações confidenciais das empresas.

Os criminosos cibernéticos geralmente se enquadram em algumas categorias. Primeiro há os “Anônimos do mundo”, ou hackers ativistas, pessoas que expõem informações de governos ou empresas ao qual se opõem moralmente. Segundo, há o crime organizado. “Eles estão percebendo que há muito mais dinheiro no crime cibernético do que na prostituição”, diz DeCesare. “Você pode comprar online a identidade de uma pessoa por menos de US$ 10.” Terceiro, há atividades financiadas por Estados e outros grupos políticos. “Todo governo tem uma divisão cibernética”, diz. Mas perigos cibernéticos agora vão além das linhas de Estado e incluem grupos como a al-Qaida. “O cibercrime é muito assim – [o país] quase não é mais relevante”, o que torna difícil responsabilizar governos.

Steve Jobs, o primeiro cliente

DeCesare acredita que cada etapa da vida diária vai migrar em breve para o mundo on-line, das casas aos refrigeradores. “No fim, você vai usar uma pequena coisa ao redor do pulso e no ouvido e ser capaz de ligar para casa a qualquer momento”, diz ele, apenas pronunciado algumas palavras. Essa nova conectividade tem algumas desvantagens. Ele cita o caso do furacão Sandy, que atingiu Nova York em 2012. “Faltou luz lá por sete dias e parecia que eles tinham voltado aos tempos da Pré-história.”

Nascido no Estado de Connecticut, DeCesare se formou pela Universidade Villanova, da Pensilvânia, e então se aventurou em uma escola de culinária. Ele decidiu que tinha que se mudar para a Califórnia após receber uma ligação de amigos da faculdade enlouquecidos com um show do cantor Jimmy Buffett lá. Então, migrou para o oeste americano em busca de um bom clima e uma vida mais calma.

DeCesare foi trabalhar na Oracle como despachante de televendas, mas 12 anos depois já estava comandando metade do mercado americano. Seu primeiro cliente como representante de campo no fim dos anos 90, diz ele, foi o fundador da Apple, Steve Jobs, que insistiu que a reunião fosse feita no saguão da Oracle, com eles sentados no chão. “Lá fui eu com meu terno novo e com uma gravata nova […] e ele aparece usando um jeans rasgado, chinelo de dedo e uma camiseta”, lembra. “Esse setor é ótimo”, pensei.

Symantec descobriu o Stuxnet

DeCesare trabalhou depois no que é hoje a empresa de dados EMC Documentum e entrou na McAffe em 2007. Hoje, como presidente, ele espera diversificar o portfólio do grupo em uma ampla gama de produtos de segurança para a área de tecnologia. “Não se trata mais de antivírus”, diz. “Trata-se da nossa vida digital.” O desafio é se defender das ameaças à medida que nos tornamos cada vez mais conectados. “Você deve ser capaz de se conectar ao [seu] laptop, tablet ou smartphone e ver uma réplica exata” da sua tela em cada um deles, diz o executivo – e até mesmo o seu carro logo será parte do mesmo sistema computadorizado.

O executivo também espera ver mais guerras cibernéticas. Em 2010, segundo autoridades, os EUA e Israel usaram um vírus de computador chamado Stuxnet para atacar sistemas que operam as instalações nucleares do Irã. Segundo DeCesare, esse foi um dos primeiros casos de uma guerra cibernética usada para fins de ataque. O código Duqu de malware usado no Stuxnet foi depois descoberto em ataques contra sistemas de controle industrial na Europa. Embora esses ataques provoquem interrupções nos sistemas, diz, eles não causam vítimas, um avanço em relação às guerras tradicionais.

O principal concorrente da McAfee, a Symantec, descobriu a existência do Stuxnet. Segundo um relatório da firma Gartner, a Symantec foi líder de mercado no ano passado, com uma participação de 19,6%, enquanto a McAfee tinha 8,8%.

Maior personalização

Segundo ele, o setor está crescendo rápido. “Com o tempo, uma indústria geralmente se consolida entre poucos participantes. Esse setor ainda não fez isso”, diz DeCesare. Ele diz que seus clientes frequentemente têm mais de cem fornecedores de segurança “e nenhum deles é compatível com o outro”.

Na sua opinião, uma internet mais segura pode melhorar as nossas vidas de várias formas. Como exemplo, ele cita que as empresas de segurança podem ajudar os sistemas eleitorais de muitos países a passarem do sistema manual de votação para um sistema digital.

No mundo desenvolvido, grande parte da comunicação é móvel. E tornar essa plataforma segura pode ser útil para coordenar atendimento médico em áreas remotas. Uma internet mais segura pode também permitir uma maior personalização – oferecendo educação online desenhada para necessidades específicas de estudantes e compras na web direcionada a certos consumidores.

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Alexandra Wolfe, do Wall Street Journal