Uma estudante holandesa recentemente resolveu fazer uma brincadeira: fingiu estar por cinco semanas viajando pelo Sudeste Asiático. Publicou, na sua página do Facebook, fotos tiradas em praias paradisíacas e em templos budistas. Tudo falso, claro, feito com a ajuda de um programa de manipulação de imagens. No entanto, conseguiu enganar família e amigos, que pensavam estar acompanhando virtualmente a sua aventura pela Ásia.
Em abril deste ano, um ativista decidiu criar uma página falsa no Facebook, em nome de um dos candidatos a presidente da Síria. Usou a página como palco a partir do qual lançar controvérsias e rumores, que terminaram sendo citados em vários meios de comunicação. Seu objetivo? Mostrar como é fácil manipular jornalistas que, em vez de fazer seriamente seu trabalho, baseiam-se em páginas de redes sociais virtuais que são facilmente manipuláveis.
Como saber quando a Internet está representando e não distorcendo a realidade?
Campanhas “fake”?
Essa não é uma preocupação apenas dos usuários, mas também das empresas que oferecem serviços na Internet. Por exemplo, o próprio Facebook disponibiliza uma lista das “Dez maneiras para detectar uma conta falsa”. Além disso, tanto o Facebook como o Twitter criaram um “selo de autenticidade” para pessoas públicas, que atesta a origem de determinada página ou conta. Se não fosse por isso, como saber quais das dezenas de páginas que alegadamente representam os candidatos à Presidência no Brasil são as verdadeiras?
No entanto, essas iniciativas não resolvem todo o problema.
Podemos saber quais páginas ou contas são autênticas, mas não sabemos em que medida podemos confiar nos dados de uso da Internet. Comprar seguidores no Twitter é fácil, e criar páginas falsas para “curtir” outras no Facebook virou parte do cotidiano eleitoral. Assim, não dá para levar muito a sério dados que são alardeados pelas campanhas, como o número de seguidores ou o alcance das publicações do Facebook.
Outras iniciativas
Como sempre enfatizamos nesta coluna, as iniciativas dos próprios internautas muitas vezes dão boas pistas sobre como promover a cidadania na Internet. Por exemplo, nesta sexta-feira [26/9] o Instituto BETA para Internet e Democracia promoverá a Wikitona Eleições 2014, uma maratona de edição e criação de verbetes no Wikipédia, relacionados, como diz o título do evento, às eleições deste ano. A ideia é criar uma fonte viva, coletiva, e, claro, confiável, sobre variados aspectos do processo eleitoral. A conferir.
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Marisa Von Bülow é doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas.