Apesar de muita censura, apesar de possuir muita bobagem e lixo intelectual, fazendo um reflexo preocupante de nossa sociedade, ainda que esteja nas mãos de apenas meia dúzia de grandes empresas e embora seja palco dos mais absurdos crimes contra a dignidade humana, como pedofilia, vídeos de massacres e bullying, a internet tem por sua característica básica ser um suporte para independentes. Tudo. Ou quase tudo.
Jornalistas independentes, músicos independentes, artistas plásticos independentes, cartunistas independentes, chefs de cozinha independentes, estilistas independentes. Qualquer profissão – ou, novamente, quase todas – pode encontrar na web uma viés produtivo para se fortalecer e ser reconhecido, ganhar fama, dinheiro e, principalmente, fazer parte do cenário mundial de anônimos que constroem cada bit e byte, mas fazer parte sendo um “anônimo menos anônimo”.
Grandes responsáveis por lançar projetos independentes no mundo, os blogs e as mídias sociais digitais conectadas em rede configuram-se como plataformas primárias tanto na busca por novos ares como na tentativa de um profissional ser reconhecido. Em países onde a censura é cada vez mais predominante, por exemplo, esses canais servem como válvula de escape para que artistas e intelectuais contrários às posições atuais de um governo contribuam para com o resto do planeta com seus pontos particulares.
Políticas falidas e proselitismo ideológico
Muitas vezes por serem hospedados em países democráticos, os blogs e as redes sociais atraem cada vez mais projetos independentes mundo afora, atraindo, também, olhares tanto de empresas atrás de novos talentos (para ingressá-los ao engessado sistema) como olhares de um público que já não suporta mais o agenda setting e necessita urgentemente consumir novos traços informativos. Nesse ponto, esses canais funcionam quase sempre de maneira positiva para todas as vertentes de nós envolvidas, como artista, empresa, público e afins.
Se observarmos como são construídos esses projetos e os compararmos aos modelos tradicionais existentes e vigentes, uma grande lacuna a ser preenchida será exposta. Muitas vezes o objetivo principal não é o financeiro, nem mesmo a chamada fama, os cinco minutos de exposição, mas o fato de poder se lançar ao mundo como um novo músico, como um jornalista com opiniões diferentes da grande mídia, ser reconhecido como artista plástico ou, ainda, apenas contribuir para que o leque cultural da rede seja ampliado.
Dessa forma, quando discutimos internet, na verdade discutimos aspectos culturais independentes, que mesmo formulados, mantidos e controlados dentre de ambiente cercados por empresas colossais om interesses meramente econômicos, consegue fornecer um resgate primordial de cenários plurais, multicoloridos e, principalmente, extremamente variado quanto a fatores sociais, econômicos, escolares, geográficos e históricos. A cria que nasceu junto com a rede mundial é, de perto, vigiada, mas independente em sua natureza.
O que nos resta é tentar manter esse nível de independência a salvo, pois forçar um controle ainda maior sobre a rede é destruir todo um ecossistema cultural que já possui vida própria. Sufocar a rede em nome de “algo maior” é destruir parte da cultura humana, pois já não há como criar relatos históricos da nossa civilização sem mencionar o incrível progresso de produção cultural que a sociedade ganhou com a digitalização de seus pilares. Cabe a nós, usuários, governo, empresas, imprensa e demais anônimos não deixar que uma parte ímpar da nossa cultura seja suprimida em nome de fundamentações políticas falidas e proselitismo ideológico.
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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!