A televisão e a internet estão transformando o comportamento dos jovens em Cabul, mas sua influência na maior parte do país é reduzida. Apenas 30% da população do Afeganistão tem acesso a fontes de eletricidade permanentes, o que dificulta o uso de computadores e aparelhos de TV.
Apesar das limitações no fornecimento de energia, 60% dos afegãos possuem telefones celulares. Os aparelhos são carregados graças ao uso de pequenas placas de energia solar, cada vez mais populares na zona rural.
O acesso aos meios de comunicação passou por uma revolução desde 2001, o último dos seis anos de governo do Taleban, durante o qual havia apenas uma rádio, controlada pelo governo – música e imagens estáticas ou em movimento eram banidas. As mulheres foram proibidas de estudar e trabalhar e tiveram sua existência confinada à vida doméstica.
Distração
A empreitada midiática de maior sucesso é a emissora Tolo TV, que tem um canal de entretenimento e outro exclusivo de notícias, no qual há intensos debates e programas de humor político.
Novelas turcas e indianas mostram mulheres sem véu e com roupas insinuantes, enquanto os jovens exercitam seus talentos musicais no Afghan Star, a versão local do programa de revelação de cantores American Idol.
O programa afegão provocou comoção nacional em 2008, quando uma mulher ficou pela primeira vez entre os três finalistas – e foi eliminada.
Mulheres
A presença feminina não provoca mais crises e é comum que as candidatas se apresentem com o cabelo descoberto, mas com braços, pernas e colo escondidos.
Estudo divulgado pelo National Endowment for Democracy em 2012 disse que houve uma “explosão” de mídias no período de dez anos depois da queda do Taleban.
Segundo o levantamento, o Afeganistão tinha 175 estações de rádio FM, 75 canais de televisão, 4 agências de notícias, 7 jornais diários e centenas de outras publicações. O acesso à imprensa escrita é limitado em razão do elevado índice de analfabetismo: 43% dos homens e 20% das mulheres sabem ler e escrever.
Telefonia
O setor de telecomunicações afegão passou por sua própria “revolução” desde 2002. Foi o ano em que a primeira companhia – a AWCC – obteve autorização para operar com serviços GSM. De acordo com dados divulgados em 2012 pelo governo americano, a cobertura de telefonia fixa e móvel já chegava a 85% da população.
***
Comércio ainda mantém raízes tradicionais
Como todas as cidades pobres e ainda influenciadas pela vida rural, Cabul é feita de mercados de rua. Em torno da mesquita Pul-e Khishti, no centro antigo da capital afegã, barracas e pequenas bancas se espalham em intrincados corredores, ocupam calçadas e avançam sobre o asfalto.
Barbeiros recebem seus clientes sentados em pequenos bancos ao ar livre, sapateiros oferecem seus serviços enquanto permanecem encostados no muro da mesquita e afiadores de faca exercem seu ofício na mesma viela onde são vendidos pássaros e coelhos.
É possível comprar roupas, tecidos, pães, gaiolas, tapetes, especiarias e inseticidas. Também estão à venda perus e galos – vivos. No meio de tudo isso, barracas com grandes chapas aquecidas preparam kebabs ou fígado, enquanto outras vendem suco de romã.
As ruas borbulham, ocupadas principalmente por homens vestidos com roupas tradicionais afegãs.
Em outro mercado próximo da mesquita, cortes de madeira e pedras para construção são vendidos ao ar livre, de um lado da rua. Do outro, tendas grandes cobrem rebanhos de carneiros, a matéria-prima dos kebabs e de grande parte da culinária afegã.
Resistência
Apesar de 13 anos de ocupação americana, não há McDonald’s nem qualquer outro símbolo de influência ocidental nas ruas de Cabul. A exceção são os bens de consumo industrializados.
Com uma economia precária, o país fabrica poucos dos produtos vendidos no mercado interno. A maioria dos carros é Honda e muitos dos celulares são Samsung e Nokia.
A rede americana de fast food Kentucky Fried Chicken (KFC) é inexistente, mas, desde 2008, a capital afegã tem um Kabul Fried Chicken, uma primeira incursão no segmento que logo ganhou seus próprios imitadores locais na cidade.
Os tapetes são um dos produtos de excelência do Afeganistão e muitos dos motivos com que os de pequeno tamanho são estampados refletem a violenta história das últimas três décadas e meia.
Alguns trazem tanques e helicópteros de guerra. E muitos retratam Ahmad Shah Massoud, o guerrilheiro islâmico que combateu os soviéticos e o Taleban e foi morto em um atentado da Al-Qaeda dois dias antes dos ataques terroristas contra as Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. (C.T.)
******
Cláudia Trevisan, do Estado de S.Paulo, em Cabul