A rede Hyatt possui 450 hotéis; A Airbnb, nenhum, mas vale mais. A Hertz tem dezenas de milhares de carros de aluguel; já o Uber é só um aplicativo que comunica o cliente com o motorista, mas vale quase a metade. A Airbnb e Uber, duas empresas nascidas na Internet há menos de seis anos, são os últimos exemplos da nova economia; melhor dizendo, de uma de suas evoluções. Após comprovar a sustentabilidade da economia gratuita (caso do Angry birds ou do Candy Crush), agora ganha força a economia colaborativa, seja para somar esforços (crowdfundig), seja para compartilhar propriedades que estão sendo subaproveitadas.
A Airbnb nasceu em 2007 para resolver uma necessidade urgente: buscar uma cama em uma San Francisco com os hotéis abarrotados por causa de um congresso de desenhistas. As camas oferecidas por alguns voluntários reduziram o problema de um grupo de amigos. Hoje, a Airbnb oferece 600.000 alojamentos de pessoas particulares –desde iglus no Alasca até cabanas no Havaí– e concentrou 10 milhões de reservas. As cifras importam mais quando se considera que 50% delas ocorreram no ano passado. A progressão é exponencial. Em 2013 seu faturamento (250 milhões de dólares) dobrou graças às tarifas que cobra na intermediação entre proprietário e hóspede e graças à publicidade das ofertas destacadas.
A Airbnb busca um financiamento de 1,3 bilhão de reais que acabarão aumentando o valor da pontocom para 7,24 bilhões reais, o que significa mais, por exemplo, do que o valor da veterana rede hoteleira Hyatt.
Se parecia difícil fazer negócios com os quartos ociosos de sua casa, pior ainda era com o carro. A aplicação Uber mostra em seu smartphone a que distância está um de seus carros com motorista, quanto demorará e quanto cobrará. O pagamento é para o Uber, não ao motorista (nem sequer é necessária gorjeta), e permite dividir a conta entre os viajantes do carro.
Em cinco anos, o Uber estendeu-se para 80 cidades de 34 países e o valor da empresa supera os 8,4 bilhões de reais, metade do valor da veterana Hertz. A cada dia contrata mais de uma pessoa, não para dirigir. Em seu modelo não há motoristas, e também não é proprietária dos carros. “Estamos crescendo 20% ao mês e precisamos 100.000 carros a mais nas ruas”, explicou no final do ano o seu fundador, Travis Kalanick. O Uber só facilita o financiamento do carro aos motoristas que não têm um veículo ou que querem trocá-lo.
Se a Airbnb teve rusgas com as leis hoteleiras vigentes em Nova York, o Uber choca o sindicato de taxistas em quase todas as cidades onde chega, de Washington a Paris. Em ambos os casos seu modelo de negócio não é detido, como demonstram os clones nascidos ao redor do Airbnb (DropInn, Apptha ou Script…) e do Uber (Lyft, Sidecar, Instacab…).
Compartilhar dá um bom dinheiro
A Airbnb já anunciou que do alojamento entre particulares se vai estender às refeições (no estilo dos paladares cubanos) e às visitas turísticas, sempre com gente voluntária, não profissional, e com a mesma premissa: fugir do turismo estabelecido e pagar o menor preço.
No caso do Uber, sua rede de contatos de clientes e motoristas aumentará com entregas a domicílio durante o dia, do ramo de flores até a loja de variedades Amazon. Kalanick promete aos carros que trabalhem com ele 217.000 reais limpos por ano.
A Airbnb e o Uber são duas das pérolas das sociedades de investimento nos Estados Unidos. No passado ano mais de 200 empresas chegaram à Bolsa; neste ano o número deve chegar a 300 companhias. Muitas delas são do setor tecnológico. As sociedades de capital risco multiplicaram seu valor em bilhões de dólares e esperam aumentar seu investimento indo à Bolsa ou vendendo antes e realizando lucro.
Pelo dinheiro apostado conhece-se claramente os gostos dos financeiros. Só quatro das 44 sociedades de capital de risco fabricam algo – como as câmeras GoPro (Woodman Labs), os móveis Xiaomi ou os aparelho de áudio Beats. Elas são a exceção.
A maioria dos investimentos de capital de risco dirigem-se a novos serviços na internet, como meios de pagamento (Square e Stripe), armazenamentos de conteúdos em nuvem (Dropbox, Box), análise de dados (Palantir), segurança (Docusign) e, claro, os negócios baseados na participação coletiva, empresas que focam em conteúdos que oferecem outros serviços grátis (redes sociais como Pinterest, Snapchat ou Fab). Compartilhar a cama e o carro dão um bom dinheiro.
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Do Box ao Candy crush, usuários a preço de ouro
O Box anunciou seu lançamento na Bolsa nesta semana e o King estreou no mercado financeiro norte-americano. Mas a informação dada às autoridades da Bolsa apresentam pontos frágeis (às vezes muitos). O aplicativo King, por exemplo, tem um catálogo de 180 jogos para celulares, mas 78% de seu faturamento vem de um só: Candy crush.
Por mês, 408 milhões de pessoas jogam com ele, no entanto, só 4% gastam. O crescimento do estudo King Digital foi somado ao jogo das guloseimas; com ele multiplicou por 10 seu faturamento (4 milhões de reais) e lucrou 1,6 milhão de reais no ano passado. No entanto, a popularidade de Candy crush não caiu do céu. Em 2013, foram investidos 273 milhões de euros em marketing com os que obteve 340 milhões de novos jogadores.
Também não caíram do céu os usuários do Box, o rival do Dropbox no arquivamento de conteúdos em nuvem. Fundada há nove anos por Aaron Levie (então com 20 anos), o Box nunca obteve receitas. Para entrar na Bolsa parece ter tomado hormônios: dobrou o faturamento (90 milhões) após destinar 70% a mais de recursos ao marketing (124 milhões). Tanto para o Box como para o King a cada novo usuário custa dinheiro.
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Javier Martín, do El País