Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Facebook quer ser o seu jornal

Barack Obama inaugurou os Town Hall do Facebook, como são chamadas as sessões de perguntas enviadas pelo público presente a um ato e pelos usuários. Desde o começo do Facebook, na hora do almoço das sextas-feiras os trabalhadores podem se dirigir a Mark Zuckerberg para saber sobre o rumo da empresa e o porquê das decisões. As quintas-feiras à tarde mudaram essa dinâmica. Os usuários também podiam acompanhar a sessão e inclusive participar para esclarecer dúvidas. A mudança de dia obedeceu à ambição global da empresa, para que os usuários da Ásia e da Austrália tivessem acesso mais fácil.

No Facebook, um lugar no qual teoricamente a vida pessoal teria que prevalecer, o conteúdo é rei. Segundo o último relatório apresentado pela companhia, quase ‘30% dos adultos dos EUA se informam por meio do Facebook e 20% do tráfico das notícias provém da rede social. Daí que o News Feed, a principal tela do Facebook, tenha se tornado algo estratégico. “Nosso objetivo é construir o jornal personalizado, perfeito para cada um. Queremos personalizá-lo para que cada pessoa veja o que é mais interessante”. O diretor esclareceu muitas dúvidas, como que diariamente oferecem 1.500 histórias para cada perfil, mas só chega a ver cerca de uma centena.

Segundo Zuckerberg, cada usuário está exposto cada dia a mais de 1.500 histórias, mas um usuário médio só chega a ver em torno de 100 histórias por meio do News Feed. Para fazer o projeto se tornar realidade, explicou, sua equipe de engenheiros está acompanhando de perto o comportamento dos usuários para conhecer o que lhes interessa. Essa confissão se encaixa no polêmico experimento com as sensações.

Ao mesmo tempo, ele quis acalmar os meios de comunicação tradicionais alegando que estes devem vê-lo como um aliado e não como um competidor: “Isso significa que se as empresas compartilham conteúdo que agrada aos usuários, então mostraremos isso. Mas se, pelo contrário, as empresas compartilham conteúdo que não lhes interessa, não o mostraremos, já que provavelmente é mais importante que se inteirem de que o bebê de um amigo é saudável”. Ou seja, dilui-se a fronteira entre o interesse informativo e o pessoal, se põem no mesmo nível ambos os tipos de histórias. Em sua opinião, a qualidade do conteúdo é a chave: “Há muita concorrência e por isso só verão o conteúdo de mais qualidade”.

Zuckerberg corroborou a tendência de que o futuro é em vídeo: “Há cinco anos, a maior parte do conteúdo do Facebook era texto, agora evolui para o vídeo. Cada vez é mais simples gravar e compartilhar”.

“Decisões frívolas”

Apesar da compra do WhatsApp, o Facebook não joga a toalha em relação ao seu próprio Messenger. Em agosto tomou uma decisão polêmica: dividi-lo em dois. Por um lado está a aplicação do Facebook geral, por outro o aplicativo de mensagens. Zuckerberg tratou de se justificar: “É o mais usado. Obrigar as pessoas a instalar uma nova aplicação resultou doloroso no curto prazo, mas se queremos oferecer um bom serviço devíamos tomar esta decisão”. A eficiência é o motivo principal para impulsionar sua escolha: “Não permitimos que as pessoas escolham se querem baixar ou não o aplicativo de mensagens porque seja mais rápido, quem o usa responde as mensagens antes, enquanto que se seus amigos não o usaram responderiam de forma mais lenta e o serviço seria pior para toda a comunidade”.

De Zuckerberg se sabe pouco. Que fala chinês, pela origem de sua mulher Priscilla Chan, e que seu cachorro se chama Beast. Apesar de que em seu trabalho se colocam as vidas a nu, ele prefere contar pouco. Muitas das perguntas, consequentemente, foram de caráter pessoal. Perguntaram-lhe, por exemplo, se ele se via refletido no filme A Rede Social, de David Fincher, de 2010. “Fizeram o filme de forma a contemplar detalhes interessantes, como corrigir o leiaute do escritório, mas na trama geral… inventaram um montão de cosas que achei ofensivas. Creio que a realidade é que escrever um código e construir um produto e uma companhia não é algo tão glamouroso para fazer um filme. É fácil imaginar que tiveram que embelezar ou maquiar muito. Acredito que a realidade se resume a um montão de trabalho duro”.

De fato, ele se considera uma pessoa rotineira. Essa foi sua resposta quando lhe perguntaram por que o Facebook perde parte de seus atrativos: “Minha meta nunca foi fazer o Facebook cool. Eu não sou uma pessoa cool e na verdade nunca tratei de ser cool. Nosso modelo para o Facebook nunca foi fazê-lo particularmente emocionante, apenas fazê-lo útil”. E fez referência à eletricidade: “Os serviços como os que aspiramos ser neste mundo são coisas básicas nas quais você confia”.

Ele se considera tão rotineiro que se veste sempre igual, uma camiseta cinza. “Quero esclarecer que tenho várias delas”, disse em tom de brincadeira, “mas o motivo se deve a que varias pesquisas indicam que tomar decisões pequenas cansa, tais como o que vestir ou o que comer no café da manhã. Não vou desperdiçar minha atenção com decisões frívolas. Sei que soa um pouco bobo, mas é o que fazia Steve Jobs e é o que também faz o presidente Obama”.

Algo lógico, se levarmos em conta suas ocupações. Dirigir uma empresa cujo faturamento no último trimestre superou os 3 bilhões de dólares (cerca de 7,7 bilhões de reais) e conta com mais de 1,3 bilhão de usuários em todo o mundo.

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Rosa Jiménez Cano, do El País, em San Francisco