Reflexo de sua popularidade no país, o Faceboook atingiu o topo das denúncias de crime na internet feitas no Brasil em 2013. A rede social abrigou 30% das páginas denunciadas no ano passado.
O levantamento é da ONG Safernet, especializada em segurança na rede, por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. A página reúne estatísticas de sete entidades que possuem canais on-line para acusações anônimas.
A Folha teve acesso exclusivo aos números.
Foram denunciadas 16.672 páginas únicas hospedadas pelo Facebook. O salto é de 47,5% em relação ao ano anterior (11.305). No mesmo período, a base de usuários mensais ativos avançou de 61 milhões de pessoas para 83 milhões, alta de 36%.
Até 2012, a liderança do ranking era do Orkut, posição ocupada pela rede do Google desde 2006, quando os números passaram a ser registrados. Em seu último ano no topo, o Orkut concentrou 32% das denúncias, enquanto o Facebook, o segundo colocado, tinha 20%.
Em 2013, a ordem se inverteu, e o serviço do Google ficou na vice-liderança com 19%, ou 10.373 denúncias. Houve queda de 42% nos casos envolvendo o Orkut.
Embora seja esperado que a rede social mais popular também ocupe a liderança de denúncias, a troca de posição entre Facebook e Orkut demorou a acontecer. Desde setembro de 2011 a empresa de Mark Zuckerberg é a preferida dos brasileiros.
Além de Facebook e Orkut, outros serviços com elementos sociais completam o topo do ranking. YouTube (3%), Twitter (2%) e Ask (1%) aparecem entre os 5 primeiros.
Apesar de ser um termômetro, é importante ressaltar que nem tudo o que é denunciado à central é crime –a Safernet não apura quantas denúncias tornam-se processos.
Os dados do site não excluem casos em que a denúncia é falsa ou vazia. Alguém pode, por exemplo, denunciar uma página sem conteúdo ilícito só para prejudicar um terceiro.
Racismo
No Brasil, o tipo de crime mais denunciado ainda é a pornografia infantil. Foram 80.195 denúncias em 2013. Mas isso não se aplica ao Facebook, cujo crime mais reportado é o racismo, com 6.811 casos. A pornografia infantil aparece em segundo, com 4.830 notificações.
Para Thiago Tavares Nunes de Oliveira, presidente da Safernet, os usuários ficam menos expostos no Facebook, e assim denunciam menos.
“Há duas razões para isso: eles implantaram filtros de detecção de imagem, que bloqueia a foto antes mesmo de ser carregada”, afirma.
A situação é inversa à do Orkut, que ainda é atormentada com denúncias de pornografia infantil (4.704 denúncias). O crime de apologia e incitação a crimes contra a vida aparece em segundo lugar (1.718 denúncias).
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Facebook considera volume de denúncias pouco expressivo
Para o Facebook, o volume de denúncias envolvendo o serviço não é expressivo. Ao considerar 83 milhões de usuários ativos mensais no Brasil, a empresa destaca que 0,02% da base seria afetada.
Além dos filtros que fazem a remoção automática de imagens, o Facebook afirma que tem uma equipe que analisa todo o conteúdo reportado pelos usuários.
Porém, nem tudo que é denunciado é removido. A companhia lembra que em algumas situações o conteúdo é subjetivo –o que explicaria a liderança de denúncias de racismo, por exemplo.
O Facebook diz ainda que manter os usuários seguros dentro do serviço é sua prioridade e que os incentiva a reportar páginas que violem os termos de uso, pois considera este o meio mais efetivo de remoção. Questionada sobre o volume de páginas removidas por crimes, a rede social diz tratar-se dado sigiloso.
Nos EUA, em 2011, reportou ao NCMEC 81.017 casos de pornografia infantil.
Já o Google diz que tem regras claras para combater a postagem de informações ou imagens ilícitas e que remove conteúdos em versões regionais do site, de acordo com a legislação local.
Em novembro, o Google anunciou medidas para bloquear pornografia infantil de sua ferramenta de buscas. (B.R.)
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Bruno Romani, para a Folha de S.Paulo