Há um site na internet no qual tenho me perdido. Se chama Quora. Fundado em 2010 por dois programadores que deixaram o Facebook, tem uma premissa simples. Você tem uma dúvida? Faça sua pergunta. A comunidade responderá. Já são mais de 500 mil usuários registrados, todos com seus nomes próprios. Muitas das vezes as perguntas vão direto ao ponto, alguém tem um problema específico e o apresenta em busca de solução. Nessas horas, o Quora é útil. Mas não é o que o torna fascinante. Porque noutras tantas vezes as perguntas vêm mais abertas, atiçam que alguém conte uma história, abrem espaço para uma reflexão.
Quais as melhores histórias de encontros fortuitos com Steve Jobs?”, alguém perguntou faz dois anos. Boa parte dos usuários do Quora ainda se concentra no Vale do Silício. Palo Alto, a cidadezinha onde Jobs morava, fica no coração do Vale. Muitos por ali viveram encontros assim. Steve Bell, por exemplo, estava comprando esterco para seu jardim certa vez quando se deparou com Jobs ali ao lado, pá à mão, enchendo uma saca para seu próprio quintal. Outro usuário o via vez por outra no supermercado da esquina. Seu carro sempre estava com a tampa do tanque de combustível aberta. Grandes histórias são fáceis de achar. Em nenhum outro canto da rede, porém, há as coisas pequeninas do cotidiano que dão noção do tipo de homem que ele era.
Nenhuma pergunta é inusitada demais. “Como alguém se sente ao ser condenado à prisão injustamente?” Michael Morton o foi. A Justiça decidiu que ele havia assassinado a própria mulher. “Lembro da primeira noite. Eu estava anestesiado. Havia perdido todo o controle sobre mim. O que vestia, o que comia, quando dormia, tudo seria ditado pelo Estado.” No início, ele conta, a vida na prisão é ditada pela capacidade que cada um tem de se habituar a um novo mundo com regras rígidas. “Conforme os anos passam, uma apatia fingida se torna sua máscara externa. Por dentro, raiva e ressentimento o consomem. Você pensa muito sobre vingança. Noutros momentos, fantasia sobre como seria uma vida normal.”
O Quora é uma rede social. As perguntas são abertas e qualquer um pode respondê-las. Essas respostas se empilham aos poucos, e a comunidade as filtra. Quanto mais votos ganha um comentário por sua qualidade, mais para cima ele vai. Abaixo de cada pergunta aparece apenas uma das muitas possíveis respostas: aquela que teve mais votos.
É impossível passar por lá sem aprender algo surpreendente.
Premissa fascinante
Por que assaltantes de lojinhas nos EUA costumam apontar suas pistolas para as pessoas inclinando-as de lado? Assim é mais fácil mirar quando alguém está agachado do outro lado do balcão.
Se um asteroide gigante estivesse a caminho de colidir com a Terra, seria possível evitar o choque? Há dois caminhos. Um é destruir o asteroide, o outro desviá-lo. Desviar é mais fácil. Hoje, porém, não há tecnologia suficiente para qualquer uma das soluções.
Me conte um fato surpreendente da psicologia? Nos apaixonamos por pessoas que nos fazem sentir bem a respeito de nós mesmos. O mesmo processo se dá a respeito da amizade. As pessoas de quem gostamos, na verdade, fazem com que nos sintamos especiais em algum ponto. Somos bichos autocentrados.
O que fazer caso encontre um leão no meio da savana? Pare e não o encare. Leões só são perigosos se estão habituados com humanos. Os pouco acostumados fogem. Se ele estiver balançando o rabo, preocupe-se. Se ele ameaçar você, levante os braços, balance-os e grite tão alto quanto conseguir. Se o leão avançar, não corra. Suas chances em fuga são nulas. Se tiver a chance, afaste-se muito devagarinho.
Um site com uma premissa tão simples pode ser incrível, fascinante. É impossível entrar por ali sem se perder por um bom tempo. Bom programa entre uma planilha e outra.
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Pedro Doria, do Globo