Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crescendo fora da curva

O mercado de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil se descolou do cenário macroeconômico nacional. O setor segue em franca trajetória de crescimento e deve fechar o ano com uma elevação de 9,2%, segundo levantamento da consultoria IDC. Essa expansão significa um desempenho 1150% maior do que o crescimento previsto para o PIB, de 0,8% segundo o Banco Central. Ritmo de desenvolvimento que oferece oportunidades e ganha ainda mais relevância dado o momento sensível da economia.

O fato é que o Brasil já se consolidou entre os principais players do mundo neste segmento. Sozinho, responde por 46% de todo o mercado de tecnologia na América Latina. Os investimentos têm se concentrado especialmente em computação em nuvem, Big Data e mobilidade ­ smartphones, principalmente. Para 2015, o setor deve seguir apresentando uma performance, digamos, fora da curva. Só o mercado de infraestrutura, por exemplo, deve movimentar US$ 429 milhões, um salto de quase 50%.

É bem verdade que esse desempenho em 2014 esteve abaixo da expansão verificada em 2013, de 15,4%. Mas essa variação é até certo ponto esperada, uma vez que a base de comparação é maior ano a ano. Alguns fatores explicam esse desenvolvimento acentuado do setor. O primeiro deles é a cada vez mais acelerada adoção de tecnologia por pequenas e médias empresas. Ganho de competitividade e redução de custos operacionais são os principais motivos que têm levado as PMEs a investirem em tecnologia. Estudos, aliás, já comprovaram que a inovação tecnológica é fator decisivo para o crescimento dos negócios. De acordo com uma pesquisa global da Boston Consulting Group (BCG) as pequenas e médias empresas que investiram em TI aumentaram, em média, sua receita anual em 16% entre 2010 e 2012.

Profissão promissora

A Microsoft tem um bom termômetro para medir esse fenômeno: no último ano fiscal, encerrado agora em junho, o crescimento desse segmento nos negócios da empresa foi de 40%. Vale lembrar que 80% das companhias no Brasil se encaixam neste perfil, o que reforça o potencial desse mercado para o desenvolvimento da TI no país.

Outra razão que pode ser apontada é o amadurecimento do mercado brasileiro de computação em nuvem. Esse mercado deve atingir uma receita de cerca de US$ 800 milhões em 2015 e crescer pelo menos 50% nos próximos três anos. Isso porque tem aumentado exponencialmente o número de empresas nacionais que optam pelo acesso remoto a arquivos, programas e serviços na nuvem como forma de reduzir os custos de processamento, armazenamento e transporte de dados, eliminando, assim, as despesas com aquisição de infraestrutura tecnológica.

Esse crescimento, por outro lado, também traz desafios a serem superados. O principal deles é a capacitação da mão de obra. De acordo com dados também do IDC, no próximo ano cerca de 117 mil vagas de emprego ficarão em aberto por conta da falta de profissionais qualificados para preenche­las. Somente nas áreas como rede essencial, segurança, telefonia IP e redes sem fio 23,6 mil vagas poderão deixar de serem preenchidas. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), os salários oferecidos para essas vagas giram em torno de R$ 5 mil a R$ 15 mil. Trata­se, portanto, de uma faixa salarial muito acima da média de rendimento do trabalhador brasileiro ­ de pouco mais de R$ 2 mil, de acordo com o IBGE. A situação vivida no Brasil, no entanto, reflete uma realidade da América Latina como um todo. Estima­se que a procura por profissionais nessa região deve superar a disponibilidade de mão de obra em 27%.

Inegavelmente, investir em tecnologia permite vantagem competitiva às organizações, mas o fator humano é essencial para que isso funcione de verdade. É imperativo que se multiplique o número de pessoas realmente preparadas para operar os sistemas e que sejam capazes de desenvolver novas soluções. No Brasil, no entanto, temos verificado um desencontro entre a oferta de emprego e o número de profissionais capazes de atender esta demanda. As 117 mil vagas em aberto, sem preenchimento por falta de mão de obra qualificada, são o retrato acabado deste desencontro.

Nesse sentido, é fundamental que o compromisso com a qualificação seja levado também para dentro das empresas. Desta forma, as companhias conseguiriam contribuir diretamente para tornar o mercado brasileiro mais competitivo.

Há quem possa alegar que um crescimento de quase 10% ao ano torna menos importante a questão da qualificação dos profissionais. É justamente o oposto. Para crescer com este vigor, é preciso aumentar a base dos profissionais que possam dar conta deste movimento e que consigam perceber as rápidas mudanças que se sucedem no setor. Sem profissionais qualificados, a tendência, de acordo com a lei da oferta e procura, é o encarecimento desta mão de obra e, em decorrência, de toda a operação. No médio e longo prazo, isto se traduz em crescimento menor.

É preciso, portanto, um esforço articulado entre Estado, instituições privadas de ensino e empresas. Dessa maneira, será possível realmente prover os meios para que os milhares de jovens interessados em tecnologia possam aprender com qualidade e trabalhar em uma profissão que desponta hoje entre as mais promissoras do futuro. Se isto acontecer, ganham os jovens, ganha o mercado de TI e a economia nacional, ganha o Brasil.

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Mariano de Beer é presidente da Microsoft Brasil