Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Democracia versus intolerância

A ampliação de acesso a smartphones e tablets com rede de internet móvel levou a população a usar, cada vez mais, as redes sociais para expor ideias, argumentos, sentimentos, desabafos. Essa atuação na rede, embora democrática, preocupa pela exposição de fatos, na maioria das vezes, intolerantes. A mediação e a promoção a um debate democrático na sociedade levou o Ministério da Justiça, na página oficial da rede social Facebook, a tratar, nos últimos dois meses, de temas de interesse público: família, liberdade de expressão e ação contra o preconceito.

Esses temas foram explorados em quatro posts com uma tendência contra o discurso do ódio. Foram, no total, cerca de 300 mil compartilhamentos, pouco mais de 23 milhões de alcance e 100 curtidas. Entre todo esse alcance percebeu-se um elevado numero de comentários com teor de agressividade e intolerância. E por que as redes sociais se tornaram a vitrine dessa exposição?

Uma das referências exploradas pela pesquisadora Raquel Recuero sobre o tema diz respeito a contexto. Diz a autora que “há normas de contexto que governam as interações” e que “isso significa que há coisas que podem ser ditas em determinados contextos, mas em outros não”. E segue na reflexão de que piadas sexistas, por exemplo, que podem ser contadas livremente em happy hour com amigos, sejam inapropriadas no ambiente de trabalho, por exemplo. A questão é que nas redes sociais não há especificidade sobre essa ordem de discurso. E, geralmente, o individuo que se sente ofendido ideologicamente, parte para a agressão verbal ao invés de debater democraticamente.

Combate à intolerância e ao preconceito

Sobre o post “Família é tudo igual, só muda o endereço”, o Ministério da Justiça trabalhou com imagens de diversas famílias inseridas na nossa sociedade. Embora amplamente apoiados, os comentários intolerantes refletiram frases como “isso é um absurdo”, “não sou obrigado a aceitar isso” e “família pode ser homem e mulher”.

Em outro post sobre “Não confunda liberdade de expressão com discurso do ódio”, as manifestações foram das mais diversas, como “todos os dias vocês ofendem os cristãos” e “defendo interesses da família (homens e mulheres) e não vou deixar influenciar meus filhos”.

Há uma tendência de que nas redes sociais as manifestações – de certa forma consideradas agressivas e/ou intolerantes – são aceitáveis por serem expostas no perfil particular, sem levar em consideração a imersão posta dentro da esfera pública. Esta semana, em especial, o governo federal, por meio da Secretaria de Direitos Humanos, lançou ferramenta para monitorar crimes de ódio pela internet e identificar os responsáveis. O software, desenvolvido sob a coordenação do professor Fábio Malini, é programado para coletar dados e identificar redes que se reúnem para proferir ofensas a determinados grupos de pessoas, como mulheres, negros e nordestinos.

É, talvez, o primeiro passo para procurar entender como esses discursos de intolerância refletem as ações na sociedade para ter capacidade de desenvolver políticas públicas nas redes sociais de combate à intolerância e ao preconceito.

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Bárbara Lobato é especialista em Comunicação e Multimídia pela PUC-GO