Saturday, 07 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

Em busca de um novo líder

Para entender por que a Microsoft Corp. está tendo dificuldade para escolher um novo líder, considere a dinâmica peculiar do seu conselho de administração: um fundador que acha que sabe o que é melhor para a empresa, um diretor-presidente que deixou o cargo sob pressão para acelerar mudanças de estratégia e, em breve, um investidor ativista que aumenta a pressão por reformas.

Steve Ballmer anunciou o plano de se aposentar há mais de quatro meses. E apesar de a Microsoft ter informado que vai escolher um sucessor até meados de 2014, o conselho esperava ter definido um nome até dezembro, segundo pessoas a par dos planos. John W. Thompson, que está liderando a busca pelo novo diretor-presidente, diz que ele e outros membros do conselho procuram metodicamente a pessoa certa para um papel complexo. Mas diretores de empresas, consultores de gestão e alguns executivos cogitados para o posto dizem que o potencial de confronto com o conselho da Microsoft não torna o cargo muito atraente.

Caso o presidente, Bill Gates, e Ballmer permaneçam no conselho, a Microsoft se tornaria um caso atípico. Só oito empresas do índice S&P 500 contam com dois de seus ex-presidentes no seu conselho, segundo a Equilar Inc., firma que acompanha a remuneração de executivos. “Nenhum diretor-presidente que se preze quer seus antecessores questionando tudo na sala de reuniões”, diz Jean-Louis Gassée, ex-executivo da Apple Inc. que é membro de conselhos de empresas de capital aberto.

Decisões polêmicas

A Microsoft não divulgou se Ballmer e Gates, que é um dos fundadores da firma e foi diretor-presidente por 19 anos, continuarão no conselho. Pelo menos alguns dos executivos de fora da empresa que discutiram o cargo de diretor-presidente com os membros do conselho da Microsoft expressaram preocupação de não poder atuar se os dois conti-nuarem no conselho, segundo pessoas a par das conversas.

A experiência da Microsoft mostra o desafio de criar um papel para um fundador ou um ex-diretor-presidente. Tê-los por perto pode ser útil, a menos que o relacionamento gere brigas ou acabe num golpe do conselho.

O ex-diretor-presidente da Pfizer Inc. Henry “Hank” McKinnel conviveu no conselho com seu antecessor por mais de cinco anos, até que os conselheiros orquestraram sua aposentadoria em 2006, 18 meses antes do previsto. Em entrevista no fim de outubro, McKinnell disse que é uma má ideia deixar um ex-diretor-presidente no conselho. “Você nunca sai por cima.”‘

O diretor-presidente da Ford Motor Co., Alan Mulally, que está sendo considerado para o cargo da Microsoft, vive uma situação semelhante. Bill Ford Jr. é presidente executivo do conselho e também é ex-diretor-presidente, um dos principais acionistas e membro da família fundadora.

Alguns candidatos para o posto mais alto da Microsoft parecem pouco à vontade com Ballmer, segundo pessoas a par do raciocínio deles. Ele tomou decisões recentes que alteraram a estratégia da empresa e geraram polêmica entre gestores de fundos e investidores. Dez dias após anunciar sua saída, em agosto, Ballmer fez um acordo de US$ 7,4 bilhões para comprar a divisão de celulares e patentes da Nokia Corp., levando a Microsoft para um novo setor e adicionando 32.000 pessoas à força de trabalho.

Administração e estratégia

As pessoas que o conhecem questionam se Ballmer apoiaria um sucessor que quisesse mudar sua estratégia ou políticas. Também não está claro como o conselho da Microsoft, que aprovou as mudanças de Ballmer, reagiria. Os membros do conselho da Microsoft têm procurado administrar o papel de Ballmer na triagem de candidatos com cautela, diz uma pessoa a par do tema. Nem Ballmer nem Gates, que juntos são donos de 8,3% das ações da Microsoft, têm “poder de veto” sobre a escolha, diz a fonte.

No que pode ser um complicador a mais, G. Mason Morfit, presidente do fundo de hedge ValueAct Capital, que comprou mais de US$ 2 bilhões em ações da Microsoft em 2013, deve se juntar ao conselho da empresa.

As relações podem ficar difíceis quando um investidor ativista entra num conselho que havia sido criticado por ele. O acionista William Ackman saiu do conselho da J.C. Penney Co. em agosto, após conflitos com outros membros sobre a administração e a estratégia da varejista americana. Por outro lado, a adição de representantes de acionistas ao conselho da Office Depot Inc., em 2012, ajudou a suavizar sua conturbada fusão com a OfficeMax Inc.

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Shira Ovide e Joann S. Lublin, do Wall Street Journal