Dia desses fui ao Museu de Arte Moderna, no Rio, e fiquei impressionado. A maioria das pessoas (de crianças a idosos) estava ali só para fazer fotos. Poucas olhavam por mais de 10 ou 20 segundos para as obras diante de seus narizes.
Ouvi de um rapaz, em tom de esperteza: “Vou só fotografar e depois vejo em casa”. Concluí que pessoas analógicas, dessas que usam apenas seus olhos para ver as coisas, são démodé, quase extintas.
Durante o festival de selfies, instantaneamente compartilhados no Facebook-Instagram-Twitter, eu, que nem celular levei pra lá, me sentia uma pessoa do século 20, dessas que ainda usam palavras como “démodé” e escrevem mais de três parágrafos nas redes sociais.
Papéis trocados
Com o museu muito cheio (o que acho ótimo), foram inevitáveis alguns esbarrões – sem querer, claro. Aí notei que, quando estavam com o celular na mão, essas pessoas perdiam alguns sentidos. Primeiro a audição, já que ignoravam meu pedido de desculpas. Depois a visão, focada apenas em um ponto, meio morta. Fala? Não emitiam qualquer som. Tato? Talvez na ponta dos dedos, que cutucavam as telas iluminadas freneticamente.
Para onde eu olhava havia mais e mais pessoas fotografando de tudo: o teto, o chão, o tênis, o cara alto, o amigo, a placa, a luz… tudo ao mesmo tempo. Nisso, umas moças gentilmente pediam para ninguém usar flash. Pobres moças, tão ignoradas.
A exposição era do artista plástico hiperrealista Ron Mueck, um cara genial. Suas obras são reproduções de pessoas fazendo coisas banais e, curiosamente, nada tecnológicas.
Na exposição sobre pessoas de mentira que parecem de verdade, chamou a atenção as pessoas de verdade que parecem de mentira. Vai entender…
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Marcelo Cosentino é jornalista