A indústria de tecnologia é bastante dinâmica, com novidades chegando ao mercado com certa constância. Os smartphones, que parecem fazer parte de nossas vidas há muito tempo, surgiram a partir de 2007. O primeiro tablet foi lançado apenas há três anos. Em 2013 apareceram, com certa timidez, os primeiros wearables devices (dispositivos vestíveis), como o Google Glass e o relógio Galaxy Gear. Para o ano que começa, especialistas apontam que a tendência é que conectividade se aprofunde, não apenas em celulares e computadores, mas em objetos cotidianos.
– É a internet das coisas, com objetos conectados sem a interferência do homem. Eletrodomésticos, carros inteligentes, roupas especiais, sensores. A computação saiu dos desktops, foi para as pessoas, agora está nas coisas. Tudo está conectado e isso tende a se aprofundar – diz David Cearley, analista da Gartner.
Segundo estimativas da consultoria, essa é uma tendência irreversível. Até 2020, a previsão é que a internet das coisas – que exclui computadores, smartphones e tablets – cresça para 26 bilhões de unidades instaladas no mundo, representando um aumento de quase 3.000% em relação a 2009, que tinha 900 milhões de dispositivos desse tipo.
Sobre a explosão dos dispositivos vestíveis, Cearley é precavido. Ele acredita que outras empresas, como a Apple, lançarão novos produtos, e o Google Glass, enfim, será comercializado para o público em geral. Contudo, por questões culturais, Cearley estima que a adesão dos consumidores a esse tipo de tecnologia ainda vai demorar pelo menos três anos.
Essa não é a opinião de Alex Asseily, fundador e diretor executivo da Jawbone, e considerado uma das 50 maiores personalidades do Vale do Silício. Criador da pulseira inteligente Up, ele prevê que seu gadget enfrentará forte concorrência em 2014.
– A minha aposta é nos dispositivos vestíveis. Com a chegada de novos fabricantes, a tendência é que os preços caiam e os consumidores se aproveitem disso – diz. – Samsung e Google já entraram nessa, bem como a Sony. E o mercado espera que a Apple lance um relógio inteligente este ano.
Máquinas inteligentes
Outro setor que deve ganhar destaque no ano que se inicia é o dos sistemas cognitivos. O dia em que o computador HAL 9000, do filme “2001: uma odisseia no espaço”, se tornará realidade está cada vez mais próximo, ainda mais com o início das operações comerciais do Watson, da IBM, previsto para 2014.
O sistema de inteligência artificial ganhou destaque internacional em 2011, ao vencer dois campeões do programa televisivo de perguntas e respostas Jeopardy!. A máquina, composta de hardware poderoso aliado a um sistema de algoritmos, é capaz de compreender a linguagem natural e estruturar conhecimento em cima de uma determinada base de dados. Atualmente, o Watson está sendo usado para ajudar médicos no tratamento do câncer de pulmão em um hospital americano.
–A Apple tem o Siri e a Google, o Now. Nós temos o Watson. São algoritmos que compreendem a linguagem natural e montam correlações em bases de dados – explica Cezar Taurion, diretor de Novas Tecnologias da IBM Brasil.
Analistas também apostam na impressão em 3D. A tecnologia vem se aprimorando rapidamente e deve começar a se popularizar em 2014. As impressoras alimentadas por plástico estão cada vez mais baratas e já cabem no bolso de consumidores mais abastados. Além disso, com o uso de diferentes materiais, produtos antes impossíveis de serem criados vão chegar ao mercado.
– Antigamente, existiam as lojas de fotografia. Imagine uma loja de impressão 3D? O cliente leva o molde e sai com uma peça impressa. Isso é factível e já está acontecendo – diz Taurion.
Híbridos e All-in-ones fabricados no Brasil
Para o mercado de computadores, a tendência é que a venda de desktops e notebooks se estabilize após anos de quedas e que a velocidade de crescimento dos tablets diminua. No Brasil, novidades em “híbridos” (mistura de tablet com notebook) e “All-in-ones” devem atrair a atenção do consumidor. Américo Tomé, diretor de Marketing da Intel Brasil, afirma que em 2014 computadores com formatos mais modernos, que oferecem maior flexibilidade aos usuários, serão produzidos por aqui, o que vai reduzir o preço final.
As redes sociais também serão destaque em 2014. Por ser ano de Copa do Mundo, o bate-papo virtual em torno da competição deve quebrar recordes de audiência, principalmente no Twitter e Facebook.
– O brasileiro gosta muito de redes sociais. E se você for avaliar, os jogadores de futebol estão entre os perfis no Twitter com maior número de seguidores – ressalta Taurion, da IBM Brasil.
Para que isso aconteça, é preciso investir em infraestrutura de rede, sobretudo a móvel. Seguindo o cronograma da Agência Nacional de Telecomunicações, em maio todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes deverão receber o 4G. Contudo, para Eduardo Tude, da consultoria Teleco, 2014 ainda não será o ano que a tecnologia vai explodir no país.
– O 4G é uma tecnologia nova e os smartphones compatíveis ainda são muito caros. O Brasil vai terminar o ano com cerca de 1 milhão de assinantes 4G. Para 2014, a previsão é de 5 milhões de usuários da rede.
Apple precisa inovar
Entre as grandes empresas de tecnologia, a maior expectativa gira em torno da Microsoft, que vai finalizar a compra da Nokia e anunciar um novo diretor executivo. Segundo o analista da Gartner, a empresa deve focar no refinamento da integração das diferentes plataformas do Windows e pode apresentar tablets e smartphones mais robustos.
Sobre a Google, o mistério gira em torno do setor de robótica e carros autônomos. Este ano, a empresa adquiriu oito empresas ligadas à fabricação de robôs e colocou Andy Rubin, o criador do sistema operacional Android, à frente do projeto envolto em segredos.
– Algo grande está por vir – afirma Cearley.
Como de costume, o ano da Apple vai se desenrolar em torno de especulações sobre as novas gerações do iPhone e do iPad, mas a expectativa é que a empresa lance o iWatch, dando seu primeiro passo no campo dos dispositivos vestíveis, prevê o analista da Gartner.
– O último produto matador que ela lançou foi o iPad, em 2010. A pressão será por uma nova rodada de inovação. Se isso não acontecer, será posta em dúvida sua habilidade em inovar.
******
Sérgio Matsuura, do Globo