Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carros e brinquedos

É curioso. À medida que os videogames de direção se tornam mais realísticos, a experiência de dirigir um automóvel se torna mais lúdica. A tal da gamificação, processo que atribui pontos, medalhas e desafios a partir de dados coletados, comum em smartphones, vem sendo transportada para os automóveis na expectativa de motivar uma nova geração que não se encanta com um carango.

O que a princípio parece má notícia, por ser mais um elemento a disputar a atenção dos motoristas, pode ter efeitos benéficos. O componente social da direção ajuda a evitar barbeiragens, aumenta a civilidade e até pode alertar para a presença de maus motoristas.

A gamificação do trânsito já é popular com aplicativos como o Waze, que alertam quando há congestionamentos e identificam outros membros da comunidade na rua. Um passo além, o SmileDrive registra o tempo gasto no volante e a rota estabelecida, atribuindo pontos de acordo com as ocorrências, marcando passageiros em mídias sociais e compartilhando fotos.

Sistemas digitais automotivos eram, há pouco tempo, independentes. Levando-se em conta que um carro demora, em média, cinco anos entre seu projeto e a produção final, é fácil entender por que as inovações não empolgavam. Boa parte delas era tímida, restrita a pequenos monitores operados por botões ou toques na tela, falando uma língua tão estranha quanto a dos DVDs e de máquinas de lavar.

Ao conectar os carros, essa limitação desaparece. Os sistemas automotivos podem se atualizar automaticamente e criar suas próprias lojas de aplicativos. A indústria caminha a passos largos nessa direção, que pode revitalizar toda indústria. Um bom exemplo é a Open Automobile Alliance, associação que reúne Google, Audi, GM, Honda, Hyundai e Nvidia. Anunciada no começo do ano, ela promete levar o sistema operacional Android para os carros no futuro próximo.

Rede eficiente

Veículos conectados, equipados com sensores e operados por comandos de voz mudam completamente a ideia que se tinha de dirigir. Ao usar recursos de computação a bordo e na nuvem, análise de métricas e sistemas de operação e manutenção remotas, eles transformam o trânsito em uma rede dinâmica e inteligente.

Já estava na hora. Com mais de 1 bilhão de carros nas ruas do mundo, a indústria automobilística precisa investir pesado em inovação se não quiser que a tragédia de Detroit se espalhe pelo planeta.

Depois de muita letargia, ela parece ter acordado. Primeiro vieram os veículos movidos a combustíveis alternativos. Depois, híbridos e elétricos. A próxima etapa são os conectados, que, em dez anos, deverão ser mais da metade da frota.

Até lá será preciso levantar boas questões tecnológicas, logísticas e legislativas, mas não há dúvidas de que a mudança é definitiva.

Supermáquinas logo falarão umas com as outras e com a infraestrutura das ruas, ajudando a desenvolver uma rede de transporte mais eficiente, praticamente livre de problemas no trânsito, acidentes e poluição. Usando protocolos de comunicação entre máquinas, os novos carros se adaptarão a seus usuários de tal forma que, quando andarem sozinhos, ninguém estranhará.

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Luli Radfahrer é colunista da Folha de S.Paulo