Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A caminho do mundo conectado

Desde que o computador pessoal virou realidade, em meados dos anos 80, dois conceitos ganharam corpo entre pesquisadores: o da computação ubíqua, que estaria em todos os lugares sem que mal nos déssemos conta, e o do acesso universal à tecnologia. Ambos eram quimeras do mesmo quilate. Pensar em pervasive computing – ou, mais simplesmente, everyware – numa época em que os computadores ainda não eram sequer transportáveis exigia um esforço de imaginação tão grande quanto sonhar que, um dia, todos teriam acesso àqueles aparelhos tão caros.

Mais tarde, por curto tempo, houve uma terceira ideia no campo da popularização da tecnologia, que sustentava que, um dia, computadores e aparelhos de TV seriam um objeto só – mas esta era essencialmente equivocada, não por impossibilidade tecnológica, mas por simples motivos ergonômicos. Telas de TV e telas de computador são parecidas, mas escrivaninhas e sofás são animais distintos. Ainda assim, algumas bisonhas TVs com teclado chegaram a circular brevemente, para logo desaparecer no purgatório das boas intenções.

O que ninguém previa era que todos esses conceitos acabariam convergindo, não nos PCs, mas nos celulares; e que a argamassa dessa convergência seria o acesso à internet. Onde os inúmeros projetos de computadores populares falharam os smartphones triunfaram. Eles nos permitem usar computação em qualquer lugar, interagindo eventualmente com outros objetos (o princípio básico da computação ubíqua); estão cada vez mais difundidos; e são, a um tempo, objetos de trabalho e lazer.

O sonho dos magos

Uma pesquisa divulgada no começo do mês pela Ericsson não deixa dúvidas em relação a isso. De acordo com a empresa, que regularmente monitora os índices de mobilidade mundiais, o número de assinaturas de serviços móveis em geral cresceu cerca de 7% em relação ao primeiro trimestre do ano passado – mas o percentual de assinaturas de banda larga móvel literalmente explodiu no período, alcançando impressionantes 35% e elevando o total mundial de assinaturas a 2,3 bilhões. Ao mesmo tempo, 65% dos aparelhos móveis vendidos ao longo do ano foram smartphones, contra os 50% no ano passado.

É bom ter em conta que este número de assinaturas não coincide, necessariamente, com o número de novos usuários de banda larga móvel. Há diferenças acentuadas de uso entre regiões. Enquanto o aumento nos países em desenvolvimento se dá sobretudo com novos usuários, na América do Norte e na Europa Ocidental o crescimento se dá por novos serviços e aparelhos, com usuários adquirindo mais um tablet, por exemplo, ou passando a usar dois smartphones, um para casa e outro para o trabalho.

Ainda assim, caminhamos rapidamente para um mundo inteiramente conectado. A Ericsson prevê que, até 2019, chegaremos a 9,2 bilhões de assinaturas, sendo 80% em banda larga. Diferenças regionais continuarão presentes, e certas áreas chegarão ao futuro antes. Nos próximos cinco anos, a Europa atingirá a marca de 765 milhões de smartphones, mais do que toda a sua população; enquanto isso, na África e no Oriente Médio, metade dos aparelhos em circulação ainda será de celulares comuns.

A América Latina deve chegar a 2019 com cerca de 900 milhões de assinaturas móveis. Até lá, o tráfego de dados terá decuplicado em relação a 2013, impulsionado, sobretudo, pela transmissão de vídeos, que serão responsáveis por nada menos do que 50% do movimento.

Atualmente, as redes 2G alcançam 85% da população mundial; mas, daqui a cinco anos, 90% dos habitantes do planeta poderão se conectar à internet usando redes 3G, realizando, enfim, o antigo sonho dos magos do século passado.

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Cora Rónai, do Globo