Jonathan Zittrain é um dos maiores especialistas sobre internet do planeta. É professor de direito e de ciência da computação na Universidade Harvard (onde, vale dizer, foi meu professor). Há alguns dias publicou um artigo na revista “New Republic”, com o provocador título: “O Facebook Poderia Decidir uma Eleição e Ninguém Nunca Descobrir” (leia, em inglês, em bit.ly/eleicoesFB).
Ele fala da boa iniciativa do Facebook de incentivar as pessoas a votarem nos EUA. Como lá o voto é facultativo, a mobilização é sempre um desafio. Em 2010 o site lançou uma campanha pelo voto. Quem abria o site via um post dizendo: “Hoje é dia de eleições”, com fotos de amigos que já tinham votado.
Desafio imediato
A campanha foi eficaz. Estudo da Universidade de San Diego mostrou que cerca de 340 mil eleitores votaram influenciados por ela.
O questionamento de Zittrain é se, no futuro, o Facebook ou outras mídias sociais poderiam abusar desse poder de influência.
Por exemplo, e se a postagem em questão –”Hoje é dia de eleições”– fosse exibida apenas para eleitores de uma certa corrente política? Seria relativamente fácil fazer uma triagem e incentivar somente um grupo determinado de eleitores a votar.
Apesar de o artigo despertar uma importante reflexão para o futuro, no Brasil, o desafio imediato é outro: manter as redes sociais livres da avalanche de intervenções judiciais que mandam remover conteúdos sem motivo. O que precisamos é assegurar integralmente a liberdade de expressão –que garante a soberania do eleitor– no período eleitoral. É o momento em que mais precisamos dela.
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Ronaldo Lemos é colunista da Folha de S.Paulo; @lemos_ronaldo