Foram necessários apenas dez dias para o Facebook fazer a maior e, muito possivelmente, a mais cara aquisição de uma companhia apoiada por capital de risco. Na quarta-feira, a rede social pagou US$ 19 bilhões pelo WhatsApp, aplicativo de bate-papo de crescimento acelerado, depois de Mark Zuckerberg encontrar-se com os fundadores da empresa, no domingo retrasado.
Avesso à publicidade, o WhatsApp é uma companhia de 50 funcionários cuja sede fica na mesma rua que o Facebook. Ao contrário de muitas empresas do Vale do Silício, que absorvem a maior quantidade de financiamento possível, ela era administrada de maneira enxuta, com apenas US$ 60 milhões, metade dos recursos usados pela Snapchat [outro aplicativo de mensagens], que é bem menor. Diferentemente da maioria das companhias da internet, o WhatsApp não veicula anúncios. Em vez disso, cobra assinaturas modestas de US$ 1 por ano de alguns usuários.
Mas, silenciosamente, ao longo de quatro anos, a empresa atingiu quase a metade do tamanho do Facebook. Atraídos pela promessa de uma alternativa barata e rápida às mensagens de texto, 450 milhões de usuários entram em seu sistema todos os meses, sendo que 1 milhão de pessoas aderem ao serviço a cada dia.
À medida que o Facebook embarca em uma nova estratégia para criar um pacote de aplicativos que a ajude a manter os usuários, em transição para a internet móvel, analistas afirmam que ter um serviço de mensagens pode não ser uma má ideia.
Robert Peck, analista do banco de investimento SunTrust Robinson Humphrey, diz que os investidores precisam superar a “surpresa diante do preço”. “Na hora, você cai da cadeira”, afirma ele, comparando o negócio a aquisições similares anteriores, como a do YouTube pelo Google por US$ 1,5 bilhão, que pareceu muita coisa na época, mas que de lá para cá se mostrou uma aposta muito lucrativa.
Fluxo de caixa
A possibilidade de chegar a 1 bilhão de usuários ou mais, dá ao Facebook muito com o que jogar, diz Peck. Ao dividir o valor da empresa pelo número de usuários, ele afirma que os usuários do WhatsApp parecem baratos (cerca de US$ 40), em comparação com um usuário do Facebook (US$ 140) e do Twitter (US$ 160).
Resistindo à palavra “bolha”, que vem sendo sussurrada com a disparada dos valores das empresas de tecnologia no último ano, Mark May, analista do Citigroup, diz que o valor parece “razoável” ou mesmo “conservador”.
O Facebook enfatizou que o WhatsApp continuará sendo gerenciado de maneira independente e que no curto prazo tentará aumentar o número de usuários, e não suas receitas. Zuckerberg disse, na quarta-feira, não acreditar que os anúncios sejam necessariamente a melhor maneira de gerar receita com as mensagens eletrônicas.
Em 2012, quando o Facebook comprou o Instagram por mais de US$ 1 bilhão, o preço provocou surpresa, mas depois os analistas passaram a ver como o negócio como uma pechincha, especialmente porque permitiu à rede social atrair usuários mais jovens.
Brian Wieser, analista da empresa de pesquisa Pivotal Research, diz que essa foi “uma estratégia defensiva” para impedir que Facebook se tornasse um novo MySpace, que era extremamente popular, mas murchou rapidamente. “Parece ser uma estratégia muito inteligente de gerenciamento de redes sociais, limitando os riscos”, afirma ele. “Mas essa é uma questão separada da avaliação, à qual é muito difícil chegar.”
Wieser diz que há poucas informações para se entender como as empresas chegaram ao preço de US$ 19 bilhões. Segundo seus cálculos, sob esse valor, o WhatsApp terá de gerar um fluxo de caixa de US$ 1 bilhão por ano até 2018. “Mesmo olhando para isso sob um horizonte razoavelmente longo, é difícil entender o preço.”
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Hannah Kuchler, do Financial Times, em San Francisco