Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ainda o e-mail

A coluna da semana passada sobre o ocaso dos e-mails provocou, como seria de se esperar, um bocado de… e-mails! Todos para me provar, por A + B, que o e-mail não está morto. Mas isso nem eu, que estou a um (pequeno) passo de odiar de morte as minhas caixas postais, tenho coragem de afirmar. A palavra que usei no título, ocaso, não é sinônimo de fim, mas de declínio; ainda não há no horizonte ferramenta que possa substituí-lo satisfatoriamente no lado burocrático, tributável, da vida. É na área de lazer que ele perde cada vez mais terreno para as redes sociais e as ferramentas de comunicação instantânea, como o WhatsApp. Como bem observou o Marcelo Temer, no Facebook, “o e-mail é o novo telefone fixo”.

(Ao que a Stella Melo, registre-se, respondeu, muito sabiamente: “É… pode ser… mas quando entrevistam pessoas com celular, a ligação volta e meia cai ou é ruidosa. Daí o entrevistador fala assim: tem um fixo aí perto de você?”)

A minha pesquisa informal no Facebook e no Twitter sobre o uso do e-mail e de como as pessoas se sentem em relação às suas caixas postais trouxe, aliás, algumas definições muito boas.

“Não tenho coragem de deletar”

André Diniz: “Lido com minha conta de e-mail com o entusiasmo de quem põe o lixo na rua.”

Adri Lapenda: “E-mail faz lembrar voto obrigatório.”

Milagros Figallo: “É claro que o e-mail no trabalho é imprescindível, é um documento. Ele substitui o antigo ‘assina aqui’, ou seja, o velho protocolo.”

Flávio Fachel: “E-mail é coisa de quem ainda usa relógio de pulso…”

É, o nível de entusiasmo despertado pelas velhas mailboxes não é mais o mesmo. Chega a ser difícil explicar para os nativos digitais o que era a emoção de baixar pacotes de e-mails na época dos BBS, ali pelo Pleistoceno, quando tudo em relação à computação pessoal era novidade. Mas muita gente ainda tem carinho por esta ferramenta vintage. Que o diga Luiz Aviz, por exemplo, que chegou a publicar seis livros, cinco pela Editora Record e um pela Porto Editora, de Portugal, que juntos venderam mais de 80 mil exemplares, só compilando e organizando e-mails de piadas, que recebe desde 1998. Quando comentei que ele soube fazer uma boa limonada do spam recebido, Luiz esclareceu que não, nada daquilo era spam: “O primeiro e-mail que recebi era uma piada. Gostei, e respondi a todos: mandem mais. E nunca mais parou!”

Já Simone Lazzarini gosta das suas caixas de correio por outras razões – as mesmas, por sinal, que muita gente que ainda gosta de e-mail apontou: “Facilita demais a organização das informações, ao contrário das redes sociais, onde tudo fica meio solto, meio disperso. Além disso, sou das antigas: acho que nada substitui a formalidade de uma carta, ainda que agora ela venha em meio eletrônico. Eu, particularmente, sou muito mais cuidadosa com a forma e com o conteúdo do que escrevo quando envio um e-mail. Nos WhatsApp e Facebook da vida, relaxo bem mais. Acredito que o e-mail sempre terá o seu lugar, porque ele traz em si uma certa seriedade, um certo verniz de refinamento, algo que as redes sociais nunca vão ter.”

Reconheço isso. No entanto, fecho com Antonia Leite Barbosa: “Estou com horror aos e-mails, mas dependo tanto deles! Não tenho coragem de deletar e ignorar uma mensagem, então a deixo ali num limbo (o inbox) que pode durar meses. Nunca tive o prazer de ter uma caixa vazia. Acho que vai ser mais fácil fazer outro filho, criar e educar do que dar cabo de todas as mensagens. E preciso confessar que me apego por elas. Crio pastas com nomes como ‘interessante’, ‘home care’, ‘amigos’, ‘contatos formais’… E isso vai me custando um HD cada vez maior.”

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Cora Rónai, do Globo