Susan Crawford, 51, é professora em Harvard, bonita e responsável por algumas das ideias mais influentes no debate público dos EUA. Foi assessora de Barack Obama para Ciência, Tecnologia e Inovação e conselheira do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Há quem veja nela um futuro político brilhante, construído a partir de sua afiada visão sobre o papel da tecnologia para a gestão pública.
Prova disso é o livro que ela acaba de lançar, Responsive City: Engaging Communities Through Data Smart Governance (A Cidade Responsiva: Engajando Comunidades por meio de Governança Inteligente baseada em Dados), escrito em coautoria com Stephen Goldsmith.
Nele, Susan traça um verdadeiro caminho das pedras para o administrador público que deseja dar um salto qualitativo. O mapa para isso é o uso inteligente de dados: construir políticas públicas que respondam de forma direta a informações geradas a partir da própria cidade.
A premissa do livro é que as cidades serão cada vez mais cobertas por telas e sensores. Cada smartphone que carregamos anda pela cidade coletando dados. Graças a esses sensores ambulantes, é possível criar aplicativos para monitorar o trânsito, por exemplo. E isso é só o começo. Os sensores vão se espalhar ainda mais, coletando cada vez mais dados. Estar preparado para isso é um dos principais desafios do gestor público contemporâneo.
Visão positiva
Sobre isso, um dos argumentos do livro é mostrar como esses avanços dependem de “heróis”: gestores públicos que por vocação pessoal conseguem articular o grande arsenal de ferramentas hoje disponíveis (muitas delas gratuitas e abertas) e traduzi-las em ações concretas dentro do serviço público. Ela identificou que esses “heróis” foram essenciais em Chicago, Boston e Nova York, cidades estudadas no livro.
Mas Susan não é ingênua. Sabe que essas tecnologias são solução, mas podem ser problema. Os mesmos sensores que melhoram a vida na cidade podem ser usados em países autoritários como ferramenta de controle. Por isso, só a tecnologia não basta: é preciso ter leis que garantam direitos fundamentais, impedindo o surgimento do “panóptico” descrito por Jeremy Bentham.
Outra crítica que ela menciona vem da antropologia. O termo smart poderia ser interpretado como acrônimo de: Simplista, Mecanicista, Anti-histórico, Reducionista e Tautológico. Ou seja, a governança baseada em dados não dá conta de toda a complexidade das cidades, incluindo sua dimensão política e histórica. Outro problema é as cidades que embarcam nessa onda tornarem-se reféns do chamado “complexo industrial da inteligência urbana”, termo cunhado pelo arquiteto Dan Hill para se referir à IBM, à Cisco, à GE, à Siemens e à SAP.
Mas Susan não se deixa abater. Sua visão sobre essas tecnologias é claramente positiva. Ela sabe que sem elas a gestão pública não dá conta da crescente complexidade urbana em que vivemos.
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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro