Na internet, uma boa polêmica dá sempre audiência. Quando uma dupla de professores do Departamento de Engenharia de Princeton, uma das melhores universidades americanas, prevê o fim do Facebook, não poderia ser diferente. Entre 2015 e 17, dizem John Cannarella e Joshua Spechler, 80% dos usuários da rede social vão embora. E, no próprio Facebook, a notícia se espalhou. Parece uma previsão maluca, mas a ciência que a sustenta faz sentido. O que não quer dizer que esteja correta. Várias mudanças no site de Mark Zuckerberg, desde que sua empresa abriu capital na Bolsa, podem corroborar este fim prematuro.
O Facebook fez, ao abrir capital, uma quantidade absurda de dinheiro. Não é um site pequeno: tem próximo de um bilhão de usuários registrados. No mesmo momento em que entrou a imensa fortuna nos cofres da empresa, começaram também as cobranças. O Google, seu principal rival na internet, faz dinheiro. É uma empresa muito lucrativa. Não é o caso do Face.
Pois naquele mesmo momento, conforme vinham as primeiras cobranças por resultados imediatos típicas de Wall Street, a rede fechou-se em copas. Mudaram algoritmos, mexeram na estratégia, reviram conceitos. Muito mudou, embora poucos usuários tenham percebido.
A principal mudança é comercial. O Facebook estimulava empresas a criarem páginas próprias. Quem quisesse espaço criava lá sua área, punha conteúdo, pagava um dinheiro para que um time gerenciasse tudo. O objetivo: fãs. Gente que clicasse o botão Curtir. Quando fazemos amizade com alguém ou curtimos uma página, esperamos ver as atualizações de amigos, conhecidos e empresas no mural, na linha do tempo, quando abrimos o site.
Vírus que vão e voltam
Só que não é assim que funciona. Nunca foi: nem todas as atualizações aparecem. O que aparece são as novidades publicadas por aquelas pessoas com quem nos relacionamos mais. Sempre foi assim. A novidade é que as páginas das empresas começaram, lentamente, a sumir.
Tem motivo. Se o conteúdo de empresas não aparece mais, ou se aparece muito pouco, é porque assim o Facebook faz dinheiro. Se quer aparecer para seus fãs e seus amigos, o jeito é abrir a carteira.
Nenhuma outra rede social funciona assim. Twitter, Instagram, YouTube. Se você clica para seguir as publicações de alguém, recebe o que pediu. Quem produz conteúdo muito popular, em algumas das redes, chega a ser pago. É o caso do YouTube. Lógica inversa. A mudança de algoritmo do Facebook facilita que conteúdo muito curtido apareça com mais frequência. O mais popular, segundo o videologger Derek Muller, são bebês e casamentos. Mas ponha-se na lista as bobagenzinhas de sempre. Quem acessa o Facebook, sabe. De um tempo para cá ele parece um pouco mais pobre.
A teoria dos professores de Princeton é que redes sociais seguem modelos de epidemiologia. Imagine um vírus: ele contamina um, depois outro, um terceiro. Vira epidemia. Depois de um tempo, porém, conforme começa a encontrar gente com anticorpos, seu potencial de se espalhar vai perdendo forças. O vírus se extingue. Seguindo essa lógica, aos poucos as pessoas vão deixando o Facebook. Quanto mais gente sai, menos interessante ele é para quem fica. Segundo um relatório da iStrategyLabs, 25% menos adolescentes americanos estão lá, quando comparamos com o número de 2011.
O problema da teoria não é a comparação com vírus. Redes, de fato, funcionam seguindo modelos evolutivos. Mas o único fim possível não é a extinção. Um vírus pode não contaminar ninguém, se extingue e morre como inúmeros sites. Pode ser de rápida contaminação, sai matando hospedeiros e se extingue por não ter mais quem infectar. Mas existe também o meio termo: vírus que contagiam, mas que não são graves. Vão e voltam. Como uma gripe, nem desaparecem por não encontrar hospedeiros, nem por ter matado todos.
É difícil acreditar que o Face vai acabar tão rápido. E é muito cedo para dizer que tipo de vírus ele é.
******
Pedro Doria é colunista do Globo