“Este comentário aqui está correto”; “Aquele ali está errado”; “Correto por Fulano ser do meu lado” e “Incorreto por fulano ser nazista”, dizem eles. Não importa o tamanho dos comentários nem tampouco a qualidade dos argumentos que neles tenham sido colocados. Para todos, indistintamente, os bedéis de postagens – homens completos e dotados de saber universal – têm o selo de qualidade cabível: “aprovado” ou “reprovado”.
Daí, a concisão de suas sentenças definitivas. Se há cem, duzentos comentários a um texto veiculado em blog, são cem, duzentos concisos “aprovado” ou “reprovado” – às vezes, acompanhadas as chancelas de reprovação por acusações de nazi-fascismo, de direitismo político etc.
Lamentáveis figuras as que têm esse calibre. Opinião mesmo, pensamento próprio, os têm em índice zero. Isso porque o tamanho de suas sentenças nos leva à inevitável conclusão de que só sabem papagaiar o que leem em sites que esposam a mesma opinião que a sua. Sites, por sinal, dignos de comparação com os putrefatos canais urbanos, córregos de dejetos sanitários em que se transformaram os outrora rios que cruzam muitas das grandes cidades brasileiras.
Apenas o que é debatido
Os blogueiros da Veja têm o seu outro lado da moeda em certos sites favoráveis ao governo, no qual os próprios donos se prestam à arte da baixaria. Comentários depreciativos, meramente veiculadores de má educação, são vistos de parte a parte, da direita à esquerda política – seja da parte de blogueiros, jornalistas ou coisas que os valham, seja da parte de meros comensais ou visitantes de sites que comentam frequentemente ou apenas de forma esporádica.
Verborragia que se torna esgoto a céu aberto não tem lado, afinal de contas. E, infelizmente, ela vem sendo repetida diuturnamente na seção de comentários, mesmo de bons sites. Os bedéis de postagens são mestres na arte da falta de educação, com sua insistente tendência de misturar o assunto que vem sendo discutido com características pessoais dos comentaristas. Assim, pululam acusações de nazismo, de direitismo, de dependência de emprego político. Surgem até mesmo “acusações” (!) de homossexualismo, de “paulista”, de “nordestino” etc.
Se você tem a ousadia de ter um sobrenome alemão e discorda de um bedel de postagem, pronto, esteja certo de que haverá insinuações de que você é, na verdade, um comandante de campo de concentração da II Guerra Mundial, um Eichmann da vida ou até coisa pior, se possível for. De outra banda, se nasceu em Alagoas e tem a ousadia de declará-lo e ao mesmo tempo discordar do bedel de postagem, um abraço. Será automaticamente rotulado como beneficiário do Bolsa Família e eleitor possuidor de voto de cabresto.
Seria bem mais construtivo que as pessoas se limitassem a dar sua opinião e, em caso de discordância, se ativessem ao que estava sendo debatido, deixando de lado aspectos pessoais dos comentaristas que, em geral, nada têm a ver com o objeto da discussão.
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Lucas Costa é analista judiciário e advogado