Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nós e os nossos ‘smartphones’

Se alguém oferecesse US$ 500 a você para ficar uma semana sem celular, você aceitaria? Confesso que, diante dessa pergunta, me veio uma dúvida cruel: US$ 500 são de fato muito dinheiro, ainda mais agora, com as verdinhas a três reais, mas uma semana sem celular significa, para mim, uma semana sem contato com a parte mais jovem da família, que se comunica preferencialmente pelo WhatsApp; uma semana sem despertador; uma semana de notícias lidas no computador, o que implica uma imobilidade da qual já desacostumei; uma semana sem o aplicativo de dieta em que registro todas as minhas refeições, e que já me ajudou a perder nove quilos; uma semana sem mapas de trânsito e sem aplicativos de táxi, essenciais para quem, como eu, não tem carro; uma semana, enfim, sem telefone, porque vários amigos já nem se lembram que tenho um número fixo. Talvez por isso 13% dos americanos entrevistados pela B2X tenham sido categóricos, cravando um “Não” na resposta.

A B2X é uma empresa alemã que desenvolve aplicativos e soluções que permitem aos consumidores identificar, relatar e consertar problemas nos seus aparelhos. Se você nunca ouviu falar nela, é porque seus produtos não são feitos para usuários finais, mas sim para fabricantes e operadoras. Ela realiza pesquisas constantes a respeito do relacionamento das pessoas com seus celulares porque isso é matéria-prima para o seu trabalho – e, com isso, acaba descobrindo coisas interessantíssimas.

Junto ao celular

A melhor descoberta de cunho prático que a B2X apontou na pesquisa divulgada na semana passada foi que o apoio ao consumidor e o serviço pós-venda são fatores determinantes para a escolha de um smartphone, seguidos de perto pela imagem da marca. Mas isso, eu arriscaria dizer, nós já sabíamos. Afinal, quantas vezes não ouvimos de amigos que deixaram de comprar um aparelho por causa da sua péssima assistência técnica? A pesquisa também indicou os principais motivos que levam os celulares para o conserto: problemas de software, telas quebradas e baterias defeituosas. Já o suporte técnico é acionado sobretudo para a transferência de dados entre aparelhos antigos e novos.

Mas as melhores revelações são, como sempre, os fatos inusitados. Além daqueles 13% de americanos que não ficariam sem os seus smartphones nem por muito dinheiro, ficamos sabendo que nada menos de 57% dos indianos não saberiam viver sem os seus celulares. Já 58% dos alemães, que entre as nacionalidades pesquisadas são os menos dependentes dos seus aparelhos, reconhecem, ainda assim, que os mantêm ao alcance da mão 24 horas por dia. Os chineses são os que mais gastam em celulares: os aparelhos comprados por 75% deles custam mais de US$ 250, sendo que 80% do universo pesquisado têm dois ou mais aparelhos, que costumam trocar com menos de um ano de uso. Já nós, brasileiros, somos os mais viciados – 63% dos nossos conterrâneos entrevistados afirmaram passar três horas ou mais por dia ao smartphone.

Mas tem mais, vejam só: um em cada três indianos, e um em cada dois chineses, abririam mão da televisão, durante uma semana, para não ficar sem o seu smartphone (embora eu não saiba se isso não diz mais sobre a programação televisiva desses países do que sobre os hábitos dos seus habitantes); um em cada seis alemães abriria mão do carro; um em sete americanos passaria uma semana sem o melhor amigo em troca do smartphone. E – pasmem! – um em cada seis brasileiros preferiria passar uma semana longe do marido ou da mulher a ficar uma semana longe do celular.

Não é à toa que tem tanta gente se separando por aí…

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Cora Rónai, do Globo