Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Internet das coisas pede rede robusta

Robô com sensor de áudio e capacidade de aprendizado. Óculos que permitem comandar computadores por teclados virtuais. Sensoriamento de redes para prevenção de perdas e criação de novos produtos e serviços. Carros que andam sozinhos. Peças de roupa que se ajustam à temperatura ambiente. As possibilidades aventadas indicam que o mundo deve experimentar com a comunicação máquina a máquina (M2M) na internet das coisas o mesmo grau de transformação pelo qual passou com a chegada dos smartphones. E o mercado deve se preparar para isso com o reforço de ecossistemas que perpassem as camadas de dispositivos, plataformas e conectividade. “Estes dispositivos vão impactar a medicina, o transporte, o trabalho”, apontou Rafael Steinhouser, presidente da Qualcomm América Latina.

No mercado brasileiro, o crescimento do setor ainda é orientado por operadoras de cartão de crédito, mas já começam a surgir iniciativas como os carros conectados e medição inteligente de redes.

A Vivo, segundo o diretor da área digital Roberto Piazza, já atua com distribuidoras elétricas em busca de redução de perdas não técnicas, o popular “gato”, enquanto a incubadora Wayra abriga iniciativa relacionada ao controle de bois que se estende pela cadeia de processamento da indústria alimentícia e também se aplicada à gestão de cadeia gelada. Em parceria com a Ericsson, a operadora sustenta sua primeira cidade digital em Águas de São Pedro (SP). Em São José dos Campos (SP), onde a Ericsson assina rede de monitoramento de tráfego e da cidade, o número de homicídios caiu de 12 para um em cada 100 mil habitantes de 2009 para cá.

Para Leonardo Capdeville, CTO da TIM, o cenário exige atenção aos requisitos necessários para o ciclo de desenvolvimento do mercado. O primeiro é a conectividade. “Hoje as operadoras têm o desafio de conectar pessoas. Com dispositivos, a demanda aumenta quatro ou cinco vezes”, antecipa.

A consequência direta é a necessidade de ampliar o parque de antenas no Brasil e a necessidade de equacionar barreiras como a falta de maturidade no setor em relação a compartilhamento de infraestrutura e de normalização nacional para novas antenas. Por outro lado, o avanço da 4G e sua concepção para o mundo de dados vai melhorar a latência, colaborar para a experiência do usuário e acelerar o tráfego. “A internet das coisas vai precisar de tecnologia mais robusta”, diz.

Padronização e flexibilidade

Maximiliano Martinhão, secretário de telecomunicações do Ministério das Comunicações, enumerou iniciativas desenhadas para estimular o segmento, como a desoneração de 80% da alíquota do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) para os chips M2M e a criação da Câmara de Gestão da Implantação do M2M, reunindo diferentes segmentos e órgãos para formulação de políticas públicas. “Os interessados podem se organizar em grupos e eleger representantes para participar.”

Ele lembrou ainda a criação do projeto Nova Telecom no ano passado, com investimentos previstos de R$ 1,5 bilhão para os próximos quatro anos em inovação, incluindo M2M, e a proposta da Lei de Antenas para harmonizar a legislação no país, que prevê tratamento diferenciado para microcells.

Em outra frente, segundo Martinhão, o ministério busca caminhos para desonerar também small cells com capacidade entre 1 e 5 watts. “A internet das coisas envolve um mercado potencial de 50 bilhões de dispositivos até 2020 e impacta não só as oportunidades para o setor de telecom e TI, mas o aumento da produtividade de toda a economia brasileira”, acrescentou Rodrigo Loureiro, conselheiro da Anatel.

Segundo ele, o impulso que pode ser dado a setores como o agronegócio embasa o foco da agência em questões como a expansão da cobertura, inclusive em áreas rurais, e a publicação em breve de uma norma para que todo equipamento de rede tenha certificação IPv6. “A necessidade de escoamento de tráfego vai aumentar exponencialmente e deixar ao mercado a competência de transição para o IPv6 tem trazido atraso”, justifica.

Piazza, da Vivo, acrescentou que como além da implementação de infraestrutura é necessária a construção de todo um ecossistema, a operadora está trabalhando com plataformas abertas para estimular desenvolvedores e criando iniciativas de financiamento. “Nossa capacidade de inovação é limitada, outra empresa pode desenvolver um aplicativo que a gente nem imagina”, acredita.

Outra questão a ser levada em conta para a evolução do setor é a padronização tecnológica e a flexibilidade dos modelos de negócios, apontou João Yazile, vice-presidente de estratégia da Ericsson. “As aplicações vão precisar de capacidade, cobertura, latência ou tudo junto. É necessário diferenciação nos modelos”, alegou – segundo ele, a regulamentação da neutralidade de rede é importante neste sentido.

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Martha Funke, para o Valor Econômico