Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Yahoo e eBay voltam às origens

Um banqueiro de investimentos ousado pode apresentar uma justificativa estratégica para combinar duas empresas de praticamente quaisquer áreas sob um único teto corporativo. Mas no mundo da tecnologia, transformar companhias em crescimento em organizações maduras é sempre algo propenso à instabilidade. As necessidades da empresa emergente frequentemente estão em segundo plano diante das necessidades da empresa madura, mas os investidores anseiam mesmo é por oportunidades de crescimento. O futuro e o passado sempre ficam desconfortáveis na cama.

Para o eBay – que inverteu o curso nesta semana ao revelar que vai promover uma cisão da sua divisão PayPal, de rápido crescimento – esse ponto de instabilidade finalmente chegou. O Yahoo também se aproxima de sua hora da verdade, com um grupo cada vez mais barulhento de acionistas ansiando por uma companhia com um foco mais direcionado a seus negócios de mídia nos Estados Unidos, mesmo que o fim do jogo ainda possa estar meio distante.

O retorno do eBay e do Yahoo a seus núcleos originais seria um momento seminal para esses dois sobreviventes da primeira era da internet. Reduzidas aos seus respectivos negócios de comércio eletrônico e mídia, as duas companhias poderiam ter uma nova chance de se reinventar – embora possam também se ver espremidas entre as plataformas dominantes que estão passando a ditar o comportamento on-line.

Contribui para a trama o voto de confiança que Wall Street acaba de dar a um novo tipo de conglomerado da internet. O Alibaba parece quebrar todas as regras de crescimento disciplinado. Mas, diante do enorme potencial de seus negócios domésticos de comércio eletrônico, os investidores estão preparados para fazer vista grossa aos sinais de indisciplina – e ao contrário do eBay e do Yahoo, os acertos de governança do Alibaba significam que a empresa nunca precisará se envolver em batalhas com acionistas ativistas.

A decisão do eBay indicou o fim da estratégia da ex-executiva-chefe Meg Whitman de injetar serviços extras aos negócios de leilões para formar uma “comunidade” mais profunda. A tese era de que ao se comunicar via Skype – que o eBay comprou em 2005 –, e fazer pagamentos via PayPal, os usuários teriam uma probabilidade maior de se conectar, negociar e fazer transações, azeitando as engrenagens do comércio eletrônico.

Oportunidade perdida

O PayPal e o Skype são serviços de internet cujos valores são bem maiores que o do eBay. Portanto, manter três plataformas on-line distintas sempre foi um desafio. O Skype foi desmembrado em 2011; sua posterior aquisição pela Microsoft foi um sinal de como os grandes grupos da internet cobiçam esses serviços – e um alerta ao PayPal e ao eBay do que pode estar à frente, mesmo que elas tenham, cada uma, um valor potencial de mais de US$ 30 bilhões.

As pressões que levaram o executivo-chefe John Donahoe a decidir desmontar o eBay também começam a pesar sobre Marissa Mayer, sua colega do Yahoo, embora as considerações desta sejam de natureza diferente. Graças à presciência do cofundador e ex-executivo-chefe Jerry Yang, Marissa Mayer ganhou uma herança invejável. O Yahoo tem uma participação de 16,3% no Alibaba e de 35,5% no Yahoo Japan – e o caixa do grupo, de cerca de US$ 8,5 bilhões (quase US$ 6 bilhões resultantes da venda de ações na recente oferta pública inicial do Alibaba) vale por si só mais que o valor atribuído pelos analistas aos negócios fundamentais do Yahoo. Desfazer-se desses ativos de uma maneira eficiente do ponto de vista fiscal é a principal rota para enriquecer os acionistas do Yahoo.

A maneira como isso vai se desenrolar provavelmente será determinada longe da sede do Yahoo. Jack Ma, o presidente do Alibaba, não faz segredo de seu desejo de retomar a participação do Yahoo em sua empresa, embora esta não seja uma de suas maiores prioridades, segundo uma pessoa familiarizada com a companhia. O Softbank, que controla a Yahoo Japan, será muito pressionado para tocar o Yahoo sem o envolvimento de Ma, uma vez que uma aquisição completa levaria sua própria participação no Alibaba para perto de 50%. Enquanto isso, Marissa Mayer não pode começar a vender suas ações remanescentes do Alibaba antes de decorrido um ano da oferta pública inicial, deixando de lado qualquer decisão imediata.

Mas a julgar pelos comentários do investidor ativista Starboard Value, os planos de Marissa para seu caixa começam a deixar alguns acionistas nervosos. A promessa de distribuir metade dos recursos do Alibaba ainda a deixaria com US$ 5,5 bilhões para gastar em aquisições, um campo em que o Yahoo não se destacou no passado.

A lua de mel de 27 meses que Marissa Mayer teve como CEO, antes da oferta inicial do Alibaba, poderá se mostrar uma oportunidade perdida para reposicionar mais agressivamente o principal negócio do Yahoo. Com os ativistas em seus calcanhares, o fim do jogo pode estar se aproximando.

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Richard Waters, do Financial Times