Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

É hora de deixar o velho PC de lado

Desde o lançamento do iPad, há quase cinco anos, os especialistas falam sobre a possibilidade de uma existência profissional pós-PC. Mas eu estou de fato vivendo isso: faz seis meses que não toco num computador de mesa e estou mais produtivo do que nunca.

Se você pudesse espiar por cima do meu ombro e ver o dispositivo que estou usando para escrever esta coluna, poderia me chamar de mentiroso. Ao que tudo indica, meu notebook, com sua tela de 13 polegadas, mouse tipo trackpad e teclado, é um PC.

E, ainda assim, o Gartner Group, a empresa mais influente encarregada de definir o que é e o que não é um computador pessoal, declarou que meu Chromebook 2, da Samsung Electronics, não é um PC. O Gartner não inclui as vendas de Chromebooks no seu cálculo trimestral de quantos PCs foram vendidos.

“Nós definimos um PC como um dispositivo que é capaz tanto de consumir como de criar conteúdo, sem levar em conta o fator forma”, diz Mikako Kitagawa, analista sênior do Gartner para PCs.

Pelo jeito, parece que eu não sou um criador de conteúdo.

O Chromebook é a resposta do Google aos computadores Windows e Mac. Os críticos do setor que só usam um Chromebook quando são pagos para fazer uma resenha do dispositivo muitas vezes os julgam mais limitados que um PC tradicional. Mas os que usam regularmente um Chromebook em geral notam que conseguem fazer com ele praticamente tudo que o usuário típico de um PC precisa fazer.

Para ser justo com o Gartner, muitos Chromebooks têm os mesmos componentes internos de um smartphone; assim, pelo menos no papel, parecem ter pouca potência. O Chromebook 2, da Samsung, tem o mesmo processador, a mesma capacidade de memória e até o mesmo número de pixels da tela do principal smartphone da Samsung, o Galaxy S5. A única razão pela qual o Chromebook 2 funciona como um PC é porque o sistema operacional Chrome, do Google, é incrivelmente leve – ocupa menos espaço e exige menos do hardware.

Mudança de hábitos

Não é que eu queira promover os Chromebooks. Acontece que o Google está na vanguarda da criação de PCs que funcionam como smartphones: leves, portáteis, sempre ligados, sempre conectados e dependendo da computação em nuvem para fazer o trabalho pesado. É bem óbvio que, num futuro não muito distante, a Apple e a Microsoft vão libertar da mesma maneira seus fãs do PC.

O diretor-presidente da Apple, Tim Cook, disse que faz 80% de seu trabalho num iPad. Aposto que faria 100% se o iPad possuísse os recursos que permitem criar conteúdo, não apenas consumi-lo: capacidade real de multitarefa e de alternância rápida entre aplicativos, além de uma tela maior. Mas há indícios de que um aparelho maior, o chamado iPad Pro, está chegando. E aposto que a Apple finalmente vai nos dar uma versão do seu sistema operacional móvel que vai transformar o iPad num verdadeiro substituto para os notebooks, inclusive os fabricados pela própria Apple.

E há também o Surface Pro 3, da Microsoft, que é um PC completo em forma de tablet, um dos muitos notebooks dois-em-um que os fabricantes de PCs vêm lançando ultimamente. Desde a capacidade de processamento desses híbridos até o teclado destacável, que se conecta magneticamente à tela com um clique, esses aparelhos são projetados, sem dúvida, para trabalhar de verdade.

No entanto, se eu fosse um usuário do Surface Pro, mesmo assim não estaria usando um PC, segundo o IDC, principal concorrente do Gartner, no cálculo de quantos PCs são vendidos a cada ano. Mas o Gartner considera o Surface Pro um PC. De acordo com Jay Chou, analista sênior do IDC para PCs, a empresa não considera nenhum dispositivo com teclado destacável um PC. Sua empresa classifica os Chromebooks como PCs, embora o SurfacePro 3 tenha muito mais potência do que a maioria dos Chromebooks.

O fato de que o Gartner e o IDC sequer concordam quanto à definição do que seja um PC mostra bem como é estranha a época em que vivemos.

Essas delimitações são ridículas do ponto de vista do usuário final. Isso porque a maioria de nós está se entretendo e também trabalhando no único lugar que todos esses dispositivos, sem exceção, podem acessar: a nuvem.

A menos que você esteja editando vídeo, construindo modelos em 3-D, jogando jogos elaborados ou seja dependente de antigos programas que são um legado do Windows e que sua empresa ainda não transferiu para a nuvem, você não precisa mais de um PC, estritamente falando.

Pessoalmente, eu gastaria meu orçamento de tecnologia na única coisa que realmente não posso dispensar: meu smartphone.

Em suma, para mim o PC acabou – pelo menos na sua definição convencional. E creio que muitos dos sofridos usuários de PC diriam o mesmo se não fossem tão acostumados a pensar sobre computadores do mesmo modo há décadas. Criar novas tecnologias é fácil; difícil é mudar os hábitos dos usuários.

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Christopher Mims, do Wall Street Journal