Trata-se de um dos melhores investimentos da era digital. Em 2001, a sul-africana Naspers pagou US$ 34 milhões (R$ 75,1 milhões) para adquirir uma grande cota de participação em uma startup chinesa em dificuldades, chamada Tencent.
Hoje a empresa está avaliada em quase US$ 120 bilhões (R$ 265,2 bilhões), ou seja, muito mais que pioneiras da internet como eBay e Yahoo. Por sua vez, a Naspers está US$ 40 bilhões (R$ 88,4 bilhões) mais rica devido à sua aposta no momento certo. Investidores estrangeiros como a Naspers têm despontado como os maiores ganhadores no mercado da internet na China.
O Yahoo e o SoftBank do Japão poderão ganhar um total de US$ 75 bilhões (R$ 165,7 bilhões) com suas ações no Alibaba, o gigante de comércio eletrônico chinês que registrou em 6 de maio seus planos para uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês).
A firma de capital de risco Draper Fisher Jurvetson tornou-se dona de quase um terço do buscador chinês Baidu. No primeiro dia de negociações na bolsa, em 2005, as ações do site subiram 354%.
“Realmente é a lei dos grandes números”, disse Stuart Schonberger, da CDH Investments, empresa de “private equity” (participação em empresas) focada na China. “A China é impressionante quando as coisas dão certo.”
Longo prazo
Os investimentos estrangeiros na internet chinesa têm sido tão grandes e lucrativos que alguns analistas se preocupam com a possibilidade de o país ampliar restrições para assegurar seu controle, assim como faz com bancos, telecomunicações e aviação. Até o momento, porém, órgãos de controle não têm pressionado os estrangeiros a reduzir sua participação, nem tentado impedir empresas chinesas de entrarem em bolsas no exterior.
As maiores empresas de internet são administradas por empresários chineses que deixam o governo monitorar seus sites e censurá-los à vontade -e a maioria dos estrangeiros assume um papel passivo em relação a isso.
“Se o governo precisa regular empresas de internet, não importa que elas pertençam a empresas estrangeiras”, disse Hong Bo, um analista que acompanha a indústria de tecnologia na China.
O sistema de participação estrangeira começou no fim da década de 1990, quando empresários chineses buscavam desesperadamente capital para financiar suas startups na internet.
Como havia poucas firmas chinesas de capital de risco, muitas startups recorreram a capital estrangeiro. Porém, o governo restringe o investimento estrangeiro em áreas consideradas sensíveis.
Então, banqueiros e advogados espertos propuseram registrar uma holding no exterior que controlaria os ativos de uma startup. A holding então seria ligada a entidades no exterior pertencentes a residentes chineses, os quais teriam licença para o negócio. Essa estrutura complexa de investimentos permitiu que empresários da internet chinesa tivessem acesso a fundos estrangeiros e abriu caminho para as empresas entrarem em bolsas no exterior.
Com isso, a Draper Fisher Jurvetson, assim como a Integrity Partners, a GGV Capital e a Sequoia Capital do Vale do Silício compraram participações em algumas das startups mais promissoras da China, incluindo Sina, Sohu, Baidu e NetEase.
Algumas empresas com horizontes mais longos de investimento também compraram grandes participações. Em 1999, o SoftBank fez o primeiro de vários investimentos em um site chinês novato de comércio entre empresas chamado Alibaba.com, com US$ 20 milhões (R$ 44,2 milhões).
Venda zero
Masayoshi Son, o presidente do SoftBank, disse a colegas naquela época que pretendia entrar no mercado de internet na China e nele se manter durante anos.
O Yahoo também ganhou uma mina de ouro com o Alibaba. O site concordou em investir US$ 1 bilhão (R$ 2,2 bilhões) no site, em troca de 40% de participação.
Atualmente, a parcela do Yahoo no Alibaba está avaliada em US$ 35 bilhões (R$ 77,3 bilhões), mesmo após ter vendido US$ 7 bilhões (R$ 15,5 bilhões) em ações.
Empresas de capital de risco raramente esperam muito tempo para ganhar mais de US$ 10 bilhões (R$ 22,1 bilhões) investindo em uma startup. Mas a Naspers aguardou durante anos, e agora sua participação vale US$ 40 bilhões (R$ 88,4 bilhões).
“Nós não vendemos uma ação sequer”, disse Charles Searle, executivo da Naspers que liderou o investimento na Tencent.
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David Barboza, do The New York Times