Em anos recentes, companhias em todo o mundo substituíram parte das compras tradicionais de software pela versão dos programas no modelo de nuvem para reduzir custos. Na América Latina, segundo a consultoria Frost & Sullivan, 50% das empresas usam pelo menos um tipo de serviço em nuvem. Em vez de pagar pela licença, as companhias fazem um contrato para ter acesso ao software e pagam uma mensalidade pelo seu uso. Para as empresas que contratam o software, o modelo de nuvem traz economia no curto prazo. Mas para as companhias que desenvolvem os programas, o custo para mudar o modelo de negócios tem sido cada vez mais alto.
Os relatórios de balanço recentes do Google, da Amazon e da Microsoft mostraram que as três companhias tiveram ao todo uma despesa de US$ 4,6 bilhões entre janeiro e março para oferecer seus serviços na nuvem. O custo inclui compra de servidores, computadores e imóveis. Em comparação aos três primeiros meses de 2013, esses gastos aumentaram 65%.
No Brasil, a Totvs elevou em 22,5% seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento, para R$ 213,6 milhões. Parte desses recursos foi destinada a mudanças para incrementar a oferta na nuvem. “A Totvs trabalha desde 2010 para implantar tecnologias mais fluidas, mais simples de ser usadas e que colocam o cliente no centro de tudo”, afirmou Laércio Cosentino, presidente da Totvs. Além de investimentos em infraestrutura, a Totvs precisou tornar os seus sistemas de gestão empresarial mais simples e mais leves para operar na nuvem, observou o executivo.
Marília Rocca, vice-presidente de Negócios da Totvs, disse que a procura por softwares em nuvem é grande entre pequenas e médias empresas interessadas em reduzir custos. A lista de clientes chega a quase 2 mil empresas. E, entre as companhias de grande porte a demanda teve crescimento mais forte, de 50% este ano. “A mudança na oferta, com melhoria da conexão, de aspectos de segurança e da performance, tem atraído mais os clientes de grande porte”, disse.
Cobrança pelo uso do software
Alexandre Campos Silva, diretor da consultoria IDC, disse que o crescimento da demanda por software em nuvem não é exclusividade da Totvs. Ele estima que em 2014 as empresas vão comprar no Brasil US$ 224 milhões em softwares em nuvem e a demanda na área aumentará 68% ao ano até 2017.
A Totvs investiu na contratação de profissionais especializados em desenvolver e adaptar softwares na nuvem e capazes de desenvolver aplicações mais simples para o usuário, mas com as mesmas funções de um software tradicional.
Guilherme Campos, analista de indústria da consultoria Frost & Sullivan, observou que, além da contratação de desenvolvedores de software e de investimentos em infraestrutura, outro desafio para as companhias do setor é a cobrança do serviço. “Cobrar pelo uso, mensalmente, exige uma estrutura financeira maior. Isso tem levado companhias a fazer acordo com empresas com experiência na nuvem para fazer a cobrança”, disse.
A Totvs contratou equipe para essa tarefa. Outros grupos, como a americana SAS Institute, especializada em software de análise de grandes volumes de dados, optaram por delegar a terceiros a cobrança pelo uso dos seus softwares. Em março, a SAS fez acordo com a Amazon Web Services (AWS) para levar seu software para a nuvem e com a Concrete Solution para fazer a venda. “Investir sozinho seria inviável. Preferimos nos concentrar no que fazemos de melhor, que é software”, disse Marcos Prete, gerente de parcerias e alianças da SAS. A AWS, que tem investido em estrutura para atender grupos de software como a SAS, informou que aumentou o número de parceiros no país de 300 para mil em 12 meses.
A Microsoft, por sua vez, viu o número de parceiros de software na América Latina aumentar de 30 empresas há seis meses para 150 atualmente, disse Hugo Santana, diretor do grupo de empresas e sócios da Microsoft para América Latina. As empresas de software usam a infraestrutura da Microsoft, mas o sistema de cobrança é feito individualmente por cada uma. “Algumas rivais enfrentam problemas na parte de cobrança pelo uso do software. Ainda não tivemos problemas por não fazer a cobrança em conjunto”, disse.
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Cibelle Bouças, do Valor Econômico