Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Um robô em casa

O Brasil está mudando. A questão é econômica e demográfica, mas também civilizatória. Há menos jovens do que havia, por isso o número de vagas de emprego cresce com mais velocidade do que há gente para preenchê-las. Resultado: pleno emprego e salários altos. Temos, portanto, menos gente para fazer o serviço que noutros cantos quase ninguém ainda faz. Babá e empregada doméstica são para rico, em países civilizados. A legislação mudou e tornou ainda mais difícil mantê-las. Como nada no mundo muda sem dores, a infraestrutura brasileira não acompanha as mudanças sociais. Os casais de classe média trabalham o dia inteiro, mas as escolas só funcionam quatro horas, como bem lembrou por aqui Antônio Gois, em sua coluna de ontem. Mas já existe, concretamente, uma alternativa às domésticas: robôs.

Bem, talvez não exista ainda um robô-babá, mas para todo o resto já há solução no mercado. No mercado brasileiro, ainda não. Mas nos EUA e na Europa é possível pagar por máquinas que façam o trabalho da casa. O mais famoso é o Roomba. Sai por US$ 500,00 no site da Amazon. Um disco com dez centímetros de altura, 30 de diâmetro, que aspira a casa inteira, um cômodo após o outro, no horário que o dono desejar. De madrugada. No meio da manhã, quando crianças e adultos estão fora. Esperto, aprende onde é a cozinha para não entrar lá.

Não é o único aspirador. Seu concorrente, da Eletrolux, atende pelo simpático nome Trilobite. Trilobitas, os estranhos baratões que viviam cá na Terra um tempo antes dos dinossauros. Ambos se desviam de objetos pelo caminho, aprendem onde fica cada cômodo.

Parecem luxo, mas é engano

A empresa iRobot, que criou o Roomba, tem uma série de modelos para usos distintos. Criada por professores e alunos do MIT faz pouco mais de dez anos, também tem um que lava cozinha, área e banheiro. Deixa tudo seco no final. É o Scooba. Já o Mirra é especialista em piscinas.

Mas não só de limpeza vive uma casa. É preciso também cuidar do jardim, quando um existe. Robomow é o nome do modelo que apara a grama sozinho. Sai por pouco menos de US$ 2.000,00. É caro, talvez. Mas quanto sai o salário do jardineiro? Agent 007, da Mobile Robots, fica de vigília do lado de fora. BrewskiBot, da mesma empresa, leva cerveja gelada de um cômodo para outro. Não é preciso mais se levantar entre os jogos. Estes são caros ainda, na casa das dezenas de milhares de dólares. Brinquedos de rico. Mas isso é por enquanto, logo mudará.

A Siemens alemã tem um robô bem mais útil: passa roupas com ar quente. Ponha o paletó limpo, ou a camisa, o robô a estufa de ar e deixa tudo sem amassados. Ainda é preciso colocar a roupa na máquina, algum trabalho fica. Mas as muitas horas ao ferro lá se vão. Robôs existem mesmo para todas as funções. O Litter-Robot, a US$ 369,00, é uma caixa de areia de gatos que se limpa sozinha e joga os restos num saco. É só levar para fora.

O nosso ainda é um país muito fechado ao comércio. As travas para importadores são tantas, os impostos, tão altos, que esse tipo de inovação demora para chegar. Ou chega, de um em um, pelas muitas viagens ao exterior. Se parecem luxo hoje, é engano. São soluções práticas para a modernização do Brasil. Uma casa automatizada é uma casa independente. Liberamos gente, mão de obra, para trabalhos que exijam maior qualificação e paguem mais. Gente mais qualificada produz mais – que exportamos. Enriquecem as pessoas, enriquece o país.

Até o fim da década, muitos de nós teremos algum robô em casa.

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Pedro Doria, do Globo