As redes sociais estão mudando em tempo real a maneira como o longo conflito entre Israel e Palestina é percebido. E o fluxo contínuo de informação e conversas distribuídas por Twitter e Facebook custam a Israel mais em prestígio do que os velhos políticos que comandam o país estão percebendo. Esta guerra já foi perdida.
Quando as Forças de Defesa de Israel invadiram Gaza, em janeiro de 2009, o Twitter tinha por volta de 15 milhões de usuários ativos. O Facebook, 250 milhões. Hoje, o Twitter tem 244 milhões e o Facebook, 1,28 bilhão. Naquele mês, 4% da população mundial tinha um smartphone nas mãos. Hoje, um quarto de nós humanos convivemos diariamente com o telefone que acessa a internet. Nele, usamos principalmente as redes sociais.
Neste conflito, como de hábito, há um nítido desequilíbrio entre os mortos. Morrem muito mais palestinos. Em 2009, foram 1.400 de acordo com a ONU. Até o dia 27 último, também segundo a ONU, foram 999. Mas uma coisa são os números brutos. Outra é ver gente morrendo. Principalmente crianças. Ainda assim, imagens de mortes chegavam ao público pela imprensa tradicional. As redes mudaram esta dinâmica.
Na manhã do dia 16, o fotógrafo Tyler Hicks, do New York Times, viu incrédulo quando uma bomba matou alguns meninos numa praia de Gaza. Registrou o que pôde. Mas também, como inúmeros outros jornalistas vêm fazendo durante toda esta operação, tuitou. Ao fazer a narrativa em tempo real de uma matança, os filtros que buscam mais precisão e menos adjetivos, incorporados por qualquer jornalista, baixam e a emoção aflora. As narrativas desta operação estão mais carregadas. De certa forma, talvez representem melhor os horrores de uma guerra.
Opinião pública
Em guerras, porém, a primeira vítima é a verdade. A frase de um antigo ministro britânico segue precisa. Dentre as muitas imagens e vídeos que circulam pelo burburinho da rede, nem todas são de Gaza. É difícil, frequentemente, discernir quais cenas vêm na verdade de conflitos muito mais sangrentos, como o da Síria. Ou do que ainda ocorre no Iraque.
Assim como nem toda informação que chega às redes circula com a velocidade dos virais. John Reed, repórter do “Financial Times”, viu no dia 22 quando dois foguetes foram disparados contra Israel. Partiram dos fundos do Hospital al-Wafa que, depois, foi atacado. Os tweets com detalhes do bombardeio israelense correram o mundo. Os iniciais, de Reed, tiveram menos repercussão. E ainda renderam ao jornalista ameaças por simpatizantes do Hamas. Junto com a informação, as redes carregam um segundo problema para Israel: conversas. É onde a percepção de quem está certo ou errado se consolida. Em alguns casos, estas conversas escorregam para o antissemitismo disfarçado ou escrachado. Mas nem sempre. São conversas que estão ocorrendo mundialmente. E, perante as imagens de crianças mortas, é difícil que terminem numa conclusão diferente: não importa se tinha razão no início, Israel está matando inocentes demais.
É isso mesmo que um grupo político radical com forte braço paramilitar como o Hamas deseja. O Hamas, pois, venceu esta guerra. E a armadilha que armou para Israel é feia por dois motivos.
Primeiro porque fez com que a opinião pública mundial se voltasse contra Israel. Para onde vai a opinião pública, para lá seguem os governos. Segundo porque, conforme o mundo lhe vira as costas, Israel se fecha em copas. Reforça sua impressão de que está sozinho contra todos e alimenta a máquina que derramará mais sangue palestino. O ciclo se retroalimenta.
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Pedro Doria, do Globo