Na semana em que o Orkut chega ao fim, a rede social que mais tem sido comentada atende por outro nome: Ello. Assunto não só aqui, mas no mundo todo, o Ello ganhou destaque ao se colocar no mercado como uma plataforma “anti-Facebook”, o que significa, de acordo com o manifesto publicado em seu site, a garantia de que a rede social será para sempre livre de anúncios.
“Acreditamos que redes sociais podem ser uma ferramenta de ‘empoderamento’. Não uma ferramenta para enganar, coagir e manipular – um lugar para conectar, criar e celebrar a vida. Você não é um produto”, diz trecho do texto do manifesto da nova rede social.
O Ello está gerando curiosidade e interesse também por outra característica: só aceita convidados. Para participar do site é necessário receber um convite de outro usuário ou cadastrar o e-mail na lista de espera e aguardar a liberação de novos convites.
A disputa está grande. O site BetaBeat diz que o Ello recebe 31 mil novos pedidos de acesso por hora. Diante de tanta demanda, já existe quem esteja vendendo convites para o Ello no eBay. Em uma busca no site de leilões, o Estado encontrou desde convites negociados por US$ 1 até US$ 100.
Particular
O Ello foi lançado em março por um grupo de artistas e designers que inicialmente desenvolveu o sistema para uso próprio. “Éramos um grupo de amigos de saco cheio de outras redes sociais, cansados da publicidade, desordem e de nos sentir manipulados e enganados por empresas que claramente não têm os nossos interesses por definição”, explicou o cofundador da rede, Paul Budnitz, ao site Motherboard.
A rede social tem uma interface clean e simples, que lembra uma mistura de Twitter com o Tumblr e recebeu um investimento-anjo de US$ 400 mil do fundo americano FreshTracks Capital para bancar a expansão da infraestrutura para mais usuários. Essa não é a primeira rede criada para confrontar o Facebook. Path e Diáspora, focadas na privacidade do usuário, tentaram o mesmo, sem conseguir tanta repercussão. No domingo, o Ello sofreu seu primeiro ataque hacker. Ficou fora do ar por 35 minutos.
Um dos principais motivos para a migração de pessoas para a Ello foi a insatisfação da comunidade LGBT com o Facebook, que anunciou a obrigatoriedade de uso de nomes verdadeiros na rede social, excluindo os que adotam nomes artísticos.
Menos barulho
O escritor Fábio Navarro foi um dos primeiros brasileiros a entrar no Ello, há cerca de três semanas. Ele já tem 3.992 seguidores na nova rede social, onde publica textos de sua autoria em inglês. “O crescimento de anúncios e a onda de reacionarismo no Facebook me deixaram empolgados em testar o Ello”, diz. “Essa não é uma rede que ‘vomita’ informação. Você precisa ler o que está sendo postado para entender, é menos superficial”, opina. Para ele, se o Ello conseguir se manter sem anúncios poderá desbancar o Facebook.
Já para o analista de sistemas Leandro Maciel, o Ello ainda está em uma estágio muito inicial. “Acho que funciona mais para um público que não aguenta mais o Facebook, onde há muita postagem, muita discussão, muita briga. O Ello é um lugar mais tranquilo”, diz.
Modelo
Os criadores do Ello dizem que para manter a rede social sem anúncios, vão adotar o modelo de negócio freemium, no qual o acesso ao site é gratuito, mas recursos extras poderão ser pagos. Para quem trabalha neste mercado, a promessa é vista com ceticismo.
“O Twitter falou por anos que não teria anúncios e acabou se rendendo. No modelo freemium é necessário ter uma base de usuários muito grande, porque apenas uma pequena parcela acaba pagando”, diz Terence Reis, diretor de operações da PontoMobi. “Os investidores vão cobrar resultados e talvez eles se vejam obrigados a inventar algo como um anúncio politicamente correto, para justificar outros tipos de remuneração.”
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Ligia Aguilhar, do Estado de S.Paulo