Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alguma coisa está fora da ordem na internet

É curioso, mas o termo “internet”, que evoca modernidade, está ficando velho. Em breve, falar que “acessou a internet” vai soar como alguém que diz que ouviu um disco na eletrola. Depois de 25 anos de acesso comercial, o período de encantamento com a “nova” tecnologia começa a ficar para trás.

As razões são muitas. Uma é que a rede caminha para se tornar pano de fundo, infraestrutura, tal como o sistema elétrico. Com isso, a diferença entre conexão e desconexão deixa de fazer sentido.

Claro que o desafio da inclusão digital continuará (como continua para a eletricidade), mas o serviço de acesso à rede será considerado como mais um serviço essencial.

Impacto positivo

Outra questão é o desencantamento. Como em toda nova tecnologia, há um excesso de expectativas, que depois acabam frustradas. A internet mudou o mundo, mas não exatamente como se esperava que fosse mudar.

Esse desencantamento chega agora ao Vale do Silício. A revista Wired publicou artigo fulminante sobre tema, chamado “O Vale do Silício precisa perder sua arrogância ou corre o risco de ser destruído“.

Outro sinal de revolta é o ácido manifesto First Things First 2014, assinado por 500 designers e programadores, chamando a atenção para problemas éticos da tecnologia. Em suas palavras: “Alguns de nós emprestamos nossos talentos para iniciativas que abusam dos direitos humanos, da lei e da privacidade, colocando vidas em risco. Estamos negando a nossas profissões o potencial de gerar um impacto positivo.”

Alguma coisa está fora da ordem. Fora da nova ordem da internet.

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Ronaldo Lemos é colunista da Folha de S.Paulo