Aconteceu de repente: o Brasil das redes sociais amanheceu, na segunda-feira [6/10], sofrendo de uma crise aguda de xenofobia. Eram denúncias por toda parte de que havia gente usando Twitter, Facebook e Instagram para berrar, principalmente, contra nordestinos pela forma como votam.
Mas será?
Já houve episódios de preconceito nas redes sociais no passado. Seguiam, sempre, um mesmo padrão: algum anônimo falava uma bobagem, a bobagem era ampliada com republicações. A pessoa apaga sua conta na rede, tenta se explicar para jornalistas. Essas pessoas aparecem, suas histórias são contadas. Às vezes perdem emprego. Episódios assim costumam se estender por uma semana, talvez um pouco mais. Crescem devagar, ganham volume e, lentamente, morrem.
Desta vez foi diferente. Não houve um caso de xenofobia mas inúmeros. Não houve tempo para, lentamente, eles começarem a ser distribuídos. Apareceram repentinamente, na manhã de segunda-feira. E já apareceram denunciados, com respostas prontas, listados em blog.
A missão do marketing eleitoral, em um segundo turno curto, é influenciar tanto quanto possível nos temas que a imprensa cobre e nas conversas que as pessoas têm. Dependendo da estratégia de cada candidato, polarizar geograficamente o Brasil pode ser interessante. O estado de Pernambuco em particular, que votou pesadamente em Marina Silva, será disputadíssimo pela presidente Dilma Rousseff e por seu adversário, Aécio Neves.
Manipuláveis e manipuladas
Como diferenciar o que é intolerância real (que existe) e o que é manipulação publicitária? Existem alguns truques.
1. Pessoas, nas redes sociais, raramente existem no vácuo. Quem tem uma conta no Facebook também tem uma no Twitter, no Instagram ou no LinkedIn. Se o autor da mensagem se assina com pseudônimo e uma ou duas buscas não permitem encontrar outros traços dele na internet, o perfil provavelmente é falso.
2. Se, de repente, um assunto domina as redes, desconfie. Demora um tempo para um assunto crescer.
3. Por fim, conveniência. O Brasil está dividido. Há eleitores tucanos e eleitores petistas. Eleitores de ambos os lados falarão besteira. Esse é o caminho natural. Se a onda vem de repente e parece pender para um só lado, é possível que seja orquestrada.
Redes sociais parecem uma versão online das nossas conversas cotidianas com amigos e conhecidos. Mas não são. Gerar volume de mensagens a respeito de um tema em momentos nos quais episódios como eleições nos mobilizam a todos é fácil. Redes são manipuláveis. E, por isso mesmo, às vezes são manipuladas. Com o tempo, nos acostumaremos.
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Pedro Doria, do Globo