Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conectividade, a próxima revolução industrial

O futuro pertence às máquinas. Mais de um bilhão de smartphones serão vendidos neste ano e vários milhões de smartwatches e monitores de saúde de diversos tipos serão usados. Mas se as previsões sobre a chamada “Internet das Coisas” estiverem certas, num futuro não muito distante, o número de dispositivos de computação espalhados pelo mundo que operam sozinhos, conectados por cabos ou redes sem fio, vai ultrapassar o número de aparelhos que as pessoas carregam com elas.

A firma de pesquisa de mercado Gartner prevê que o total dos dispositivos conectados a redes, a maioria deles não operados por uma pessoa, vai saltar de 3 bilhões para 25 bilhões em apenas sete anos.

Entre esses dispositivos estão automóveis com conexão à internet, produtos em lojas que podem ter transmissores sem fio em seus rótulos, e frotas de caminhões nas estradas conectadas com redes que monitoram seu itinerário.

Além disso, sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado terão mais capacidade para controlar a umidade e temperatura, as companhias aéreas farão melhor uso de combustível e os hospitais coordenarão melhor o agendamento de cirurgias com a disponibilidade de equipamento para as salas de operação.

A parte difícil

Duas tendências clássicas da tecnologia estão em operação.

Primeiro, a tecnologia, como frequentemente faz, está democratizando o processo de conexão das coisas. Potências da indústria como a General Electric vêm automatizando os sistemas de controles industriais em plataformas de petróleo há décadas. E os tipos de infraestrutura em rede mencionados aqui podem ser construídos totalmente pela divisão Smarter Planet, da IBM, que gera US$ 5,5 bilhões por ano em faturamento para a gigante tecnológica, estimam analistas.

Normalmente, porém, “esses tipos de abordagem só podiam ser financiados pelas maiores empresas do mundo”, diz Ed Maguire, analista de software da firma de pesquisa CLSA Americas, que já fez vários relatórios este ano sobre a Internet das Coisas. “Não era algo acessível a empresas médias.”

Agora, a queda no custo de sensores, a proliferação de sistemas de conectividade a cabo e sem fio para computadores e a chegada de centros da dados mais baratos da Amazon.com e outros provedores, que podem reunir e analisar informações de máquinas ao redor do mundo, estão permitindo cada vez mais que empresas grandes e pequenas se conectem de uma forma antes só imaginada pelas gigantes.

Segundo, as capacidades estão aumentando. Agora, por exemplo, um simples sensor de movimento, luz ou temperatura pode ser preso a um dispositivo e usado para controlá-lo. Em breve, o software por trás de uma rede de sensores irá monitorar as lâmpadas das ruas de uma cidade inteira, tornando-as mais eficientes e economizando o dinheiro dos contribuintes. Ou companhias aéreas poderão usar um serviço que sabe quando partes do motor do avião estão prestes a falhar e pode pedir uma troca para minimizar o tempo parado da aeronave.

A explosão de coisas conectadas oferece oportunidades para empresas que operam em todos os setores da tecnologia, incluindo fabricantes de chips como Qualcomm e Thin Film Electronics, empresas tradicionais de equipamentos de redes como a Cisco Systems, fornecedores de software como PTC e Splunk, e provedores de serviços de computação em nuvem como Amazon.com e Salesforce.com.

Empresas da velha economia, como a Monsanto e a GE, também podem se beneficiar dando vida nova aos objetos mais simples, como equipamentos industriais e sementes.

Existem três estágios para a Internet das Coisas. Primeiro, muitos objetos tornam-se conectados, incluindo carros, casas, trens de carga, equipamentos médicos e produtos de consumo. Depois, mais e mais informação analisável é extraída desses dispositivos conectados. E, no estágio final, os fabricantes irão operar suas empresas com base nesses dados.

O primeiro estágio está muito relacionado com sensores e chips baratos. Há muitos exemplos de ponta, como a fabricante de carros elétricos Tesla. Recentemente, ela anunciou uma nova versão de seu Modelo S com sensores que, com o tempo, levarão ao desenvolvimento de um piloto automático para rodovias.

Mas há exemplos menos sofisticados se espalhando discretamente. A novata californiana Gimbal nasceu de uma cisão da Qualcomm em maio. Ela produz o chamado iBeacon, nome patenteado pela Apple, que desenvolveu o padrão. Os iBeacons da Gimbal são pedaços de plástico que custam de US$ 5 a US$ 20, podem ter apenas alguns centímetros quadrados de tamanho e contêm sensores, transmissores sem fio e um pouco de memória. Eles podem ser presos a vários lugares e transmitir informações a dispositivos que passam por perto, até 50 metros de distância.

A Apple usa os dispositivos Gimbal em suas lojas de varejo: Quando um cliente entra na loja, seu iPhone se conecta automaticamente a iBeacons escondidos sob as mesas de exposição. O iBeacon envia alertas para a tela do aparelho, como lembretes sobre a hora marcada com técnicos do Genius Bar.

O próximo estágio é a coleta de dados por todos os dispositivos conectados no campo.

A PTC, que por muitos anos vendeu software de design de produtos, comprou uma nova empresa chamada ThingWorx. Ela permite que as clientes unifiquem os dados recolhidos pelos sensores no campo e os combine com recursos de rede de vários tipos. Uma empresa pode usar os dados de um sensor de uma máquina e combiná-los com os nomes dos clientes de um banco de dados operado pela Salesforce, empresa que oferece software de administração de relações com o cliente, assim como um serviço de computação em nuvem.

No terceiro estágio da Internet das Coisas, as empresas mudarão a forma como ganham dinheiro e aprendem a cortar custos. Talvez esta seja a parte mais difícil de quantificar porque envolve trazer à tona todas as ineficiências dos modelos de negócio existentes.

O fator segurança

A Cisco, que realinhou seu negócio para vender pacotes de interruptores, software e serviços para a Internet das Coisas, ressalta o exemplo de Barcelona, Espanha, que está usando sensores e redes para entender melhor os padrões de tráfego e reduzir congestionamentos. “Não há setor da economia onde não existam bilhões de dólares presos em ineficiências”, diz Glen Allmendinger, analista da Harbor Research. “Veja como os PCs, nos anos 90, aumentaram a produtividade dos escritórios. O impacto da Internet das Coisas será muitas vezes maior.”

Um bom exemplo é a Monsanto, que investiu US$ 930 milhões para comprar a Climate Corp., uma novata de previsão de tempo. Usando sensores terrestres que medem os níveis de pH e a composição do solo, a gigante das sementes e insumos agrícolas espera oferecer um serviço que diga aos produtores quais culturas terão maior produtividade em suas terras, sob determinadas condições climáticas.

A principal ameaça da Internet das Coisas é a segurança. Obviamente, coisas muito ruins podem acontecer se um hacker invade redes conectadas, como a rede de energia ou ferroviária do país.

“Muita gente vem inserindo coisas na rede sem se dar o tempo necessário para torná-las seguras. Esse é, categoricamente, o maior risco”, diz Allmendinger.

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Tiernan Ray é colunista do semanário Barron’s; especial para o Wall Street Journal