Em 2017, haverá 3,6 bilhões de usuários de internet no mundo, praticamente a metade de população prevista para aquele ano, conforme estudo da empresa americana de tecnologia Cisco. Segundo a companhia, o tráfego anual de dados por dispositivos fixos e móveis deverá chegar a aproximadamente 121 exabytes por mês até 2017. Para dar uma ideia do que isso representa, 121 exabytes equivalem a 30 bilhões de DVDs, ou 750 quatrilhões de mensagens de texto.
Os números dão a dimensão do futuro de nossa sociedade conectada. Hoje, já somos bombardeados por informações a todo o momento. Diante disso, cabe a reflexão: como lidar com essa explosão de dados? É possível extrair daí inteligência que auxilie políticas públicas ou estratégias de negócios? Sim, existe – e o caminho para isso é o Big Data.
Esse campo da tecnologia refere-se ao conjunto de técnicas desenvolvidas a partir do momento em que se tornou possível processar quantidades gigantescas de informações. Praticamente todas as áreas de atividade econômica geram grandes volumes de dados, que acabavam descartados. O Big Data permite aos governos e às empresas extrair conhecimento desse universo escondido. Agora, em vez de apenas ter acesso ao número de visitantes de uma loja, quem foi até lá e quais equipamentos despertaram interesse, essa nova tecnologia possibilita às companhias conhecer tão bem os hábitos do consumidor que é possível indicar novos produtos, fazer recomendações exclusivas ou, até mesmo, entender por que um determinado lançamento não alcançou o resultado esperado.
Qualidade e quantidade
As primeiras aplicações de Big Data foram destinadas à publicidade. A internet possibilitou avanços na personalização de exibição de anúncios publicitários. As técnicas de Big Data, no entanto, deram a chance para que, pela primeira vez, cada usuário tivesse uma experiência completamente individual na web. Na política, um bom exemplo se deu com o Twitter. No final de 2012, o microblog foi utilizado como uma alternativa às pesquisas de intenções de voto na eleição presidencial americana. Analisando 400 milhões de mensagens diárias, a quantidade de votos pôde ser estimada, além das flutuações diárias.
O mesmo conjunto de ferramentas começa a ser usado em políticas ou estudos sobre o tráfego nas grandes cidades. Aqui no Brasil, a Maplink utiliza o Big Data em seus índices de trânsito, que conseguem assim mensurar a situação em qualquer ponto da cidade. Esses mesmos dados, posteriormente, são indicadores dos padrões de movimentação das pessoas, o que pode auxiliar a prefeitura na formulação de políticas de mobilidade urbana.
É possível também combinar esses dados com a base do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e dos preços de imóveis para dar pistas sobre as áreas que mais vão se desenvolver numa região. E mesmo negócios de grande porte começam a ser fechados de olho no Big Data. É o caso este ano da compra pela Monsanto da Climate Corporation, uma empresa especializada em cruzar informações climáticas e de situação do solo com informações das colheitas, de modo a prever a qualidade e quantidade das colheitas.
Mais pesquisas e investimentos
O ano de 2013 foi o da consolidação do Big Data. De 2014 em diante, o interesse em torno dessa tecnologia aumentará. A tendência é que mais setores, como o da medicina, abracem a novidade – inclusive no Brasil. A possibilidade de cruzar informações que antes ficariam fora de análises médicas convencionais (quantos metros você anda por dia, onde mora e trabalha, por exemplo) pode auxiliar na prevenção de doenças.
O desafio para que usos desse tipo se disseminem mais rapidamente em todo o país é a falta de profissionais capacitados para trabalhar em projetos de Big Data. Mesmo assim, o ano de 2014, por ter eleições, pode repetir o efeito que 2012 teve para o público americano: a utilização do Big Data pelo marketing político pode estimular mais pesquisas, projetos e investimentos nessa que é uma dos ramos mais promissores da tecnologia na atualidade.
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Caio Cícero Gomes é diretor de Inovação e Big Data da Maplink