Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Redes sociais onde pode quase tudo

Durante muito tempo a internet foi considerada sinônimo de acesso fácil à pornografia. Nos últimos anos, no entanto, com a ascensão de empresas como Facebook e Twitter, as redes sociais vêm assumindo o papel de protagonistas digitais, e, se depender de suas políticas de uso, a nudez terá pouco (ou nenhum) espaço entre os usuários. Diante dessa nova dinâmica, o conteúdo pornô já está se adaptando: nos últimos meses, diversos sites voltados para o segmento têm surgido, pegando carona nos moldes das redes sociais convencionais – para o deleite de alguns e a preocupação de outros.

É o caso do Pinsex, site criado no início de 2013 como uma versão sem restrições da rede social Pinterest. Ou do Pornostagram, que foi ao ar em julho do ano passado e se baseia no modelo de compartilhamento de fotos do Instagram. E mesmo de clones apimentados do Facebook, como o Facefuck. Em todos esses casos, a pornografia dá o tom do conteúdo, sem qualquer cerimônia.

Professor de Comunicação Digital da ECA-USP, Luli Radfahrer diz considerar natural que redes sociais para o público adulto surjam na rasteira das populares, uma vez que essas costumam adotar posturas restritivas quanto a esse tipo de conteúdo: o Facebook, por exemplo, com frequência retira do ar imagens apenas semelhantes a nudez.

– Ao querer atrair um público amplo, as grandes redes adotam uma postura conservadora. Se você for ler seus termos de uso, vai acreditar que não há pornografia na internet – afirma Radfahrer. – Isso abre uma brecha para sites pornôs semelhantes, para um público latente.

A explicação do professor encontra respaldo no testemunho de Christian Thorn, diretor-executivo do Pinsex:

– A ideia surgiu em 2011, quando o Pinterest explodiu nos EUA como referência de site-pin (em que você cria um mural das suas imagens favoritas). Após ver a incrível quantidade de material erótico que estava sendo compartilhada nele, antes de ser retirada pelo site, percebi que uma rede pornô nesse molde teria grande potencial.

Audiência é inferior à das grandes

Em março deste ano, o Pinsex tinha entre 200 e 300 mil visitantes por dia e mais de 60 mil membros ativos. Os números são modestos quando comparados ao do Pinterest, que, em fevereiro de 2013, tinha mais de 48 milhões de usuários globais. Mas a diferença é natural, ressalta Luli Radfahrer:

– Não dá pra comparar. São métricas diferentes. Uma rede social convencional de sucesso é aquela que é muito falada. Você não vai ver muitas pessoas comentando sobre usar uma rede pornô, o que não quer dizer que ela não atenda ao seu público com sucesso.

Fotógrafo profissional e modelo de webcams, o britânico Mike (ele preferiu omitir o sobrenome), de 42 anos, é usuário do Pinsex há oito meses. Para ele, a rede social serve para colecionar imagens eróticas da internet e, às vezes, “para procurar prazer”.

– No meu caso, é um bom site para fazer autopromoção – afirma ele, que critica a maneira como as redes populares lidam com pornografia. – As páginas no Facebook têm o acesso restrito por idade, então na verdade não deveriam ter limitação.

Pais devem controlar os filhos

O fato de terem como base um tipo de conteúdo que preza pela ausência de maiores restrições, no entanto, não significa que as redes sociais pornôs não se preocupem com material ilegal. Pelo menos é o que afirmam os seus representantes.

– Não queremos censurar ninguém, desde que os usuários respeitem a lei e os nossos termos de uso. Temos tolerância zero a qualquer tipo de conteúdo ilegal, como pornografia infantil – afirma Romy Roynard, diretor de marketing do Pornostagram, rede que em breve mudará de nome para Uplust, a “pedido” do Instagram.

Em geral, esses sites costumam alertar em sua página inicial que são orientados para maiores, o que não impede que qualquer jovem com mais disposição possa criar o seu perfil. Por isso, a atenção de pais de jovens e crianças quanto aos hábitos digitais dos seus filhos continua essencial, afirma o sexólogo Andreh Santos:

– Não dá pra esperar que a política de controle quanto ao acesso inadequado seja só dos sites. São os pais quem impõem limites aos filhos.

Já a sexóloga Sônia Eustáquia alerta para a importância de os adultos também saberem controlar o seu próprio consumo de pornografia.

– A pornografia em exagero, como tudo, não é saudável. Sem limites, pode provocar obsessão e prejudicar a vida da pessoa em diversas esferas – ressalta.

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Thiago Jansen, do Globo