Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O dinheiro que desaparece

Revolução ou morte. Desta vez não é a ameaça de um antissistema barbudo, mas a de um homem de cabelo branco e gravata, Francisco González, presidente-executivo do banco BBVA. “Os bancos que não estiverem preparados para novos concorrentes, como Google, Facebook ou Amazon”, escreveu ele no Financial Times, “enfrentarão certamente a morte”.

Se o presidente do BBVA, banco que ganhou 2,218 bilhões de euros (6,77 bilhões de reais) em 2013, sente cheiro de perigo, é porque viu alguns sinais. Talvez os mesmos vistos por outros, que não levaram muito a sério. No setor de telefonia apareceram Skype e WhatsApp; no imobiliário, as páginas na internet para encontrar imóveis; no campo das loterias, as apostas online; e aos cantores e compositores, o iTunes. “A tecnologia já transformou muitas indústrias. A próxima é a indústria dos bancos”, profetizou González.

“Este setor continua na Idade Média”, diz Amuda Goueli, o fundador da agência de viagens Destinia.com. Sua empresa disponibiliza pagamentos em bitcoins. E economiza entre 2% e 3% de comissão que seria cobrada pelos bancos. É uma das muitas moedas virtuais que circulam na internet. Karmacoin, dogecoin, luckycoin, stablecoin… inclusive a pesetacoin, referindo-se à antiga moeda espanhola peseta. Mas o nervosismo, que alguns consideram já se tratar de um alarme, é com o bitcoin.

Criado há cinco anos, dos 8,45 bilhões de dólares (18,73 bilhões de reais) que circulam em dinheiro virtual, 76% correspondem a esta moeda, que é aceita em milhares de lojas e serviços de internet e em locais físicos, como cassinos e pizzarias. “Eles riem, sempre riem”, continua o fundador do Destinia. “A reação ao bitcoin me lembra a reação à Red nos anos noventa”. “É perda de tempo”, “só há porcarias”, “vão te roubar o cartão se você comprar”. Goueli, empresário de origem núbia, criou a agência em Madri em 2001 com um amigo australiano. Em fevereiro, ele permitiu o uso do bitcoin como outra possibilidade de pagamento. “No dia seguinte à estreia, vi que havia três pagamentos com bitcoins. Quase comecei a chorar. Pensei que era uma brincadeira do meus técnicos de informática, mas não, eram de um cidadão austríaco para uma passagem para o Vietnã, outro de um polonês e um terceiro que não foi bem sucedido. Desde então, temos pagamentos diários em bitcoins. Não revelarei quantos para que a concorrência continue rindo.”

Se não fosse por sua crescente popularidade e sua qualidade como moeda alternativa às flutuações dos governos, da Argentina ao Chipre, o bitcoin seria tão anedótico como o BBQCoin; no entanto, o Banco Central Europeu, o Federal Reserve (banco central) dos Estados Unidos, os bancos centrais de China, Japão e Rússia têm lidado com o caso. Eles têm medo. “O bitcoin terá seus altos e baixos, mas está aqui para ficar”, aposta Alexandre Saiz, cujo negócio de comida para animais de estimação, Telepienso.com, aceita bitcoins há três anos. “Seja lá como for chamado, a moeda de uma sociedade civil, fora do controle do poder político e econômico, vai existir e vai mais longe”. A empresa, segundo ele, foi a pioneira em aceitar a moeda na Espanha. “E aqueles que pagam com ela são, no geral, pessoas com poder aquisitivo e nível cultural.” Por enquanto, trata-se de um uso “curioso e de teste”, mas “que não pode ser contido”.

A preocupação dos bancos não é devido à perda de comissões – no fim das contas, a moeda virtual será sempre uma pequena parte do comércio mundial –, o problema é que os poderes estabelecidos não a controlam. Eles tampouco estão preocupados com o fato de que a moeda seja virtual, que não seja possível ver nem tocar nas notas de papel. “Os bancos têm interesse que as notas acabem”, diz Victoria Matía, diretora de caixa eletrônico do La Caixa. “É nosso inimigo porque não sabemos o que as pessoas fazem com ela, não nos dão informações e é ineficiente: sacamos no caixa, pagamos em uma loja e o comerciante o deposita de novo em uma agência bancária.”

Transparência no preço do câmbio e na comissão

As transações em dinheiro cresceram 1,75% no mundo entre 2008 e 2012; outras formas de pagamento subiram 14%. Embora ainda represente o dobro, muitos consideram que o dinheiro vivo tem seus dias contados. Usá-lo é caro: aos americanos, por exemplo, custa 200 bilhões de dólares (444 bilhões de reais) por ano (637 dólares por cidadão, ou 1.410 reais), de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Tufts (Massachusetts), incluindo coleta, triagem, transporte e fabricação de novas cédulas. Anualmente, o Federal Reserve é forçado a destruir 7.000 toneladas de cédulas; a média de vida delas não passa dos seis anos.

“O dinheiro será invisível”, dizia David Marcus, presidente do Paypal, em uma recente entrevista ao El País. “Não haverá cédulas, nem carteiras, só o valor, que você terá quando precisar e que poderá levar a qualquer lugar do mundo por um baixo custo”. Matía, a especialista do La Caixa, acrescentou: “Nós gostaríamos que todos os pagamentos fossem virtuais”. “Recentemente visitei Zâmbia e Malauí”, diz o diretor do Destinia.com. “Lá se paga com o celular”. Cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Quênia passam pelo M- Pesa, um sistema de transferências por meio de telefone celular, sem necessidade de internet. No Zimbábue, o sistema se chama EcoCash e é utilizado por 8,1 milhões de pessoas, praticamente todos com mais de 14 anos. Passa tanto dinheiro pelo telefone como pelos depósitos bancários. O EcoCash cobra uma taxa maior, de 5% por transação, mas compensa pelo fato de as pessoas não terem que ir às agências bancárias. Os bancos tentaram, sem sucesso, boicotar o sistema, mas acabaram aderindo ao novo esquema.

“Ninguém tem dúvida de que pagaremos o bilhete de metrô e o aperitivo com o celular, o que está em jogo neste momento é quem vai gerenciar a transação e, portanto, cobrar uma comissão ou reter a informação, ou ambas as coisas”, argumenta Genís Roca, da consultoria Roca Salvatella, dedicada à transformação digital do setor financeiro.

Se González apontava os grandes (Amazon, Google, Facebook, Apple), Roca vê inimigos em todos os lugares: os sistemas operacionais móveis (Apple, com seu iOS, e Google, com seu Android); as operadoras de telefonia, que podem adicionar à fatura as despesas dos micropagamentos, como fazem com o SMS; então, é claro, os próprios bancos, forçados a buscar alianças com as opções acima. Você instala no telefone o NFC (um novo protocolo de comunicação) e eu coloco terminais de pagamento adaptados nas lojas.

E depois há o Paypal. Peter Thiel, um dos seus fundadores, criou em 1998 um sistema de pagamento pela internet no qual não havia necessidade de escrever a cada vez o nome, número, datas de emissão e de validade dos cartões… Um processo tedioso que muitas vezes terminava abruptamente sem a compra, seja porque a página caía ou o comprador se cansava. Parecia uma loucura, uma iniciativa tomada à margem dos bancos. Contudo, em poucos anos o gigante de leilão eletrônico eBay descobriu que a maioria dos pagamentos não era feito em seu próprio sistema, mas por intermédio do Paypal. E em 2002, a empresa o comprou por 1,5 bilhão de dólares (3,32 bilhão de reais).

Doze anos depois, 41% do volume de negócios do eBay vêm do Paypal. Seu sistema de pagamento tem 143 milhões de contas, opera em 26 moedas e 193 países. Nenhum banco pode dizer isso. São nove milhões de pagamentos por dia, com uma movimentação de 4.600 euros (14.160 reais) por segundo. No ano passado, circularam através do Paypal quase 130 bilhões de euros (400,2 bilhões de reais), sendo que parte foi por telefones celulares. Enquanto seu negócio total cresceu 29%, os pagamentos com telefones móveis aumentaram 100%.

“Os novos operadores estão livres dos legados dos bancos: de seus sistemas obsoletos e as caras redes de distribuição”, defende o presidente do BBVA em seu artigo. “Os bancos descobriram que a concorrência não é outro banco, mas uma empresa de software”, diz Roca.

O Paypal não está sozinho; há dezenas das chamadas “plataformas de pagamento”, como Pingit, Zapp, iZettle, Mymoid… “Bancos e operadoras estão tentando nos convencer de que é necessário ter um telefone com tecnologia NFC, com um cartão SIM compatível e que qualquer consumidor só pode pagar com a solução tecnológica de uma única entidade financeira. E voltamos ao que temos visto há anos, cada banco tem a sua própria solução, cada operadora o seu próprio cartão SIM… E os consumidores e empresas ficam no meio, presos em uma guerra tecnológica”, explica José Maria Martín, conselheiro delegado do Mymoid. “Conosco se pode pagar com celular, sem ter o último terminal, em qualquer comércio e sem que a loja tenha que ter custos de tecnologia.”

Todas as plataformas são baseadas, praticamente, na mesma coisa: inserir uma única vez os dados do cartão e conta corrente e com um clique poderá comprar sem que os dados se espalhem pelo ciberespaço, resultando em desconforto e insegurança.

A empresa de comércio eletrônico Dwolla se especializou em transferências de dinheiro. Se for inferior a 10 dólares (22,16 reais), a operação é grátis. Se for superior, cobra 25 centavos de dólar (56 centavos de real). Caso a opção seja o Square, uma máquina acoplada ao celular, a comissão da empresa e do banco pode subir a 6%. Com o uso conjunto do Paypal, a taxa fica em 3,5%, mais 30 centavos de dólar (67 centavos de real). O Dwolla move diariamente 3 milhões de dólares (6,65 milhões de reais).

Contudo, a sensação do momento se chama Stripe. Um programa que se instala e em poucos minutos aceita pagamentos de qualquer cartão, deixando para trás as complicadas negociações com cada instituição financeira. O Stripe cobra uma comissão de 2,9%. No caso de haver alguma dúvida sobre as possibilidades da invenção, o cofundador do PayPal, Thiel, e a sociedade de capital de risco Sequoia a defendem.

“O setor bancário tem muitos negócios: unidade de banco empresarial, banco privado, gestão imóveis, gestão de ativos ou seguros”, lembra a consultora Roca. “E para todos eles surgem concorrentes que estão mais perto da tecnologia do que do negócio clássico. E não acho que nesses segmentos o concorrente seja Google, Apple ou Amazon; em cada setor haverá um diferente.”

O Transferwise, por exemplo, é dos mesmos desenvolvedores do Skype, ou seja, acabaram com as ligações internacionais das operadoras. O Transferwise permite enviar divisas entre particulares em mais de 20 moedas com uma comissão de 0,5%, ante a taxa de 4,5% dos bancos. O Kantox.com faz o mesmo, mas é especializado em empresas; e são de Barcelona. “Se no geral o banco é opaco, nos negócios cambiais a opacidade é absoluta. Suas condições não estão nem em letras pequenas”, explica o CEO da empresa, Philippe Geli. O Kantox oferece a opção de pagamento peer to peer mediante o qual se casam duas operações internacionais com montante equivalente; neste caso, a economia pode chegar a 80%. Se for pelo sistema tradicional, a economia é menor, de 0,5%, embora dependendo do tamanho possa significar milhares de reais.

Até 2009, o pagamento de divisas era, por lei, monopólio dos bancos. Naquele ano, a Europa liberalizou e cada país adaptou a política com maior ou menos tacanharia, como na Espanha. “O câmbio de divisas é o único serviço financeiro no qual o banco não tem obrigação de publicar as condições”, explica Gelis. Uma empresa paga a transação primeiro e depois chega a fatura da comissão do banco. A companhia de Barcelona conseguiu que mais de 500 empresas de 12 países façam operações de câmbio fora dos bancos.

“A força do Kantox não é só a economia”, explica Ernesto Giralt, diretor na Espanha, “é a transparência no preço do câmbio e na comissão, que você pode ver em tempo real os preços e programar alertas para comprar ou vender na quantidade indicada, 24 horas por dia.” Três anos depois de seu nascimento, a empresa emprega 44 pessoas de 15 nacionalidades em seus escritórios de Barcelona e Londres.

Qualquer um pensará nas reações que iniciativas como a do Kantox provocaram nos bancos, uma redução em suas comissões. Mas isso não ocorreu. “Preferem permanecer em silêncio a receber um cliente bem informado”, diz Gelis, “que não faça barulho e, assim, continua a manter os seus preços elevados com os clientes que permanecem. Por enquanto compensa.”

“Os bancos estão perdendo o monopólio do sistema bancário”

O mundo da comissão sobre qualquer coisa – o eufemismo de “taxa de manutenção” – tende a acabar. “A comissão sobre operações de indivíduos é um negócio que está se esgotando para o banco devido à tendência incontrolável dos mercados de intermediar essas transações de forma cada vez mais eficiente. Aparecem outros dispostos a assumir essa transação a um custo mais baixo. É algo parecido à telefonia: os SMS foram um grande negócio, mas apareceu outro disposto a oferecer um novo serviço”.

Enquanto não houver resistência, o sistema continuará operando. Alberto Segura disse basta no mês passado. Dono de uma pousada pequena em Zaragoza, ele recebeu um aviso do seu banco, o La Caixa, anunciando que teria que pagar 24 euros (74 reais) por mês para olhar seu saldo na internet. Ele não foi reclamar em sua agência bancária. Expôs o caso no site Change.org; em dois dias, 50.000 assinaturas apoiavam a reclamação do autônomo: “Nós não aceitamos taxas para consultar nossas contas bancárias.” Depois de três dias, o La Caixa suspendeu a cobrança.

“Os bancos vão nos dar de presente os seus cartões de crédito em breve”, prevê a consultora Roca. “Porque o negócio não vai ser o custo de manutenção que nos cobram, mas a exploração de dados sobre o consumo deste cartão. É um novo modelo de receita.”

Em meio ao olhar sombrio no Financial Times previsto pelo presidente do BBVA, também há uma luz: “A boa notícia é que ainda temos uma vantagem importante: a grande quantidade de dados financeiros e não-financeiros que acumulamos. Esta informação revela muito sobre os hábitos, gostos, necessidades e aspirações. Os bancos têm de transformá-los em conhecimento e usar esse conhecimento para dar aos clientes exatamente o que eles querem, como e quando eles precisam.” E não estão sozinhos nesta situação. Francisco González sabe disso: “É quase certo que alguns grandes nomes no mundo digital, as empresas com marcas fortes e milhões ou bilhões de usuários, vão sair para a briga.”

Eles já estão aqui, não há nenhum banco que tenha tantas contas registradas como a Apple, com cerca de 575 milhões através do iTunes, além de aparelhos: 375 milhões de iPhones e 155 milhões de tablets, máquinas de comprar com um só clique. E o maior hipermercado da galáxia, sem horários nem feriados, a Amazon tem 230 milhões de clientes a um clique da tentação; o Google tem outras centenas de milhões de contas registradas em sua loja GooglePlay e mais de um bilhão de celulares com seu sistema operacional, enquanto o Facebook tem 1,25 bilhão de usuários-clientes, sem esquecer do estável Paypal.

É verdade que a maioria das vendas será feita nas lojas físicas. Essa é a realidade e assim continuará sendo, mas serão pagas com um dispositivo móvel ou outro aparelho. A Amazon, por exemplo, tenta fazer com que o seu tablet Kindle seja o aparelho de pagamento de comerciantes, oferecendo, em troca, uma análise das compras e gostos de seus clientes.

Muitos já oferecem o seu próprio mecanismo de pagamento e em particular sua carteira eletrônica. Em relação a isso, são todos iguais. A Vodafone mostra graficamente, em uma propaganda recente com uma mulher que caminha nua pela rua, que não é preciso nada mais além de um celular para comprar pão todas as manhãs. E da mesma forma fazem os bancos e as operadoras American Express, Visa ou MasterCard, com o seu V-Visa, uma carteira eletrônica.

“A bolha da internet mudou-se para o meio de pagamento”, diz Matía. “Há muitíssimos, mas todos são baseados em uma conta no banco e em cartões, ou seja, que o seu negócio não consiste em oferecer custos mais baixos, mas coletar informação do consumidor”, insiste ele. “Mas aí não podem competir com os bancos. Nós temos informações dos clientes de uma forma superior a qualquer um.”

“Vamos ver o principal embate entre os bancos digitais e os novos operadores”, disse González em seu artigo. Matía minimiza o futuro. “Para nós, o futuro é a carteira eletrônica, que já temos, e aplicativos como Recibox, que agrupa recibos e compara até cinco anos de consumos…; mas para o Paypal é o oposto, o seu futuro passa pelo mundo real: criar um cartão de plástico para comprar nas lojas. É um paradoxo.”

Virtual ou real, os atuais bancos não solucionaram a vida da BrandRain, uma empresa de análise de dados para medir a reputação das companhias, que precisava de 290.000 euros para começar. A Moincube, uma ferramenta para produzir aplicativos, tampouco recebeu crédito, nem caro, nem barato. Felizmente essas duas startups espanholas recorreram a uma nova forma de financiamento, o crowdfunding, um tipo de investimento coletivo; indivíduos que acreditam na rentabilidade da empresa e arriscam investir o seu dinheiro nela. “Em dois anos, financiamos sete projetos deste tipo”, diz Ramón Saltor, fundador da TheCrowdangel.com. “Oitenta e quatro pessoas investiram um valor de 1,6 milhão de euros (4,92 milhões de reais) com um aporte médio de 12.000 euros (37.000 reais)”.

O financiamento coletivo na Espanha é uma piada para o líder mundial,Kickstarter.com, que no ano passado arrecadou 500 milhões de dólares (1,108 milhão de reais). Na Espanha, o dinheiro dedicado ao financiamento de startups através do crowdfunding atingiu apenas 5 milhões de euros (15,39 milhões de reais). É algo ridículo que, no entanto, tem atraído a atenção do Governo, que apresentou um projeto de lei para, como ele diz, “regular” essa prática, embora na realidade seja, na verdade, para eliminá-lo. “É clara a influência do lobby bancário no Governo”, diz Gelis.

De acordo com o projeto de lei anunciado, um indivíduo particular não poderá investir mais de 3.000 euros (9.230 reais) em uma empresa jovem, nem mais de 6.000 euros (18.470 reais) em um ano. Imaginem se o investimento em bolsa fosse limitado da mesma forma? “É ridículo”, diz Saltor, do TheCrowdangel. “Estão cortando as asas dos investidores e das startups espanholas que não conseguem encontrar financiamento nos bancos. Nenhum investidor vai querer investir se o valor máximo permitido é de 3.000 euros (9.230 reais). Não vale a pena.” Este sistema emergente na Espanha havia se duplicado no ano passado, mas com este projeto, o TheCrowdAngel, por exemplo, decidiu parar sua atividade. A empresa vai se concentrar no desenvolvimento de sete startups, das quais terá uma comissão sobre o dinheiro arrecadado.

Parece que o legislador espanhol não se inspirou nas leis do Reino Unido, da França e da Suécia, onde não há limite para este tipo de investimento; nem olhou para a Alemanha, que define o limite de 100.000 euros (307.840 reais), ou o paraíso das startups, os Estados Unidos, onde o limite é baseado no valor da marca ou o rendimento do investidor.

Em qualquer caso, as leis nacionais na Internet são muitas vezes inúteis. O investidor espanhol provavelmente irá para outro lugar. Na verdade, Kickstarter arrecadou dinheiro de 24.800 espanhóis; tanto quanto o setor do crowdfunding nacional em 2013.

Se esse banco não atender ao crédito que uma empresa precisa para começar a se desenvolver, muito menos para uma demanda de 500 euros (1.539 reais). É aí que entra o Kredito24.com, que concede o dinheiro em 15 minutos. Nascido na Alemanha, tem escritórios na Polônia, Rússia, México, Austrália e, há um ano, na Espanha. “Concedemos entre 12% e 15% dos 100.000 pedidos que tivemos neste ano”, diz David Goday, diretor do escritório espanhol. “Estamos crescendo a 10% ao mês.”

Um puro negócio de cruzamento de dados, tudo online. “Em um minuto são cruzadas 10.000 operações e em 15 minutos se obtém, ou não, o crédito.” Se o cliente devolve o montante antes de sete dias, não há juros. Caso contrário, o prazo máximo de devolução é de um mês, no final do qual é preciso devolver 630 euros (1.939 reais), 30% mais. “Três meses após começar, tínhamos reduzido as dívidas ao mínimo.”

Embora haja leis para limitar o campo, a internet, o bitcoin, o crowdfunding, os horários comerciais o ou fluxo de divisas, o futuro é incontrolável… e diferente. “As regras mudaram e uma nova liga de concorrentes está emergindo. Em duas décadas, o mundo vai passar de 20.000 bancos analógicos a umas dezenas de digitais. Os bancos estão perdendo o monopólio do sistema bancário.” González dixit.

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Javier Martín, do El País