Há um mistério em curso no Vale do Silício, não se fala de outro assunto: por que Andy Rubin deixou o Google? O executivo anunciou a saída na semana passada e o CEO Larry Page publicou a mensagem protocolar de boa sorte nas próximas empreitadas. É só que Rubin não é um executivo qualquer. É pai do Android, o sistema operacional de celulares mais utilizado do mundo. Era, também, responsável por um dos mais ambiciosos projetos da empresa: seu braço de robôs. De repente, sem que houvesse sinais externos de desgaste, Rubin saiu. Em silêncio.
Android leva este nome porque Rubin só pensa em robôs. A pequena empresa que fundou já havia sido adquirida pelo Google e ele tinha um celular pronto nas mãos quando viu o lançamento do iPhone. No livro Dogfight, do jornalista Fred Vogelstein, há detalhes deste período. Ao ver o iPhone, Rubin tascou no lixo o celular que fizera e mandou seus engenheiros de volta à prancheta. Nasceu o Android. Steve Jobs, então CEO da Apple, ficou uma fera. Em uma reunião que tinha por objetivo trazer a paz entre as duas empresas, ambos se confrontaram. “Você é contra inovação”, disse Rubin. Jobs fez pouco do executivo. Disse que “Andy copiava até seu corte de cabelo, seus óculos, seu estilo”.
Andy Rubin era do tipo que enfrentava Steve Jobs cara a cara.
Quando, há um ano, Rubin assumiu a nova divisão de robótica, era um sonho realizado. Tinha o cargo que queria, liberdade, uma equipe invejável de engenheiros e, principalmente, dinheiro. Sob seu comando, o Google foi às compras. Levou para casa algumas das mais relevantes startups fabricantes de robôs que existem. Entre elas, a Boston Dynamics, com alguns dos robôs militares mais assustadores na praça. (Basta dar uma escapada e fuçar, no YouTube, pelo nome da companhia. Ninguém quer encarar uma daquelas máquinas de frente.)
Capacidade técnica
Não era um empreendimento a curto prazo. O projeto mais próximo de realização é o carro que dirige sozinho, que ainda assim demora uns poucos anos até o lançamento. A robótica anda muito avançada e já traz um cheiro de produtos comerciais de fato, como o aspirador de pó Roomba. Mas o pulo do gato – robôs sociais capazes de cuidar de crianças ou idosos – ainda está distante.
Um dos fuxicos no Vale é que Rubin não gostava da ideia de ser contratado pelo Pentágono. O uso militar é uma das aplicações mais óbvias da tecnologia e, nos EUA, onde exército e tecnologia se encontram, sempre há avanços rápidos e dinheiro.
Há outra pista. No último 24 de outubro, o executivo Sudar Pichai foi escolhido por Larry Page para assumir o comando de todos os produtos que levam a marca Google. Entre suas atribuições, ao que parece, não estava o setor de Rubin. Mas Pichai tomou as rédeas das operações principais para deixar Page livre, dedicado aos objetivos mais ambiciosos. Talvez, e apenas talvez, Andy Rubin quisesse uma liberdade que não teria com o patrão acompanhando seu trabalho de perto. Esta é a teoria proposta pelo site The Information.
Rubin já tem projeto: quer construir uma incubadora de empresas que vão desenvolver robôs. Passatempo para ele, afinal, era o sistema de celulares.
Um dia, Steve Jobs o acusou de estar tentando imitá-lo. Talvez fosse verdade. Ele já tem pelo menos um feito no bolso: a criação da maior plataforma de smartphones. Não é pouco. É considerado um dos homens mais talentosos do Vale. Reconhecimento pela capacidade técnica, lá, não é coisa para qualquer um. Se alguém, um dia, for considerado o Steve Jobs dos robôs, este alguém bem pode ser Andy Rubin.
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Pedro Doria, do Globo