Com um grande gargalo na área de infraestrutura, o Brasil está entre os países com mais barreiras para o desenvolvimento da economia digital no mundo. Isso significa que, por conta de aspectos como disponibilidade de acessos, custo e regulação, indivíduos e empresas, em especial as de pequeno e médio porte, não conseguem tirar proveito de todas as oportunidades de troca de informações e geração de negócios criadas pela web.
Em uma lista antecipada ao Valor que será divulgada hoje pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), o país ocupa a 52ª posição dentre as 65 nações avaliadas. O Brasil ficou atrás de outros países em desenvolvimento, como Rússia (43ª colocado) e México (51ª), mas aparece à frente de China (53ª) e Índia (58ª).
No topo do ranking, com menos entraves para a economia digital, estão os países nórdicos Suécia, Finlândia e Dinamarca. Na sequência, vêm Suíça e Hong Kong. Os Estados Unidos aparecem em sexto lugar. A Nigéria está na última colocação.
A posição de cada país foi definida levando em conta quatro áreas: os problemas de infraestrutura que limitam o acesso, questões de mercado que impedem que empresas e consumidores façam transações no ambiente on-line e oferta de conteúdo. Quanto maior as dificuldades detectadas no somatório das quatro áreas, pior a colocação do país. O estudo foi encomendado pelo Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), organização global que gerencia o registro de sites na internet.
Regras eficientes
As forças que impedem o avanço da economia digital foram batizadas pela BCG de atrito digital, ou “e-friction” – uma referência ao conceito da física que define a força que atua sobre objetos que tentam se movimentar quando estão em contato com outro. “Como a economia digital tem apresentado uma expansão acelerada, que geralmente é maior que a de setores tradicionais da economia, as nações com um índice de atrito alto correm o risco de perder um grande impulsionador de crescimento e de geração de empregos”, escreveram Paul Zwillenberg, Dominic Field e David Dean, autores do estudo.
O BCG estima que nos países onde há menos limitações ao desenvolvimento digital, esse setor tenha uma participação no Produto Interno Bruto (PIB) que chega a ser 2,5% maior que a registrada nos países onde os impedimentos são maiores. Pode parecer um percentual baixo, mas para um segmento que pode gerar US$ 4,6 trilhões às economias dos países do G-20, é um volume bastante significativo.
Há alguns anos, o Banco Mundial também divulgou um estudo que tentava medir o impacto do mundo digital na economia dos países. A estimativa é que um aumento de 10% na presença da internet com conexão de banda larga nos lares tenha uma contribuição de até 1,21 ponto percentual no crescimento do PIB de países desenvolvidos. Para nações emergentes, a evolução das riquezas pode chegar 1,38 ponto percentual.
De acordo com o BCG, a redução do atrito é uma tarefa dos governos, que precisam criar regras eficientes e estimular investimentos em infraestrutura. “As políticas que não levarem em conta a velocidade das mudanças causadas pelas tecnologias e inovações que serão possibilitadas, poderão causar mais e não menos atrito”, escreveram os autores.
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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico