Sunday, 29 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O fim das organizações?

Em janeiro de 2011, a jovem egípcia Asmaa Mahfouz postou um vídeo na Internet convocando a população a protestar na Praça Tahrir. Esse vídeo “viralizou” e a até então desconhecida Asmaa ficou tão famosa que, no final daquele ano, foi uma das cinco ativistas a ganhar o Prêmio Sakharov para Liberdade de Pensamento do Parlamento Europeu. Em junho de 2013, no Brasil, alguns indivíduos ganharam fama da noite para o dia porque criaram páginas de eventos no Facebook, convocando para protestos que tiveram massiva adesão.

De fato, as novas ferramentas de comunicação oferecidas pela internet têm ampliado muito as possibilidades de ativismo político dos indivíduos. Não é preciso ser filiado a um partido político, participar em um movimento social, ou criar uma ONG. Ainda melhor: não é preciso esperar a vez para falar em intermináveis reuniões e assembleias. Aliás, não precisa nem sair de casa. Basta teclar uma mensagem no seu computador e compartilhá-la com o maior número possível de pessoas.

Essa visão sem dúvida simplista do uso da internet tem sido o foco de muitos debates nos últimos anos, à medida que observamos mais experiências de ciberativismo e ganhamos uma melhor compreensão dos seus impactos. Nesses debates, uma das questões mais discutidas é o futuro das organizações da sociedade civil.

A adaptação à era digital

As organizações da sociedade civil estão em decadência? Parte dos estudos sobre ciberativismo responde que sim: as organizações perdem poder e, ao mesmo tempo, tendem a ganhar força formas de ação coletiva espontâneas e horizontais, promovidas por indivíduos sem filiação e sem trajetória ativista. Os dados sobre o perfil dos manifestantes de 2013 no Brasil parecem apoiar essa visão: a esmagadora maioria dos entrevistados à época dizia não pertencer a nenhum tipo de organização.

No entanto, outra parte da literatura tem sido mais cautelosa. É prematuro anunciar a morte das organizações e é errado associar o empoderamento dos indivíduos a uma inevitável decadência das organizações. Se estas conseguirão ou não sobreviver, depende dos esforços de adaptação que fizerem.

Essa adaptação implica enfrentar pelo menos um desafio importante: o de ampliar as formas possíveis de participação nas organizações. O uso da internet possibilita a incorporação de novas formas de ativismo, a partir de uma flexibilização do que tradicionalmente se entende que significa ser parte de uma organização. Com uma certa dose de criatividade, é possível inovar, misturando formas virtuais e presenciais de exercício da influência dos indivíduos nos rumos das organizações.

Não há uma fórmula única nesse processo de adaptação, mas as organizações que conseguirem enfrentar bem o desafio mencionado tendem a se tornar mais fortes, e não mais fracas. E podem ajudar a transformar toda a incrível energia movimentalista que vemos na Internet em ações coletivas mais sustentadas e eficientes.

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Marisa Von Bülow é doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília