Este ano que entra, 2015, será diferente dos outros para a tecnologia. Será um ano de dúvidas, não de definições. É certo que a internet anda a passos largos para abandonar o computador. Ela se tornará mais móvel, carregada conosco para onde quer que a gente vá. E se tornará mais utilitária, dentro de casa, ligada à TV, ao som, ao termostato, talvez à geladeira. O que não está claro é que tipos de aparelhos realmente vamos usar.
Os números dão pistas. O iPad chegou ao mercado quatro anos atrás, em 2010. Foi um arraso. Em 2011, ganhou seus primeiros concorrentes Android mais sólidos. Segundo uma estimativa da Gartner, 229 milhões de tablets foram vendidos em 2014. É um número 11% maior do que o de unidades vendidas em 2013. Mas, em 2013, o crescimento havia sido 55% maior do que no ano anterior. Para comparar: o número de smartphones vendidos em 2014 deve chegar a 1,2 bilhão de unidades.
O mercado de tablets não está diminuindo, mas há um freio evidente em suas vendas. Por quê?
As estatísticas enganam. Porque, entre 2010 e o ano passado, um novo personagem apareceu no mercado. Seu apelido é phablet. É um celular, maior do que o celular comum, ainda que menor do que o tablet.
São novamente os números que dão pistas para compreender. Em 2010, a Apple oferecia dois tamanhos de telas móveis. Um celular com 3,5 polegadas e um tablet de 9,7 polegadas. Agora que 2014 chega ao fim, em cada Apple Store o cliente pode escolher entre cinco tamanhos distintos. Celulares de 4, 4,7 e 5,5 polegadas, além de tablets de 7,9 e 9,7 polegadas. Se formos ao mundo Android, a variedade possível será muito maior.
Movimento lento
A Apple não é uma empresa que, tradicionalmente, goste de oferecer escolhas. Ela o faz porque o consumidor ainda está experimentando. Os hábitos ainda não estão consolidados. A utilidade de uma tela grande e portátil, como a dos tablets, é evidente. A portabilidade dos celulares, mais ainda. Mas o que é mais conveniente para o cotidiano e para o bolso? Um celular grande? Ou um celular menor somado a um tablet?
Na periferia desta decisão que definirá o perfil da internet portátil estão os e-readers, aparelhos dedicados para a leitura de livros eletrônicos como o Kindle, da Amazon. Eles permitem uma leitura muito mais agradável do que a tela brilhante dos tablets. E, no entanto, sua venda vem diminuindo ano a ano. No mesmo passo, a venda de e-books sobe. As pessoas leem até no celular. Um e-reader é um aparelho com função muito particular. Serve para ler e só. Além disso, sua tecnologia não se desenvolve muito. Não há motivos para trocar de modelo a cada dois anos. Quem o usa, porém, não o abandona.
O aparelho de internet portátil que já se consolidou, e isso não mudará nos próximos anos, é mesmo o smartphone. Ao seu redor brotará uma gama de aparelhos voltados para nichos mais gerais, como o tablet, e mais específicos, como e-readers, consoles de videogames, relógios, óculos e tantos outros. Serão mercados maiores e menores.
É impossível dizer quais vão se consolidar e esta resposta não sairá de 2015, mas o ano que vem talvez permita que façamos previsões com mais segurança. Depende menos da indústria e mais de como o consumidor se adaptará. Do que vai escolher. Daquilo que vai ver os amigos usando. De como se adaptará ao formar novos hábitos.
Dentro de casa, na internet fixa, este movimento vai ser ainda mais lento. A única vítima certa é o computador caseiro. Este, sim, será fatalmente condenado ao mercado de nicho.
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Pedro Doria, do Globo